sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Desemprego: a incerteza continua?

Desde setembro de 2002 que não era observada uma taxa de desemprego tão baixa como as de junho e julho de 2018 (6,8%). A fim de entender melhor esta constatação, basta olharmos para, por exemplo, o ano de 2013, no qual o nosso país se encontrava mergulhado em plena crise financeira, em que o valor desta taxa atingiu os 17,7% nos primeiros três meses desse ano. Perante estes dados divulgados pelo INE, somos constantemente incitados, quer a nível político quer pelos media, a aumentar a nossa confiança na empregabilidade no nosso país e, consequentemente, na economia portuguesa. Possíveis causas para esta redução poderão ser o crescimento do emprego na indústria transformadora (+10,2%) entre 2013 e 2016 e o emprego no turismo, que cresceu 17,2%, se compararmos 2013 com o segundo trimestre de 2017. Posto isto, os serviços são o setor com maior aumento de emprego, destacando-se a área da logística, atividades de informação e comunicação, atividades financeiras, de seguros e imobiliárias, que contribuíram muito para aumentar os postos de trabalho.
Todavia, há uma série de problemas associados a estes números que são “varridos para debaixo do tapete”, os quais mereciam um destaque considerável, como a diminuição da população ativa, 0,1% no mês de julho de 2018 em comparação com o anterior, possivelmente causada pela idade da reforma, emigração, saída do mercado de trabalho para voltar a estudar ou de indivíduos terem ficado desencorajados de procurar emprego depois de não o conseguirem. Outros problemas a somar a estes são o desemprego jovem e a precarização das relações laborais.
Será que os jovens continuam com incerteza quanto ao seu futuro no mercado de trabalho? A meu ver, a incerteza continua bem presente para os jovens, uma vez que o desemprego jovem atinge ainda valores muito elevados, tendo-se registado o valor de 18,6% em julho de 2018, e as estimativas apontam para um aumento de 0,6% em agosto de 2018. No ano de 2013, o desemprego jovem chegou a atingir valores alarmantes: qualquer coisa como 42,1% no primeiro trimestre do ano. O que significa o desemprego jovem? Nada mais nada menos que a “falta de futuro para quem representa o futuro” do nosso país. Este problema existe e deve ser relembrado. “Em janeiro, tínhamos a terceira taxa mais elevada da União Europeia, só ultrapassados por Espanha e Itália, e estávamos muito acima da média europeia”. As causas que são apontadas para este problema são várias, podendo ser destacadas a desadequação entre a formação e as necessidades do mercado e a exigência de experiência profissional a quem, por motivos óbvios, não a possui.
Associado a estas questões vem juntar-se a precaridade no mercado de trabalho, que afeta em grande medida a população mais jovem, acarretando diversas dificuldades no acesso ao crédito para comprar casa, bem como tendo implicações em decisões como ter filhos e comprar carro. “Contratos a prazo são desemprego a prazo”.  Atualmente, quando se atinge o tempo limite de renovação de um contrato a prazo, a empresa é posta no dilema de contratar com um contrato permanente ou mandar a pessoa embora. Desta forma, é urgente arranjar uma solução para suavizar este dilema que representa um grave problema na atualidade no nosso país.
Perante isto, embora a taxa de desemprego tenha sofrido uma redução muito positiva para a economia portuguesa, esta veio acompanhada de um empobrecimento, de um aumento de não assalariados, de trabalhadores independentes, de pessoas com salários mais baixos, e os efeitos vão sentir-se.

Ana Cláudia da Silva Pereira

Bibliografia:
·        INE (Destaque das estimativas mensais de emprego e desemprego de agosto de 2018, publicado a 28 de setembro de 2018)
·        Jornal Público
·        Diário de Notícias

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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