quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Envelhecimento… e a saúde?

Foi publicado, recentemente, pelo INE um destaque que se refere à esperança média de vida (EMV) dos portugueses. Este afirma que a EMV à nascença, em Portugal, foi estimada em 80,78 anos para o total da população Registou-se um crescimento em todas as regiões entre 2008-2010 e 2015-2017, apesar de esta apresentar valores superiores aos nacionais nas regiões Norte, Centro e Área Metropolitana de Lisboa. Refiro ainda que Portugal é considerado o sexto país mais envelhecido do mundo, não só pelo facto da idade média de vida estar a aumentar como também pela diminuição da população jovem, consequência da quebra da natalidade visível nos últimos anos. Perante este conjunto de informações, surgem, a meu ver, questões pertinentes: Qual o impacto sobre o setor da saúde? Afinal, será este tempo de vida crescente de qualidade?
Maiores de 70 anos são afetados trinta vezes mais do que pessoas até aos dezassete anos com dores de costas. Doenças como diabetes e hipertensão apresentam relações ainda mais díspares entre jovens e idosos. Estes exemplos demonstram, facilmente, que à medida que a idade avança maior é a necessidade de recorrer a serviços de saúde, sendo estes, muitas das vezes, os mais dispendiosos. É, igualmente, conhecido que os últimos dois anos de vida são aqueles em que mais se gasta em despesas com saúde.
Nos últimos 50 anos, as despesas com saúde cresceram mais de 2 pontos percentuais acima do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em todos os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Portugal não é exceção: a despesa corrente em cuidados de saúde em percentagem do PIB tem apresentado valores cada vez mais elevados, sendo que no ano 2000 apresentava uma percentagem de 8,4 e em 2015, rapidamente passou para 9,0%. Mais recentemente, em 2017, a despesa corrente em saúde aumentou 3,0% em termos nominais. No entanto, este valor é inferior ao do ritmo de crescimento do PIB (+4,1%)
Apesar do crescente registo da despesa neste setor, verificam-se ainda muitas desigualdades regionais e sociais para quem tem acesso aos cuidados de saúde. Existe uma falta de sensibilidade regional pois a maioria dos locais que fornecem serviços de saúde estão centralizados. O que talvez seja a causa para uma EMV maior nas regiões Norte, Centro e Área Metropolitana de Lisboa, como supramencionado.
A nível social, no relatório de Primavera, em 2016, foi referido pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde que os riscos de adoecer aumentam exponencialmente com os baixos rendimentos ou nos idosos, querendo isto dizer que os “mais pobres são os mais doentes e os mais doentes os mais pobres“.
A adicionar ao baixo rendimento, existe também o fator da baixa escolaridade, que agrava igualmente a possibilidade de um pior nível de saúde. Foi indicado pelo Inquérito Nacional de Saúde, em 2014, que os portugueses sem formação apresentavam um “risco de não serem saudáveis seis vezes superior em comparação com as pessoas com mais educação (ensino secundário ou mais)”.
Perante este cenário, concluo que uma população com melhores níveis de educação poderá ter efeitos positivos sobre o setor da saúde, diminuindo as disparidades observáveis. Uma aposta crescente na educação influenciará o comportamento que as pessoas adotam perante a sua própria saúde, o que possibilitará uma diminuição das despesas no futuro. Trata-se de uma aposta na consciencialização de toda a população com o intuito de consolidar uma série de conhecimentos que atualmente apenas chegam a uma percentagem da população. É, igualmente, evidente que existe a necessidade de expandir a rede de acesso à saúde a nível regional. Apenas dessa forma a população poderá ter um acesso geográfico equitativo a instalações de saúde.
Em relação à despesa corrente privada e pública, entre 2015 e 2017, a pública cresceu mais do que a privada, o que reforça a sua importância visível no financiamento do sistema de saúde português. Apresenta valores de 66,2% em 2015, 66,4% em 2016 e 66,6% em 2017.
Para concluir, acrescento uma opinião referente à idade da reforma, pois sinto que o setor da saúde irá funcionar mais eficazmente e, efetivamente, melhorar a qualidade de vida das pessoas à medida que o tempo passa. Penso que não deveria existir uma idade fixa para entrar na reforma uma vez que existem pessoas que ainda se sentem capazes de continuar o seu trabalho após a mesma, a par que outras não sentem a mesmo, ainda que não a tenham atingido. É necessário reformular qual o momento ideal para um indivíduo entrar na reforma pois este depende de quais as suas limitações físicas e mentais, e até mesmo do tipo de emprego que pratica.

Margarida Natal Mendes

Bibliografia:
INE
“Envelhecimento e Políticas de Saúde”, de Teresa Rodrigues.

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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