segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Portugal não é um país para jovens

De acordo com os dados revelados recentemente pelo Eurostat, Portugal está entre os países europeus que registaram um maior recuo homólogo na taxa de desemprego: de 8,8% em agosto de 2017 para 6,8% em agosto de 2018. No contexto europeu, o desemprego também diminuiu para 6,8%, face aos 7,5% verificados em agosto de 2017.
Felizmente, Portugal parece estar no caminho certo para a recuperação dos tempos da crise e os partidos apoiantes do governo não deixam de exibir o gráfico da taxa de desemprego, que mostra valores a tocar os mínimos de 2002, de modo a mostrar que tiraram o país da austeridade e da depressão. No entanto, o que ninguém quer mostrar e discutir é o desemprego jovem em Portugal, que continua a ser uma das maiores falhas do sistema português.
Apesar da taxa de desemprego jovem ter registado uma variação homóloga favorável para Portugal, nomeadamente de 24,7% em agosto de 2017 para 19,5% em agosto deste ano, o desemprego jovem do mercado de trabalho português continua a ser um dos mais elevados da União Europeia, ultrapassado apenas pela França, Espanha, Itália, Grécia e Croácia.
As causas deste mal crónico são várias. A concorrência de países produtores de bens a baixo custo, ou seja, o aparecimento de mão de obra barata, nomeadamente na China e na Índia, têm conduzido à deslocalização de algumas unidades industriais para esses mercados, considerados mais atrativos - não é assim de estranhar que frequentemente se aponte a globalização como uma das principais causas do aumento do desemprego. A introdução de novas tecnologias, por meio da globalização, uma vez que a utilização de máquinas e procedimentos mais rápidos veio substituir a força humana, retirando vários postos de trabalho. A inadequação entre as necessidades das empresas e o nível de habilitações dos trabalhadores, uma vez que os jovens não possuem formação adequada para fazer face às exigências do mercado do trabalho, que se encontra em constante evolução e transformação. Por outro lado, nas contratações, as empresas dão enorme importância à experiência. Contudo, os jovens que entram no mercado de trabalho, por razões óbvias, possuem pouca ou nenhuma experiência.
Para fazer frente à grave situação do desemprego jovem em Portugal, em 2014 foi criado o programa Garantia Jovem (uma extensão do programa Impulso Jovem), que visava a criação de emprego e o combate à marginalização e exclusão de jovens desempregados em Portugal. Este plano assenta em quatro pilares: estágios profissionais (remunerados); apoios à contratação (reembolso da Taxa Social Única); apoios ao empreendedorismo e formação. De facto, este programa mostrou resultados positivos, como se pode comprovar pela redução da taxa de desemprego jovem desde então. No entanto, quando há emprego, há outro problema que subsiste: os salários baixos. Os salários baixos praticados em Portugal, aliados ao desemprego, levam muitos jovens a emigrar, outro problema que Portugal tem enfrentado nos últimos anos. Para combater esta falha, o governo português anunciou que o Orçamento de Estado para 2019 terá fortes incentivos para estimular o regresso a Portugal de quem emigrou nos “momentos dramáticos” de 2011 a 2015, Serão esde benefícios fiscais a deduções dos custos de regresso.
Na minha opinião, apesar desta medida ser benéfica para Portugal, o Governo português está a ter um comportamento reativo, quando deveria ser proativo. Este, primeiramente, deveria perceber porque é que os jovens emigram e tomar medidas de forma a evitar que tenham a necessidade de o fazer. Deste modo, em vez de esperar pelas consequências para atuar, deverá agir de forma a evitar as consequências. Por outro lado, deve adotar mais medidas de apoio ao desemprego jovem, porque as existentes, embora tenham apresentado resultados positivos, não são suficientes para colmatar este problema que afeta Portugal em tão grande escala.

Diana Andreia Lourenço Lopes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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