A descoberta do
Universo foi sempre um dos maiores objetivos do Ser Humano. Na atualidade,
assistimos a uma cooperação internacional entre várias agências (Agência
Espacial Europeia-ESA, NASA…) que, juntas, pretendem continuar a conquista do
Espaço. Os avanços nos planos científico-tecnológicos são notórios e a nível
económico começa a assistir-se à intensificação de uma nova indústria.
Portugal aderiu à
ESA no ano de 2000 e já é considerado um caso de sucesso pela sua rápida
adaptação e integração nos programas espaciais desenvolvidos. A ambição
portuguesa relativamente a estes projetos tem vindo a acentuar-se, pela mais-valia
que esta indústria poderá representar futuramente nas sociedades desenvolvidas.
Um estudo da Fundação para a Ciência e Tecnologia revelou que o investimento neste setor teve, na última década, um retorno económico
superior a 120%, ou seja, por cada euro investido
nos programas espaciais da ESA foram devolvidos, à economia nacional, mais de
dois euros. Segundo dados do INE, em 2017, as exportações
de produtos de alta tecnologia atingiram 2 502 milhões de euros, representando
4,5% das exportações totais. Deste montante, 8% foram relativos à indústria
aeroespacial e prevê-se uma trajetória de crescimento.
Portugal poderá
assumir um papel importante no setor do New
Space, com a instalação de um centro de lançamento de satélites nos Açores.
Devido à sua localização atlântica, perfeitamente situado entre a Europa e o
continente americano, este arquipélago está na posição ideal para a construção
de uma infraestrutura espacial onde poderão ser lançados, observados e
monitorizados satélites.
Neste sentido, foi
aprovado no passado mês de fevereiro o relatório “Estratégia Portugal Espaço
2030”. Este documento, em colaboração com a ESA e a Comissão
Europeia, assenta em 3 eixos estratégicos: a exploração de dados espaciais
promovendo novos mercados; o desenvolvimento e construção de infraestruturas
espaciais, com especial foco nos mini, micro e nano satélites; e o incentivo à
investigação e inovação tecnológica.
Sendo certo que os
Açores se situam na posição geoestratégica perfeita para este porto espacial, a
questão que se coloca é se fazemos os esforços necessários para serem as
empresas nacionais a construí-lo, ou simplesmente deixamos ao encargo de
entidades estrangeiras. Perante isto, considero que o governo está a tomar a
decisão certa ao assumir esta responsabilidade.
Segundo o ministro
da ciência, tecnologia e ensino superior, Manuel Heitor, é necessário desenvolver
a capacidade científica para garantir a criação e sustentação dessa
infraestrutura, contribuindo para a melhoria do tecido empresarial português e o
desenvolvimento da região. Por isso, é essencial atrair investimento direto
estrangeiro, o que não será difícil pois estamos perante um projeto bastante
aliciante e promissor.
Esta área de
negócios tem a vantagem de permitir que uma grande diversidade de empresas e
centros de investigação trabalhem em conjunto, podendo obter resultados muito
positivos para a nossa economia. Nesta
vertente, Portugal parece estar à altura do desafio pois já existem várias empresas ligadas a este setor e que têm obtido reconhecimento
internacional. Gostaria de dar o exemplo de algumas
empresas nacionais que têm alcançado excelentes resultados.
A Efacec, criada no início do século passado, tem vindo a adaptar-se
às necessidades do mercado e, muito recentemente, colaborou com a ESA na
produção de uma sonda, completamente Made
in Portugal, que servirá para estudar o planeta Mercúrio. Esta empresa
apresentou um lucro de 7,5 milhões em 2017, emprega 2000 pessoas e tem o
objetivo de recrutar mais 700 até 2020.
A Deimos Engenharia, empresa com
sede em Lisboa, tem-se tornado uma referência no setor espacial europeu, tendo
já liderado vários projetos na área de aplicações no Espaço, com o apoio da
ESA. Já fatura mais de 4 milhões por ano e refere que o seu maior desafio é
encontrar as pessoas qualificadas para esta área.
A Critical Software, empresa
fundada em Coimbra, emprega mais de 600 pessoas, e já elaborou projetos para a
NASA. Está atualmente a desenvolver o software
que controlará a missão europeia a Marte.
Esta empresa espera faturar, este ano, cerca de 45 milhões de euros em
todos os seus setores, sendo que 3 milhões são diretamente ligados à área
espacial.
A Active Space Technologies,
também sedeada em Coimbra, é uma das mais importantes empresas nacionais na
área do New Space. São um dos
parceiros do projeto “Infante”, o primeiro satélite 100% português, que fará a
monitorização dos oceanos e da Terra, e que terá a nanotecnologia desenvolvida
pela INL, situado em Braga.
Esta é nitidamente uma indústria com grande margem de progressão no nosso
país e que considero ter um grande potencial económico de crescimento. Será,
por isso, indispensável investir na formação para o Espaço, estimulando as
gerações futuras a interessarem-se por esta área, de modo a criarmos uma
população qualificada e preparada para o desenvolvimento neste setor. Assim,
também evitaremos a emigração de quadros altamente qualificados que se formam
nas nossas universidades, levando-os a fixarem-se e a desenvolver os seus
projetos no nosso país.
Ana Isabel Rodrigues Ferreira
Referências
bibliográficas:
Instituto Nacional de Estatística
[artigo de opinião escrito no âmbito da Unidade
Curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano (1º ciclo) do curso
de Economia da EEG/Universidade do Minho]
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