segunda-feira, 29 de outubro de 2018

No passado conquistámos o mar, e no futuro…conquistaremos o Espaço?

A descoberta do Universo foi sempre um dos maiores objetivos do Ser Humano. Na atualidade, assistimos a uma cooperação internacional entre várias agências (Agência Espacial Europeia-ESA, NASA…) que, juntas, pretendem continuar a conquista do Espaço. Os avanços nos planos científico-tecnológicos são notórios e a nível económico começa a assistir-se à intensificação de uma nova indústria.
Portugal aderiu à ESA no ano de 2000 e já é considerado um caso de sucesso pela sua rápida adaptação e integração nos programas espaciais desenvolvidos. A ambição portuguesa relativamente a estes projetos tem vindo a acentuar-se, pela mais-valia que esta indústria poderá representar futuramente nas sociedades desenvolvidas. Um estudo da Fundação para a Ciência e Tecnologia revelou que o investimento neste setor teve, na última década, um retorno económico superior a 120%, ou seja, por cada euro investido nos programas espaciais da ESA foram devolvidos, à economia nacional, mais de dois euros. Segundo dados do INE, em 2017, as exportações de produtos de alta tecnologia atingiram 2 502 milhões de euros, representando 4,5% das exportações totais. Deste montante, 8% foram relativos à indústria aeroespacial e prevê-se uma trajetória de crescimento.
Portugal poderá assumir um papel importante no setor do New Space, com a instalação de um centro de lançamento de satélites nos Açores. Devido à sua localização atlântica, perfeitamente situado entre a Europa e o continente americano, este arquipélago está na posição ideal para a construção de uma infraestrutura espacial onde poderão ser lançados, observados e monitorizados satélites.
Neste sentido, foi aprovado no passado mês de fevereiro o relatório “Estratégia Portugal Espaço 2030”. Este documento, em colaboração com a ESA e a Comissão Europeia, assenta em 3 eixos estratégicos: a exploração de dados espaciais promovendo novos mercados; o desenvolvimento e construção de infraestruturas espaciais, com especial foco nos mini, micro e nano satélites; e o incentivo à investigação e inovação tecnológica.
Sendo certo que os Açores se situam na posição geoestratégica perfeita para este porto espacial, a questão que se coloca é se fazemos os esforços necessários para serem as empresas nacionais a construí-lo, ou simplesmente deixamos ao encargo de entidades estrangeiras. Perante isto, considero que o governo está a tomar a decisão certa ao assumir esta responsabilidade. 
Segundo o ministro da ciência, tecnologia e ensino superior, Manuel Heitor, é necessário desenvolver a capacidade científica para garantir a criação e sustentação dessa infraestrutura, contribuindo para a melhoria do tecido empresarial português e o desenvolvimento da região. Por isso, é essencial atrair investimento direto estrangeiro, o que não será difícil pois estamos perante um projeto bastante aliciante e promissor. 
Esta área de negócios tem a vantagem de permitir que uma grande diversidade de empresas e centros de investigação trabalhem em conjunto, podendo obter resultados muito positivos para a nossa economia.  Nesta vertente, Portugal parece estar à altura do desafio pois já existem várias empresas ligadas a este setor e que têm obtido reconhecimento internacional. Gostaria de dar o exemplo de algumas empresas nacionais que têm alcançado excelentes resultados.
A Efacec, criada no início do século passado, tem vindo a adaptar-se às necessidades do mercado e, muito recentemente, colaborou com a ESA na produção de uma sonda, completamente Made in Portugal, que servirá para estudar o planeta Mercúrio. Esta empresa apresentou um lucro de 7,5 milhões em 2017, emprega 2000 pessoas e tem o objetivo de recrutar mais 700 até 2020.
A Deimos Engenharia, empresa com sede em Lisboa, tem-se tornado uma referência no setor espacial europeu, tendo já liderado vários projetos na área de aplicações no Espaço, com o apoio da ESA. Já fatura mais de 4 milhões por ano e refere que o seu maior desafio é encontrar as pessoas qualificadas para esta área.
A Critical Software, empresa fundada em Coimbra, emprega mais de 600 pessoas, e já elaborou projetos para a NASA. Está atualmente a desenvolver o software que controlará a missão europeia a Marte.  Esta empresa espera faturar, este ano, cerca de 45 milhões de euros em todos os seus setores, sendo que 3 milhões são diretamente ligados à área espacial.
A Active Space Technologies, também sedeada em Coimbra, é uma das mais importantes empresas nacionais na área do New Space. São um dos parceiros do projeto “Infante”, o primeiro satélite 100% português, que fará a monitorização dos oceanos e da Terra, e que terá a nanotecnologia desenvolvida pela INL, situado em Braga.
Esta é nitidamente uma indústria com grande margem de progressão no nosso país e que considero ter um grande potencial económico de crescimento. Será, por isso, indispensável investir na formação para o Espaço, estimulando as gerações futuras a interessarem-se por esta área, de modo a criarmos uma população qualificada e preparada para o desenvolvimento neste setor. Assim, também evitaremos a emigração de quadros altamente qualificados que se formam nas nossas universidades, levando-os a fixarem-se e a desenvolver os seus projetos no nosso país.

Ana Isabel Rodrigues Ferreira
Referências bibliográficas:
Instituto Nacional de Estatística

[artigo de opinião escrito no âmbito da Unidade Curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano (1º ciclo) do curso de Economia da EEG/Universidade do Minho]

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