A essência de um país reside na sua
peculiaridade, nos pequenos detalhes caraterísticos de cada região, que, como
um só, alimentam a alma do país e dão-no a conhecer ao resto do mundo. Portugal
não é exceção e, em cada canto, está repleto de vários elementos autênticos que,
ao longo dos tempos, têm sido explorados e exportados, contribuindo para o crescimento
económico e para a internacionalização da cultura portuguesa.
As exportações e as importações têm momentos
de desempenho diversos, relacionados com a conjuntura e a variabilidade do
mercado. Segundo o INE, embora as exportações tenham aumentado a longo-prazo, o
défice da balança comercial de bens tem-se agravado. Em 2017, o saldo
deteriorou-se comparativamente a 2016, atentando que as exportações aumentaram
10,1%, não compensando o acréscimo de 12,5% das importações. No 1º trimestre de
2018, em termos homólogos, o défice da balança comercial duplicou, e nem o desempenho
dos serviços, impulsionado pelo turismo, conseguiu contrabalançar a subida do défice
comercial de bens, sendo que no 2º trimestre houve uma ligeira recuperação. Um
entrave que se coloca à balança comercial de bens portuguesa é a especificidade
do mercado, que introduz elementos de fragilidade na ocorrência de choques
externos. Atualmente os principais clientes, Espanha, França e Alemanha,
representam mais de 50% do valor das exportações portuguesas.
Portugal sempre teve a vocação de
produzir e exportar bens requisitados por diversos países, sendo possível
referir imensos produtos alusivos à história e tradição. Relembram-se os
produtos que representavam a grande fatia das exportações em tempos primordiais,
como os têxteis, que acompanharam a industrialização, e os vinhos, nomeadamente
o vinho do Porto, com Denominação de Origem Protegida, cuja intemporalidade remete
para a tradição. É excecional pelas uvas provenientes da Região Demarcada do
Douro, pelo clima e pela sofisticação do processo de fermentação. É também inesquecível
a cortiça, visto que Portugal lidera, com uma quota do mercado de 65%, sendo ainda
um grande importador para transformar e comercializar o produto final. Para
desvendar o potencial, a Associação Portuguesa da Cortiça tem investido na
divulgação deste material em mercados estrangeiros.
É imprescindível valorizar outros produtos regionais
que são esquecidos pelo reduzido impacto nas exportações, mas que merecem realce
pela sua unicidade. Um exemplo é o queijo da serra, em que 90% do mercado é
interno e as exportações tem como principais mercados os EUA e França, mas que é significante para a
economia do Centro do país. Segundo Luís Tadeu, autarca de
Gouveia, foi iniciado um programa com um financiamento de 3 milhões de euros, no
intuito de expandir o mercado para a América, China, Japão e toda a UE. A
particularidade deste queijo reside no leite das raças de ovelhas com melhor
aptidão leiteira “Serra da Estrela” e “Churra Mondegueira”, e é o exemplo
perfeito de pura tradição artesanal, cujo processo exigente segue as técnicas deixadas
pelas gerações passadas.
Com o suceder dos anos tem ocorrido
uma diversificação das exportações. São desenvolvidos produtos que atendem aos
novos interesses da sociedade e certos bens, como os supramencionados, perdem posição
face outros. Por exemplo, a evolução tecnológica ampliou a exploração e
exportação de minerais como o lítio, usado nas baterias dos novos aparelhos, contribuindo
para a apreciação deste setor. Os energéticos têm valorizado com o aumento dos
preços dos combustíveis e os materiais de transporte têm aumentado o volume de
exportações.
Na minha opinião, a expansão do comércio
internacional, tanto pela diversificação dos produtos exportados como pelo
alargamento a outros países, é um aspeto ideal para Portugal, dado que amplifica
a estabilidade do mercado, atenuando efeitos de choques externos. Apesar da crescente
importância de novos setores, não devemos perder o foco naqueles bens que,
apesar de poderem ter menor importância para as exportações, certamente têm
maior importância para a tradição portuguesa. Devem executar-se estratégias de divulgação
desses produtos, que difundam a tradição das diversas regiões, possibilitando o
crescimento das economias locais através das exportações, que por sua vez aliciam
o turismo local e cujas receitas permitem a criação de postos de trabalho e a valorização
do património cultural.
É indispensável a conservação da
qualidade desses produtos, de forma a fidelizar clientes, e o apoio às regiões
das quais são típicos, pelo combate à vulgaridade e apropriação cultural de
outras com o intuito de obter de lucros. Surge também a necessidade de
solucionar alguns obstáculos que se opõem à produção destes bens, como a
exigência do processo de fabrico, a escassez de oferta de mão-de-obra
qualificada, a falta de recursos e fragilidades, como a sazonalidade da maioria
dos bens.
Em suma, o investimento realizado com
o objetivo de incentivar a exportação de produtos típicos dos mais variados
recantos do país e de alongar a lista de clientes das exportações é uma forma
bem conseguida de estimular as economias regionais, possibilitando a divulgação
da excecional cultura portuguesa, colocando Portugal “nas bocas do mundo”!
Daniela
Araújo Azevedo
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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