segunda-feira, 1 de outubro de 2018

As exportações e os produtos tradicionais portugueses

A essência de um país reside na sua peculiaridade, nos pequenos detalhes caraterísticos de cada região, que, como um só, alimentam a alma do país e dão-no a conhecer ao resto do mundo. Portugal não é exceção e, em cada canto, está repleto de vários elementos autênticos que, ao longo dos tempos, têm sido explorados e exportados, contribuindo para o crescimento económico e para a internacionalização da cultura portuguesa.
As exportações e as importações têm momentos de desempenho diversos, relacionados com a conjuntura e a variabilidade do mercado. Segundo o INE, embora as exportações tenham aumentado a longo-prazo, o défice da balança comercial de bens tem-se agravado. Em 2017, o saldo deteriorou-se comparativamente a 2016, atentando que as exportações aumentaram 10,1%, não compensando o acréscimo de 12,5% das importações. No 1º trimestre de 2018, em termos homólogos, o défice da balança comercial duplicou, e nem o desempenho dos serviços, impulsionado pelo turismo, conseguiu contrabalançar a subida do défice comercial de bens, sendo que no 2º trimestre houve uma ligeira recuperação. Um entrave que se coloca à balança comercial de bens portuguesa é a especificidade do mercado, que introduz elementos de fragilidade na ocorrência de choques externos. Atualmente os principais clientes, Espanha, França e Alemanha, representam mais de 50% do valor das exportações portuguesas.
Portugal sempre teve a vocação de produzir e exportar bens requisitados por diversos países, sendo possível referir imensos produtos alusivos à história e tradição. Relembram-se os produtos que representavam a grande fatia das exportações em tempos primordiais, como os têxteis, que acompanharam a industrialização, e os vinhos, nomeadamente o vinho do Porto, com Denominação de Origem Protegida, cuja intemporalidade remete para a tradição. É excecional pelas uvas provenientes da Região Demarcada do Douro, pelo clima e pela sofisticação do processo de fermentação. É também inesquecível a cortiça, visto que Portugal lidera, com uma quota do mercado de 65%, sendo ainda um grande importador para transformar e comercializar o produto final. Para desvendar o potencial, a Associação Portuguesa da Cortiça tem investido na divulgação deste material em mercados estrangeiros.
 É imprescindível valorizar outros produtos regionais que são esquecidos pelo reduzido impacto nas exportações, mas que merecem realce pela sua unicidade. Um exemplo é o queijo da serra, em que 90% do mercado é interno e as exportações tem como principais mercados os EUA e França, mas que é significante para a economia do Centro do país. Segundo Luís Tadeu, autarca de Gouveia, foi iniciado um programa com um financiamento de 3 milhões de euros, no intuito de expandir o mercado para a América, China, Japão e toda a UE. A particularidade deste queijo reside no leite das raças de ovelhas com melhor aptidão leiteira “Serra da Estrela” e “Churra Mondegueira”, e é o exemplo perfeito de pura tradição artesanal, cujo processo exigente segue as técnicas deixadas pelas gerações passadas.
Com o suceder dos anos tem ocorrido uma diversificação das exportações. São desenvolvidos produtos que atendem aos novos interesses da sociedade e certos bens, como os supramencionados, perdem posição face outros. Por exemplo, a evolução tecnológica ampliou a exploração e exportação de minerais como o lítio, usado nas baterias dos novos aparelhos, contribuindo para a apreciação deste setor. Os energéticos têm valorizado com o aumento dos preços dos combustíveis e os materiais de transporte têm aumentado o volume de exportações.
Na minha opinião, a expansão do comércio internacional, tanto pela diversificação dos produtos exportados como pelo alargamento a outros países, é um aspeto ideal para Portugal, dado que amplifica a estabilidade do mercado, atenuando efeitos de choques externos. Apesar da crescente importância de novos setores, não devemos perder o foco naqueles bens que, apesar de poderem ter menor importância para as exportações, certamente têm maior importância para a tradição portuguesa. Devem executar-se estratégias de divulgação desses produtos, que difundam a tradição das diversas regiões, possibilitando o crescimento das economias locais através das exportações, que por sua vez aliciam o turismo local e cujas receitas permitem a criação de postos de trabalho e a valorização do património cultural.
É indispensável a conservação da qualidade desses produtos, de forma a fidelizar clientes, e o apoio às regiões das quais são típicos, pelo combate à vulgaridade e apropriação cultural de outras com o intuito de obter de lucros. Surge também a necessidade de solucionar alguns obstáculos que se opõem à produção destes bens, como a exigência do processo de fabrico, a escassez de oferta de mão-de-obra qualificada, a falta de recursos e fragilidades, como a sazonalidade da maioria dos bens.
Em suma, o investimento realizado com o objetivo de incentivar a exportação de produtos típicos dos mais variados recantos do país e de alongar a lista de clientes das exportações é uma forma bem conseguida de estimular as economias regionais, possibilitando a divulgação da excecional cultura portuguesa, colocando Portugal “nas bocas do mundo”!

Daniela Araújo Azevedo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: