quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Estrangeiros compraram mais de 7% dos imóveis vendidos em Portugal em 2017

Cerca de 7,7% dos imóveis vendidos no ano passado foram comprados por não residentes. Essa parcela equivale a 11,5% do montante transacionado, sendo que os imóveis apresentaram preços acima da média, segundo o INE. Já este ano, no primeiro semestre, representavam 82% do total dos investidores no setor, independentemente dos alertas de bolha imobiliária. Qual a razão deste investimento?
Segundo Pedro Seabra, Portugal é “um país seguro para investir, com potencial de crescimento, onde o mercado está atrativo e que vai consolidar ainda mais investimento", sendo esse para desenvolver o imobiliário ou só mesmo para ter uma residência em Portugal. Em 2017, as nações de origem destes estrangeiros são as expectáveis: França e Reino Unido, 20% e 16,2%, respetivamente. As áreas portuguesas que têm atraído mais turismo em Portugal continental são a Área Metropolitana de Lisboa (35%) e o Algarve (42,8%). Os países de origem dos compradores que se seguiram foram o Brasil, Suíça e China, devido, em parte, aos vistos gold.
Em 2017, o número de imóveis transacionados no país, incluindo prédios urbanos, rústicos e mistos, relativos a habitação, comércio, indústria ou serviços, aumentou 13,5% face ao ano anterior, depois do acréscimo de 14,9% em 2016. O valor global cresceu 33,5% contra 20,5% no ano anterior, principalmente devido às transações de prédios urbanos, que aumentaram 17,2% em número e 34,1% em valor. Este tipo de valores leva vários especialistas a afirmar que o mercado imobiliário possa estar a passar por uma fase especulativa, parecida com a dos EUA em 2008, um cenário que hoje em dia se verifica um pouco por todo o mundo. Estes valores só demonstram a redução do poder de compra da população portuguesa, que vê os preços dos imóveis a subir devido à inflação gerada pela procura estrangeira, que está disposta a pagar valores elevados pelas infraestruturas portuguesas.
Portugal já está a trabalhar em medidas contra a formação ou agravamento dessa bolha, mas há países no resto do mundo que já estão alguns passos à frente – Portugal pode aprender esses métodos e as vantagens e desvantagens de cada um deles, para evitar uma escalada dos preços. Estes países têm limitado o número de transações, têm aumentado os impostos, estipularam áreas proibidas de comercialização, estipularam a necessidade de autorizações prévias, de modo a tornar os imoveis mais acessíveis aos habitantes locais.
Na Suíça, os investidores internacionais atualmente devem obter uma autorização por parte das autoridades locais, havendo um limite de 1.500 autorizações por ano. No entanto, algumas regiões do país em que o mercado está arrefecido, as regras aplicadas a investidores estrangeiros foram suspensas para impulsionar o setor. Em Portugal, poderíamos adaptar este tipo de exceção ao Norte, Centro e Interior e ainda aumentar o número de autorizações devido à maior dimensão comparativa do país.
Na Austrália foi implementada a obrigatoriedade de obter autorizações pagas, tornando mais cara a compra de um imóvel para um investidor internacional, mesmo que esta não seja efetuada. Estes só podem comprar imoveis recém-construídos e ainda têm de pedir uma autorização à entidade do Governo que controla estes investimentos internacionais, a FIRB (Foreign Investment Review Board). Por cada pedido, o interessado tem de pagar uma taxa que começa nos 3500 euros, aproximadamente. E por cada milhão a mais que a propriedade valer o valor da taxa aumenta. Em Portugal, estes valores teriam de ser ajustados, pois mesmo havendo imóveis com etiquetas com esse preço, os estrangeiros estão habituados a valores médios de 212 927€ em Lisboa e 143 592€ no Algarve, valores estes acima da média nacional, 107 381€.
         Concluindo, sendo o aumento da procura e subsequentemente o preço dos imóveis nas zonas centrais das grandes cidades a maior ameaça ao poder de compra dos cidadãos portugueses, esta tem de ser abrandada ou dissuadida para que os pensionistas, universitários e residentes, de um modo geral, não sejam obrigados a procurar imóveis para alugar ou comprar fora das cidades, mais longe dos locais de estudo, das infraestruturas de acesso médico e até mesmo dos seus empregos. O Estado tem a obrigação de combater estas desigualdades crescentes.

Daniel Ribeiro

Referências:


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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