Quando falamos em Indústria Têxtil e de
Vestuário, Portugal é uma referência mundial mas o seu percurso não foi de todo
linear. Percorremos fases desde os anos 80, onde esta era considerada a
indústria mais importante, até à crise de 2008, onde tudo parecia estar
condenado. A abertura do mercado europeu à china em 2001 e a incapacidade da
indústria nacional competir com os reduzidos preços da China forçou a
reformulação do setor. Era necessário
mudança.
O setor de têxtil e vestuário, uma das
principais indústrias para a economia portuguesa, sofreu diversas alterações,
sendo que em 1986 representava 40% do total das exportações nacionais, enquanto
que atualmente representa 10%. O investimento do setor têxtil tem sido notório
ao longo destes últimos 4 anos, já que mais de 900 projetos apoiados no âmbito
do Portugal 2020 constituíram um total de 640 milhões de euros de investimento.
Do meu ponto de vista, este investimento é essencial no processo de alcançarmos
uma indústria mais competitiva, com oferta diferenciada, de forma a mantermos
as caraterísticas pelas quais somos reconhecidos: a qualidade e a
inovação.
Segundo a Associação Têxtil e Vestuário
de Portugal (ATP), as exportações portuguesas de têxtil e vestuário aumentaram
4% em 2017 face ao ano anterior, o que demonstra uma maior dinâmica do setor.
No entanto, apresenta-se uma dificuldade, que passa pela dependência das
exportações portuguesas de um reduzido número de países, nomeadamente a Espanha,
que permaneceu na sua posição de parceiro comercial nº1 de Portugal, no entanto
registando uma queda de 0,6% quando comparando com os valores de 2016. A queda
mais acentuada verificou-se no Reino Unido devido a prováveis efeitos do
Brexit, apresentando um valor de 1,7%.
Considero pertinente destacar o concelho
de Famalicão, que é caraterizado como o terceiro maior exportador do país,
segundo os dados do INE, com um tecido industrial que se destaca pela
impressionante dinâmica económica e caraterísticas muito tradicionais.
Engloba, nomeadamente, empresas como a Têxtil Manuel
Gonçalves, um dos maiores fabricantes europeus de tecidos e malhas, e a
Riopele, uma das principais exportadora de têxteis do concelho, sendo que, com
a sua marca inovadora de tecidos sustentáveis e ecológicos Tenowa,
ganhou o Prémio Produto de Inovação 2018, atribuído pela COTEC Portugal. Ainda
recentemente, a ATP e a Câmara de Famalicão assinaram um protocolo de
cooperação com o principal objetivo
de apoiar a internacionalização das empresas têxteis, e aumentar as exportações
através da diversificação dos mercados.
Estamos perante um período onde a
digitalização e as novas tecnologias ocupam uma posição de dominância perante o
mundo industrial, e que acabam por alterar de forma significativa o
funcionamento deste setor, que se encontra em constante mudança. Assim, a facilidade de adaptação ao mercado e a aposta
no investimento em investigação e desenvolvimento devem ser cada vez maiores,
tornando o setor têxtil numa referência de qualidade, inovação, criatividade e
capacidade de resposta. Desde 2009, a faturação por trabalhador aumentou 50% e,
segundo o diretor-geral do CITEVE, estamos perante uma maior produtividade num
setor mais automatizado e com menor número de trabalhadores.
Portugal consegue ainda distinguir-se na
indústria têxtil através do seu convite para ser o “Focus Country” na Première
Vision, uma das maiores feiras mundiais do setor em Paris, que decorreu
entre 19 a 21 de setembro, e que visa
promover o país e o seu know-how no vestuário. De
acordo com o Secretário de Estado da Internacionalização, Portugal é “o campeão
da oferta têxtil e vestuário”. Também recentemente, o Porto foi
escolhido para receber em 2019 o maior congresso têxtil mundial, evidenciando
a importância da indústria portuguesa no cenário internacional, sendo que, na minha opinião, será uma oportunidade
fundamental para mostrar que o reinvestimento nesta indústria é possível,
baseado na inovação e diferenciação do design que Portugal tem
oferecido.
A meu ver, a
valorização da nossa indústria perante o mercado internacional deve ser um dos
nossos principais focos, em paralelo com a permanente inovação e design dos
produtos de forma a dinamizar a economia e aumentar o volume de exportações. A
crise não conseguiu deteriorar o setor onde Portugal detém a confiança do
mercado externo. Daí, existir uma necessidade constante de modernização e
criação de produtos inovadores, sem descurar a tradição. Investir deve
permanecer uma prioridade para que o setor consiga competir a nível europeu e
mundial. Portugal deve demonstrar a qualidade e excelência que carateriza a
indústria ‘Made in Portugal’ para que nos possamos destacar da concorrência
pela diferença.
Maria João Barros Gonçalves
Bibliografia:
·
Associação Têxtil e
Vestuário de Portugal (ATP)
·
PORDATA
·
INE
·
Jornal de Notícias
·
Jornal Económico
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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