quinta-feira, 4 de outubro de 2018

‘Made in Portugal’

Quando falamos em Indústria Têxtil e de Vestuário, Portugal é uma referência mundial mas o seu percurso não foi de todo linear. Percorremos fases desde os anos 80, onde esta era considerada a indústria mais importante, até à crise de 2008, onde tudo parecia estar condenado. A abertura do mercado europeu à china em 2001 e a incapacidade da indústria nacional competir com os reduzidos preços da China forçou a reformulação do setor. Era necessário mudança.                                                          
O setor de têxtil e vestuário, uma das principais indústrias para a economia portuguesa, sofreu diversas alterações, sendo que em 1986 representava 40% do total das exportações nacionais, enquanto que atualmente representa 10%. O investimento do setor têxtil tem sido notório ao longo destes últimos 4 anos, já que mais de 900 projetos apoiados no âmbito do Portugal 2020 constituíram um total de 640 milhões de euros de investimento. Do meu ponto de vista, este investimento é essencial no processo de alcançarmos uma indústria mais competitiva, com oferta diferenciada, de forma a mantermos as caraterísticas pelas quais somos reconhecidos: a qualidade e a inovação.         
Segundo a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), as exportações portuguesas de têxtil e vestuário aumentaram 4% em 2017 face ao ano anterior, o que demonstra uma maior dinâmica do setor. No entanto, apresenta-se uma dificuldade, que passa pela dependência das exportações portuguesas de um reduzido número de países, nomeadamente a Espanha, que permaneceu na sua posição de parceiro comercial nº1 de Portugal, no entanto registando uma queda de 0,6% quando comparando com os valores de 2016. A queda mais acentuada verificou-se no Reino Unido devido a prováveis efeitos do Brexit, apresentando um valor de 1,7%.
Considero pertinente destacar o concelho de Famalicão, que é caraterizado como o terceiro maior exportador do país, segundo os dados do INE, com um tecido industrial que se destaca pela impressionante dinâmica económica e caraterísticas muito tradicionais. Engloba, nomeadamente, empresas como a Têxtil Manuel Gonçalves, um dos maiores fabricantes europeus de tecidos e malhas, e a Riopele, uma das principais exportadora de têxteis do concelho, sendo que, com a sua marca inovadora de tecidos sustentáveis e ecológicos Tenowa, ganhou o Prémio Produto de Inovação 2018, atribuído pela COTEC Portugal. Ainda recentemente, a ATP e a Câmara de Famalicão assinaram um protocolo de cooperação com o principal objetivo de apoiar a internacionalização das empresas têxteis, e aumentar as exportações através da diversificação dos mercados.
Estamos perante um período onde a digitalização e as novas tecnologias ocupam uma posição de dominância perante o mundo industrial, e que acabam por alterar de forma significativa o funcionamento deste setor, que se encontra em constante mudança. Assim, a facilidade de adaptação ao mercado e a aposta no investimento em investigação e desenvolvimento devem ser cada vez maiores, tornando o setor têxtil numa referência de qualidade, inovação, criatividade e capacidade de resposta. Desde 2009, a faturação por trabalhador aumentou 50% e, segundo o diretor-geral do CITEVE, estamos perante uma maior produtividade num setor mais automatizado e com menor número de trabalhadores.
Portugal consegue ainda distinguir-se na indústria têxtil através do seu convite para ser o “Focus Country” na Première Vision, uma das maiores feiras mundiais do setor em Paris, que decorreu entre 19 a 21 de setembro, e que visa promover o país e o seu know-how no vestuário. De acordo com o Secretário de Estado da Internacionalização, Portugal é “o campeão da oferta têxtil e vestuário”. Também recentemente, o Porto foi escolhido para receber em 2019 o maior congresso têxtil mundial, evidenciando a importância da indústria portuguesa no cenário internacional, sendo que, na minha opinião, será uma oportunidade fundamental para mostrar que o reinvestimento nesta indústria é possível, baseado na inovação e diferenciação do design que Portugal tem oferecido.                                         
A meu ver, a valorização da nossa indústria perante o mercado internacional deve ser um dos nossos principais focos, em paralelo com a permanente inovação e design dos produtos de forma a dinamizar a economia e aumentar o volume de exportações. A crise não conseguiu deteriorar o setor onde Portugal detém a confiança do mercado externo. Daí, existir uma necessidade constante de modernização e criação de produtos inovadores, sem descurar a tradição. Investir deve permanecer uma prioridade para que o setor consiga competir a nível europeu e mundial. Portugal deve demonstrar a qualidade e excelência que carateriza a indústria ‘Made in Portugal’ para que nos possamos destacar da concorrência pela diferença.

Maria João Barros Gonçalves

Bibliografia:
·        Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP)
·        PORDATA
·        INE
·        Jornal de Notícias
·        Jornal Económico

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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