Em
Portugal, a dimensão é uma constante em todas as áreas. Sendo um país pequeno
em tamanho, assim também o é em termos de estrutura de negócios, onde as
pequenas empresas e as “jovens” startups
representam 75% do número total de empresas e 40% da população ativa. Para além
disso, o financiamento a este tipo de empresas ainda se revela muito
conservador. Vejamos, por exemplo, os empréstimos bancários que, por norma,
fornecem financiamento a empresas bem estabelecidas e deixam de parte pequenas
empresas que apensas o podem fazer caso sejam empréstimos a curto prazo, com
colaterais implícitos e elevadas taxas de juro. Olhando para os números, apenas
5% dos empréstimos feitos a microempresas são de médio/longo prazo, tendo a
agravante de os bancos terem reduzido o seu investimento nestas empresas
comparando com anos anteriores, revelando uma grande fragilidade do tecido
empresarial português.
Fonte: Raize
Redirecionando
agora as nossas atenções para o mercado bolsista Português, será também uma boa
opção para este tipo de empresas? A resposta é clara: Não! A estrutura do
mercado bolsista em Portugal funciona exclusivamente para empresas bem
estabelecidas e que apresentam um histórico contabilístico exímio e bons
resultados operacionais e perspetivas de crescimento, deixando de fora empresas
que possam apresentar investimentos de “alto risco”. Mesmo olhando para o OE de
2018, podemos ver que o governo redirecionou parte dos seus esforços para as
famílias e pensionistas, deixando de fora a problemática das micro empresas mas
também não pondo entraves à sua atividade, com alguns deslumbres otimistas em
relação ao desemprego, crescimento económico e diminuição ao desemprego, o que,
de uma maneira geral, também pode ser útil para estas empresas. (Não podemos
deixar de dar uma palavra a respeito do Orçamento Europeu para 2021-2027, onde
Portugal irá receber menos e pagar mais, o que pode ser bastante prejudicial,
como, por exemplo, o aumento da contribuição do IVA de Portugal).
Fonte: Raize
Dados
os factos, qual será a melhor maneira das micro-empresas se financiarem em
Portugal? Uma das recentes alternativas que tem aparecido em Portugal são as
plataformas de Crowdfunding, que
permitem a estas empresas, que são as que menos investem, terem oportunidade de
se financiar. A primeira plataforma de crowfunding
a registar-se em Portugal foi a Raize.
Como
funcionam? Primeiro, temos de perceber que existem 4 tipos de crowdfunding: por doação (esta dispensa
apresentações); por recompensa (o investidor recebe algo por uma contribuição;
as plataformas mais conhecidas internacionalmente são a Kickstarter e a Idiegogo); equity
crowdfunding, onde o investidor recebe parte do capital da empresa (a
plataforma mais ativa no UK e fundada pelo Português Carlos Silva em equity crowdfunding é a Seedrs); e debt crowdfunding (o investidor recebe juros pelo empréstimo
cedido; em Portugal, temos a recente plataforma e com a primeira OPV realizada
nos últimos quatro anos e com total subscrição, a Raize).
Posto
isto, estas plataformas de crowdfunding
funcionam como intermediário, elo de ligação, entre a empresa que quer ser
financiada e o investidor, sem qualquer tipo de comissões para este. Tendo
também em conta que os investidores preferem investir pequenos montantes e que,
agindo racionalmente, vão querer diversificar o seu investimento e gerir o seu
“risk appetite”, estas plataformas permitem fazê-lo visto que apresentam um
leque diversificado de empresas com diferentes tipos de risco. Não podemos
deixar de referir que, sendo empresas com poucos anos de existência e de
histórico contabilístico, serão consideradas investimento de risco, o que por
si só pode gerar aversão ao seu investimento mas, por outro lado, estas
plataformas têm um bom sistema de seleção e filtragem, com pessoas competentes
e especializadas. Mais, com a recente legislação em Portugal em relação a estas
plataformas e os alívios fiscais no sentido de estimular o investimento em
Portugal, aliado ao crescente uso tecnológico e acesso remoto, os próprios
investidores poderão encontrar aqui “uma mina de ouro”, onde, em média, os as
taxas internas de retorno são maiores (aproximadamente entre os 9% e 10%),
comparando com o IRR em fundos de investimento e mercado bolsista (aproximadamente
6%), independentemente de o ser pré ou pós- impostos.
Também
aqui podemos encontrar um mercado secundário de venda ou compra destes ativos,
como é o caso da Seedrs e da Raize. Segundo a plataforma Portuguesa Raize, os seus investidores têm muita
mais liquidez e menor volatilidade comparando com os seus “peers” ou classes de
ativos quando investem aqui o seu capital. O segredo está numa boa gestão de
risco e monotorização dos negócios, quer do ponto de vista do investidor quer
do ponto de vista da empresa.
Concluindo
o meu estudo, posso afirmar que Crowdfunding
em Portugal poderá ser útil para o estímulo da economia portuguesa, rejuvenescimento
do tecido empresarial português, uma nova alternativa de financiamento das
empresas e, inclusive, dar aso a sinergias entre estas plataformas e
instituições financeiras, como bancos e quiçá, numa fase mais avançada, com
multinacionais e clusters nacionais.
Vasco Dessa
Bibliografia
Nota:
link do vídeo – Emprestar dinheiro a empresas e ganhar 7% de
juros
https://contaspoupanca.pt/2018/05/23/video-emprestar-dinheiro-empresas-ganhar-7-juros/
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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