terça-feira, 9 de outubro de 2018

“Crowdfunding”: solução de financiamento em Portugal?

Em Portugal, a dimensão é uma constante em todas as áreas. Sendo um país pequeno em tamanho, assim também o é em termos de estrutura de negócios, onde as pequenas empresas e as “jovens” startups representam 75% do número total de empresas e 40% da população ativa. Para além disso, o financiamento a este tipo de empresas ainda se revela muito conservador. Vejamos, por exemplo, os empréstimos bancários que, por norma, fornecem financiamento a empresas bem estabelecidas e deixam de parte pequenas empresas que apensas o podem fazer caso sejam empréstimos a curto prazo, com colaterais implícitos e elevadas taxas de juro. Olhando para os números, apenas 5% dos empréstimos feitos a microempresas são de médio/longo prazo, tendo a agravante de os bancos terem reduzido o seu investimento nestas empresas comparando com anos anteriores, revelando uma grande fragilidade do tecido empresarial português.



Fonte: Raize

Redirecionando agora as nossas atenções para o mercado bolsista Português, será também uma boa opção para este tipo de empresas? A resposta é clara: Não! A estrutura do mercado bolsista em Portugal funciona exclusivamente para empresas bem estabelecidas e que apresentam um histórico contabilístico exímio e bons resultados operacionais e perspetivas de crescimento, deixando de fora empresas que possam apresentar investimentos de “alto risco”. Mesmo olhando para o OE de 2018, podemos ver que o governo redirecionou parte dos seus esforços para as famílias e pensionistas, deixando de fora a problemática das micro empresas mas também não pondo entraves à sua atividade, com alguns deslumbres otimistas em relação ao desemprego, crescimento económico e diminuição ao desemprego, o que, de uma maneira geral, também pode ser útil para estas empresas. (Não podemos deixar de dar uma palavra a respeito do Orçamento Europeu para 2021-2027, onde Portugal irá receber menos e pagar mais, o que pode ser bastante prejudicial, como, por exemplo, o aumento da contribuição do IVA de Portugal).

Fonte: Raize

Dados os factos, qual será a melhor maneira das micro-empresas se financiarem em Portugal? Uma das recentes alternativas que tem aparecido em Portugal são as plataformas de Crowdfunding, que permitem a estas empresas, que são as que menos investem, terem oportunidade de se financiar. A primeira plataforma de crowfunding a registar-se em Portugal foi a Raize.
Como funcionam? Primeiro, temos de perceber que existem 4 tipos de crowdfunding: por doação (esta dispensa apresentações); por recompensa (o investidor recebe algo por uma contribuição; as plataformas mais conhecidas internacionalmente são a Kickstarter e a Idiegogo); equity crowdfunding, onde o investidor recebe parte do capital da empresa (a plataforma mais ativa no UK e fundada pelo Português Carlos Silva em equity crowdfunding é a Seedrs); e debt crowdfunding (o investidor recebe juros pelo empréstimo cedido; em Portugal, temos a recente plataforma e com a primeira OPV realizada nos últimos quatro anos e com total subscrição, a Raize).
Posto isto, estas plataformas de crowdfunding funcionam como intermediário, elo de ligação, entre a empresa que quer ser financiada e o investidor, sem qualquer tipo de comissões para este. Tendo também em conta que os investidores preferem investir pequenos montantes e que, agindo racionalmente, vão querer diversificar o seu investimento e gerir o seu “risk appetite”, estas plataformas permitem fazê-lo visto que apresentam um leque diversificado de empresas com diferentes tipos de risco. Não podemos deixar de referir que, sendo empresas com poucos anos de existência e de histórico contabilístico, serão consideradas investimento de risco, o que por si só pode gerar aversão ao seu investimento mas, por outro lado, estas plataformas têm um bom sistema de seleção e filtragem, com pessoas competentes e especializadas. Mais, com a recente legislação em Portugal em relação a estas plataformas e os alívios fiscais no sentido de estimular o investimento em Portugal, aliado ao crescente uso tecnológico e acesso remoto, os próprios investidores poderão encontrar aqui “uma mina de ouro”, onde, em média, os as taxas internas de retorno são maiores (aproximadamente entre os 9% e 10%), comparando com o IRR em fundos de investimento e mercado bolsista (aproximadamente 6%), independentemente de o ser pré ou pós- impostos.
Também aqui podemos encontrar um mercado secundário de venda ou compra destes ativos, como é o caso da Seedrs e da Raize. Segundo a plataforma Portuguesa Raize, os seus investidores têm muita mais liquidez e menor volatilidade comparando com os seus “peers” ou classes de ativos quando investem aqui o seu capital. O segredo está numa boa gestão de risco e monotorização dos negócios, quer do ponto de vista do investidor quer do ponto de vista da empresa.
Concluindo o meu estudo, posso afirmar que Crowdfunding em Portugal poderá ser útil para o estímulo da economia portuguesa, rejuvenescimento do tecido empresarial português, uma nova alternativa de financiamento das empresas e, inclusive, dar aso a sinergias entre estas plataformas e instituições financeiras, como bancos e quiçá, numa fase mais avançada, com multinacionais e clusters nacionais.

Vasco Dessa


Bibliografia

Nota: link do vídeo – Emprestar dinheiro a empresas e ganhar 7% de juros

https://contaspoupanca.pt/2018/05/23/video-emprestar-dinheiro-empresas-ganhar-7-juros/

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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