terça-feira, 9 de outubro de 2018

A INDÚSTRIA AUTOMÓVEL PORTUGUESA E A IMPORTÂNCIA DA VOLKSWAGEN

O setor de automóveis de Portugal é uma das áreas económicas mais importantes do país. Segundo um estudo recente da Mobinov (Associação do Cluster Automóvel), esse setor representou 5,9% do PIB português em 2017, assim como 20% das exportações de bens portugueses. Além disso, o estudo relatou que o crescimento do PIB neste setor foi de 0,7% entre 2012 e 2016.
Em relação à produção de automóveis em Portugal, a situação económica dos anos antes da crise financeira de 2007/2008 estava sólida, com uma quantidade de cerca de 220.000 unidades produzidas por ano. Em 2007, em contrapartida, a produção caiu 22,5%, resultando em 176.242 unidades produzidas. A partir de 2010, a situação começou a estabilizar, com cerca de 160.000 veículos produzidos até 2016, quando houve mais uma queda de 8,6% face ao ano anterior. Em seguida, a produção de automóveis cresceu de novo. A quantidade fabricada no mês de janeiro de 2017 face ao mês de janeiro de 2016 testemunhou um aumento de 51,6%. Ainda mais significativo foi a aumento de unidades produzidas nos meses de janeiro de 2017 e 2018: houve um crescimento de 100,4% (25.267 unidades em janeiro deste ano).
A Autoeuropa, empresa fundada em 1995 pelo Grupo Volkswagen em Palmela, no distrito de Setúbal, representa, hoje em dia, 60% do mercado de automóveis português. Em janeiro de 2018, os 4.377 trabalhadores da Autoeuropa fabricaram 19.355 dos 25.276 veículos produzidos em Portugal, o que equivale a 76,6%. O número de automóveis produzidos pela Autoeuropa representa atualmente cerca de 1% do PIB português assim como 4% das exportações nacionais. As outras marcas, constituindo a menor parte do mercado de automóveis em Portugal, são a Peugeot/Citroën, Mitsubishi e Toyota.
Interpretando esses dados, o fato de a Volkswagen ter transferido uma parte da sua produção para Portugal contribuiu de maneira significativa para a economia portuguesa. São exemplos desse fortalecimento, entre outros: foi criado um grande número de empregos; houve um desenvolvimento considerável na região de Setúbal; a competitividade económica portuguesa foi reforçada. Mas existe, para além das várias vantagens no aparecimento da VW no mercado português, uma parte inconveniente?
Desde 2015, o Grupo Volkswagen o pára de ter lugar de destaque negativo nos meios de comunicação. O escândalo “Dieselgate” revelou que a empresa tinha manipulado o software que mede os valores de emissão de gases dos seus veículos com motor a diesel a fim de respeitar as diretivas ambientais. Embora o escândalo, assim como as consequências do mesmo para a empresa alemã ainda não tenham chegado ao fim, os pedidos de indemnização, as multas e os custos legais já são estimados em milhares de milhões de euros. Além disso, a VW perdeu a sua confiabilidade por parte dos seus clientes. Embora as fábricas portuguesas ainda não tenham sido atingidas, a VW reduzirá 30.000 empregos na Alemanha até 2025, a fim de compensar os défices feitos desde 2015. Será que a Autoeuropa - e concomitantemente a economia portuguesa - podem sofrer das consequências que trouxe e trará consigo o escândalo “Dieselgate” a longo prazo?
Mais um evento problemático em relação à VW surgiu em 2017, desta vez no território português, quando a VW decidiu produzir o novo modelo T-Roc na Autoeuropa. Para adaptar a Autoeuropa a um volume de produção duplo que traria consigo a produção do T-Roc, a VW anunciou uma alteração do horário de laboração, o que incluiu trabalhar ao domingo. Isso fez com que a maioria dos trabalhadores entrasse em greve. Esse conflito, que demorou cerca de um ano e refreou a produção do novo modelo, suscitou a questão se a VW poderia transferir uma parte da sua produção para outro lugar. Desde agosto deste ano, os trabalhadores da Autoeuropa estão a fazer o novo horário de laboração contínua para aumentar a produção do novo modelo da Volkswagen, o que inclui trabalhar ao domingo. Para além das greves em função do aumento das horas laborais, houve recentemente mais greves por parte das fornecedoras da Autoeuropa, mesmo após a produção do T-Roc em Portugal ter sido iniciada.
Conclui-se que a economia portuguesa beneficia significativamente da produção de automóveis por parte de uma empresa com um poder económico tão forte quanto a do Grupo Volkswagen. Porém, esse ganho não pode ser garantido perpetuamente, e pode estar sujeito a uma política empresarial com consequências negativas para Portugal.

Simon Jäger

Fontes:
- ACAP
- https://www.zeit.de/wirtschaft/diesel-skandal-volkswagen-abgase
- https://www.dn.pt/dinheiro/interior/setor-automovel-vale-59-do-pib-e-emprega-72-mil-pessoas-9048092.html
- https://econews.pt/2018/01/05/autoeuropa-it-is-a-defeat-for-the-portuguese-if-it-is-not-solved/
- https://www.stuttgarter-nachrichten.de/inhalt.portugal-wenn-vw-hustet-ist-das-land-krank.6eafa8f8-c960-4ed8-8ea7-27abe0f05e7e.html

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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