quarta-feira, 3 de outubro de 2018

“Destruir é fácil, criar é mais complicado”

(Negócios, 28 de agosto de 2018)

Desemprego - falta de trabalho. Desempregado - individuo pertencente à população ativa que, embora procure, não encontra emprego. Dois conceitos que ninguém gosta de ouvir, mesmo que estejamos numa fase de melhoria, visto que ainda é um assunto muito sensível no panorama nacional.
Efetivamente, a crise de 2010 que abalou não só o nosso país como toda a Europa, teve fortes consequências sociais e económicas, levando a que a taxa de desemprego disparasse. Se no ano 2008 esta estaria à volta dos 8%, em 2010 o cenário já era diferente, estando próxima dos 11%. Porém, a situação só poderia piorar e, no ano 2013, atingiu os 16%. Uma taxa de desemprego muito alta, nunca antes vista e muito acima da média Europeia, embora acompanhasse a mesma trajetória, que em 2013 teve também o seu pior ano em termos de desemprego, registando uma taxa de 11,9%. A partir de 2013, começou a diminuir, atingindo os 8,9% em 2017.


Olhando para o lado mais jovem do país, em 2008, a taxa de desemprego da população ativa com menos de 25 anos era 16,7. Em 2010, já se encontrava acima dos 20% e, em 2013, apresentou também o seu pior valor com 38,1%. Em 2017, a taxa de desemprego jovem era, ainda, de 23,9%.
É certo que durante a crise da zona euro muitos empregos foram destruídos e as notícias que mais se faziam ouvir era de cortes nos salários e despedimentos, muitos deles, em massa. Centenas de trabalhadores com uma certa idade já não voltaram a acreditar ser possível ter uma carreira, entrando na reforma; por outro lado, não havia novas contratações para que fosse possível, aos mais novos neste meio entrarem. Tudo isto levou, certamente, a uma perda de valor do mercado. Por toda a situação envolta, muitos foram os jovens que arriscaram e abriram os seus negócios, e houve outros que emigraram.
Porém, o cenário começou a melhorar através das políticas feitas pela denominada e, nunca credível (mas que nos tem levado a alcançar resultado espetaculares), geringonça. Segundo avançou o jornal Negócios numa das suas edições de agosto de 2018, esta melhoria já levou à criação de meio milhão de novos empregos, mas, num tempo muito mais lento do que o que levou a destruí-los.
Hoje, Portugal tem a sua taxa de desemprego próxima de 6,8%, um valor que equivale a anos anteriores a 2009. O desemprego da população entre os 15 e os 24 anos diminuiu 2,5 pontos percentuais do primeiro para o segundo trimestre deste ano, situando-se nos 19,4%. Este valor, apesar de ser mais baixo do que os anteriores, é ainda preocupante, pois diz-nos que um em cada cinco jovens em idade ativa continua à procura de emprego.
No entanto, será que ao longo dos últimos anos a taxa de desemprego não poderia ter sido mais baixa? A verdade é que, ao longo dos últimos anos, como dito acima, muitos foram os empregos criados. Todavia, se muitos foram criados, também muitos deles foram ocupados por estrangeiros, uma vez que não havia oferta de mão-de-obra nacional.
Nos dias de hoje, não falta procura de trabalhadores na indústria têxtil, o que não se encontra são pessoas dispostas a deixar de lado a sua área de estudos e a trabalhar nesse ramo, por exemplo. Podemos, então, ver aqui o efeito negativo dos benefícios de ter uma formação melhor. Pode-se considerar esta situação caricata. Se, por um lado, é ótimo para o país e para nós mesmos investir na nossa educação para que possamos ter um estilo de vida melhor, por outro, isso leva a que haja falta de colaboradores em trabalhos menos favorecidos. Exemplificando de uma maneira mais prática, se de um lado não faltam professores e advogados a queixarem-se de falta de trabalho, por outro temos imensos empresários têxteis a queixarem-se de falta de mão-de-obra.
Infelizmente, a realidade de que um curso superior concede um emprego bom e bem remunerado já não existe mais. Tal era possível no tempo em que eram escassas as oportunidades de estudo e a larga maioria da população era analfabeta e vivia do campo. Não existe mais essa realidade. Possivelmente, não existirá nunca mais…
Portugal, um pequeno paraíso à beira mar, está assim num bom caminho para a recuperação do seu mercado de trabalho e, consequentemente, da sua economia, com a nova criação de empregos. Falta agora a mudança de uma população que pensa que só quem trabalha num escritório é digno, pois chegará a altura em que um pedreiro terá tanto ou mais valor do que um engenheiro.

Cláudia Sofia Amorim Rodrigues

Bibliografia:
      Jornal negócios
      Jornal de notícias
      Jornal Publico
      PORDATA (última atualização a 03 de outubro de 2018)

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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