quarta-feira, 9 de novembro de 2016

A variação do consumo e da poupança das famílias portuguesas nos últimos anos

Com este tema, pretendo salientar o comportamento da poupança e do consumo das famílias portuguesas em 2015, visto que a poupança influencia o investimento e o crescimento económico de um país.
É de salientar que o consumo é um ato económico e social que permite a satisfação de uma necessidade e que, por vezes, implica a destruição dos bens utilizados e, noutras, os bens vão satisfazer necessidades durante um certo período. O aumento do consumo tem consequências socioeconómicas, políticas e ambientais. O consumo está pendente de fatores económicos e extraeconómicos.
Quanto à Poupança, ela corresponde à parte do rendimento disponível das famílias que não é gasta em bens de consumo, e tem utilização futura. A poupança é uma condição necessária, mas não suficiente, para que haja crescimento económico, porque sem poupança não há investimento, mas se não for investida não vai contribuir nem para o crescimento económico nem para o desenvolvimento económico.
Em Portugal, o comportamento destas variáveis não tem sido muito satisfatório, pois os portugueses estão a poupar cada vez menos. Acredita-se que esta tendência de queda começou com a entrada no euro e só foi interrompida nos anos de crise. E, segundo alguns inquéritos, observou-se que os mais ricos são os que mais poupam em Portugal. Inversamente, os que têm menos rendimentos registam níveis baixos ou até mesmo nulos de poupança. Esta realidade, mostra que poupar pode ser, no limite, visto como um bem de luxo para as famílias portuguesas.
A evolução da poupança das famílias depende de vários fatores, como a idade, o rendimento, a riqueza e o acesso aos mercados de seguros e crédito. Outras variáveis importantes prendem-se com o aumento da esperança de vida e o envelhecimento demográfico.
Após o início da crise financeira (2008), a taxa de poupança dos portugueses registou uma subida. Esta evolução prendeu-se, fundamentalmente, com o adiamento das decisões de consumo e a preocupação das famílias em aforrar devido a um ambiente de maior incerteza, dada a maior precariedade do emprego do fator trabalho e a expectativa de reformas mais reduzidas no futuro.
O consumo das famílias portuguesas tem aumentado em termos nominais desde 2010, quando Portugal encontrava-se em direção ao resgate. No segundo trimestre de 2011 registou-se um ligeiro aumento da taxa de poupança das famílias portuguesas em cerca de 0,5% do PIB, onde a mesma situava-se próximo da sua média histórica, isto é, 7,6% face ao PIB.
No início de 2015, a capacidade de financiamento da economia melhorava mas a das famílias diminuía. Embora o rendimento disponível tenha melhorado em relação ao último trimestre de 2014, o aumento do consumo foi ligeiramente superior, o que fez baixar o nível de poupança das famílias portuguesas face ao trimestre anterior. As famílias reduziram os seus níveis de precaução devido à recuperação dos níveis de confiança. Registou-se também um aumento do investimento realizado pelas famílias e a melhoria de suas perspetivas quanto à evolução do mercado de trabalho. Os indicadores de confiança deixaram as famílias mais otimistas quanto à sua situação financeira e à situação financeira e económica do país.
Sendo assim, a impulsionar o consumo das famílias nesta altura tínhamos as baixas taxas de juro, a melhoria da confiança dos consumidores, uma ligeira redução nos impostos, a redução da taxa de desemprego e as expetativas de novas reduções no futuro, bem como o facto de a procura de determinados bens nos últimos anos ter estado reprimida.
A essa luz, as famílias portuguesas estavam a cortar cada vez mais na poupança. Em finais de 2015, a Poupança atingia um dos níveis mais baixos de sempre. As famílias já gastavam 96% do rendimento, e o consumo aumentava cada vez mais com o crédito bancário. O nível das taxas de juro influenciava as decisões de poupança, de consumo e de investimento das famílias e das empresas. A existência de taxas de juro baixas, induzida pela ação de política monetária do BCE, funcionou como um desincentivo à poupança, fomentando decisões de investimento e de consumo no presente.
De acordo com os dados observados neste período, a taxa de poupança representava 4,5% do rendimento disponível. É preciso recuar ao ano da grande crise financeira (2008) para encontrar um registo parecido 4,3%.
Ao contrário do que acontecia com as famílias, os números do INE mostram que a economia, no seu conjunto, havia melhorado a sua capacidade de financiamento. Neste caso, foi o ligeiro aumento da poupança corrente da economia que permitiu a melhoria neste indicador, já que o crescimento do rendimento disponível foi marginalmente superior ao da despesa de consumo, beneficiando do aumento do PIB.

Edilson Gonga Mateus

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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