terça-feira, 8 de novembro de 2016

Qual o futuro do nosso estado social?

Portugal está atualmente a atravessar um dos piores momentos da sua história contemporânea. A principal causa é, claro, o suspeito do costume: a economia, ou dito de forma mais adequada, a falta de capacidade económica.
Portugal está num beco sem saída e será muito difícil encontrar um caminho que permita fazer face aos vários problemas que assolam o país, todos com a mesma origem. Explicando melhor, o país enfrenta um crescente envelhecimento da população (diminuição da taxa de natalidade de 20,8%o em 1970 para 8,3%o em 2015, e o numero de indivíduos em idade ativa por idoso passou de 6,4 em 1970 para 3,2 em 2015), uma elevada percentagem da população a viver pouco acima do limiar da pobreza (a qual se encontra abaixo dos 5061 euro por ano) e em risco de lá cair (47,8% da população antes de receber o apoio das prestações sociais), emigração com números elevados nos últimos anos, só com paralelo na década de 60 e70, e um setor financeiro em constante risco de incumprimento (falência). Estes são alguns dos problemas internos que o país atravessa, os quais vão desembocar numa grave crise demográfica. Isto ameaça a sustentabilidade do nosso estado social como o conhecemos, por muitos defeitos que ele tenha. O futuro advinha-se bem pior.
É importante esclarecer que o envelhecimento da população não é um problema em si. Bem pelo contrário, bem enquadrado e bem aproveitado será sempre uma mais-valia, desde a experiência, sabedoria à capacidade económica (criando novo nicho de mercado e alargando alguns já existentes), todos são fatores positivos. Porém, o problema é sustentar (as reformas) o atual sistema de segurança social. Para isso necessitamos de uma alargada população ativa, contrariamente à realidade atual, em que os números estão a diminuir.
Algumas medidas podem ser tomadas para atenuar o problema: propor aos trabalhadores que atingem a idade de reforma opções diferentes das atuais; a possibilidade de ter uma vida ativa mas com um número de horas reduzidas, o que permitiria diminuir o valor a despender pela segurança social e aumentaria o rendimento real dos trabalhadores em idade de reforma. Também se poderia se impor um teto salarial, ou seja, um valor máximo, acima do qual os descontos teriam de ser feitos por opção própria e, se feitos, recorrendo ao setor privado: basicamente, um sistema misto de capitalização público-privado. Uma medida difícil de pôr em prática.
Todavia, quaisquer que sejam às alterações, medidas e opções, elas só retardariam o fim já esperado: a insustentabilidade do sistema. De tal modo que a única verdadeira solução é alterar a realidade demográfica, aumentar a taxa de natalidade e provocar um novo baby-boom, por muito paradoxal que posso parecer na sociedade atual.
Contrariamente às mentalidades (de hoje em dia) regentes, onde as pessoas vivem cada vez mais centradas em si próprias, é necessário valorizar e desenvolver novamente valores já existentes: o conceito de família tem de voltar como objetivo central.
O maior entrave a essa alteração de paradigma está na capacidade económica ou, dito de forma mais apropriada, à falta dela, pelo que é necessário criar condições para alterar esse comportamento padrão. Significa isso, criar subsídios de natalidade, apoios no acompanhamento dos mais novos e na sua educação, visto que nenhuma família com rendimentos levemente acima do limiar da pobreza tem capacidade para ter uma família alargada e oferecer condições e oportunidades aos seus filhos para se tornarem (no futuro, em reais) verdadeiras unidades produtivas da nossa sociedade.
Voltamos novamente ao cerne da questão: Portugal vive um momento económico extraordinariamente difícil, onde lhe é pedido que aperte o cinto, que minimize gastos e aumente às receitas, conhecido por nós todos como austeridade. Contudo, para isso é estrangulada a capacidade de consumir das pessoas, a capacidade de viver, e em consequência disso a procura é afetada, com profundos reflexos no tecido empresarial. Este, sem uma procura interna forte, dificilmente consegue ter níveis de alavancagem sustentáveis que permitem internacionalizar-se e exportar.
A esse cocktail junta-se o setor financeiro (a cereja no topo do bolo), que ao invés de financiar a economia e aumentar os níveis de produtividade, tem feito precisamente o contrário, sendo financiado pelo estado, isto é, pelos contribuintes. Qualquer que seja o angulo de visão, o ponto de partido, o cenário é deprimente.
Enquanto não se conseguir responder ao problema económico que se enfrenta, será impossível responder às questões mais profundas. Urge encontrar soluções e consensos sobre o caminho a percorrer, porque o tempo não volta para trás e as soluções são cada vez mais difíceis de encontrar.

David Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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