sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Nascer em Portugal


           As consequências de uma natalidade reduzida e de um envelhecimento da população são de todos nós conhecidos: menos pessoas a contribuírem com impostos e contribuições para a segurança social e mais pessoas reformadas. A verdade é que Portugal tornou-se no país do filho único e, ainda que a baixa fecundidade e a maternidade tardia não sejam um exclusivo português, no nosso país ganham uma dimensão maior.
Ao longo dos últimos anos, a tendência da natalidade em Portugal tem sido de declínio, mas sempre com oscilações. Resta saber se agora estamos num período de oscilação ou já de recuperação.
 De acordo com os números da Unidade de Rastreio Neonatal do Departamento de Genética do INSA, em média terão nascido mais 14 bebés por dia nos três primeiros meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2015. Embora o sinal seja positivo, o relatório do gabinete de estatísticas da União Europeia (UE) mostra que a taxa de natalidade em Portugal no ano passado foi de 8,3%o (isto é, por cada 1.000 residentes), a segunda mais baixa em toda a UE. É uma percentagem que combinada com a taxa de mortalidade de 10,3%o leva o país a apresentar um saldo negativo de -2,2%o na substituição de gerações. Mas a que se devem estes valores?
Entre as principais causas, destaca-se a crise económica e social que se fez sentir nos últimos anos e que condicionou de forma acentuada a natalidade. Muitas famílias portuguesas terão atrasado o projeto de ter um filho devido à situação financeira que se fazia sentir no país. Além do mais, o país perdeu a capacidade de atrair imigrantes, que eram responsáveis por uma percentagem significativa dos nascimentos, e ainda perdeu muitas pessoas jovens devido à emigração. Pessoas que acabaram por ter filhos no estrangeiro.
O que é certo é que, em 2015, nasceram mais cerca de três mil crianças em Portugal do que no ano anterior, e a tendência manteve-se de forma inequívoca nos primeiros meses deste ano. Um sinal de que os portugueses estão a olhar para o presente e futuro com mais confiança, mas também o reflexo de que há muitas mulheres que não podem adiar mais a maternidade.
Ainda assim, estamos num país que tem o número de filhos por mulher mais baixo da União Europeia e o quinto pior do mundo (1,2 filhos por mulher em idade de procriação). O que me leva a questionar: será que estamos a fazer de tudo para as pessoas terem o número de filhos que querem? Na grande parte dos países desenvolvidos, especialmente no Norte da Europa, são fornecidos apoios sociais aos casais para fomentarem a natalidade, enquanto que em Portugal os decisores políticos parecem ignorar essa necessidade.
 Posto isto, torna-se evidente que são precisos com urgência vários incentivos à natalidade. Caso contrário, o sistema de segurança social deixa de ser sustentável e os descontos dos que trabalham deixam de ser suficientes para pagar as pensões dos reformados no futuro.
Na minha perspetiva, é essencial contrariar a inversão da pirâmide demográfica, isto se queremos assegurar a sustentabilidade das gerações futuras. Nesse caso, torna-se indispensável “estimular” a natalidade para que este acréscimo não se torne apenas em mais uma oscilação.

Bela Diana Gomes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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