quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Medicamentos genéricos e a sustentabilidade do SNS

Numa altura em que se faz todo o tipo de esforços para conter as despesas devido à conjuntura económica, os medicamentos genéricos vieram de forma progressiva dar também o seu contributo para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, consequentemente, reduzir as despesas em saúde.
Os medicamentos genéricos são medicamentos com a mesma substância ativa, forma farmacêutica, dosagem e indicação terapêutica que os medicamentos originais mas que oferecem um baixo custo. De forma concisa, os medicamentos genéricos têm a mesma qualidade, eficácia e segurança a um preço inferior ao do medicamento original. Em regra, estes medicamentos são entre 20% a 90% mais baratos do que os correspondentes originais.
Neste sentido e uma vez que o Estado possui elevados encargos com medicamentos, (em 2014, esses encargos representavam 1170,4 milhões de euros para o SNS e 702,7 milhões de euros para os doentes), faz todo o sentido o incremento e o desenvolvimento do mercado de medicamentos genéricos visto que o mesmo se traduz em benefícios relevantes para a sociedade.
E de facto, as sucessivas políticas e campanhas para o uso de medicamentos genéricos começam já a surtir efeitos, desde logo na redução de despesas em medicamentos por parte do SNS. Segundo a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), no primeiro trimestre deste ano, quase metade dos medicamentos vendidos em Portugal já eram genéricos, detendo uma quota nacional de 47,4%, mas existem já algumas farmácias em que esses valores estão acima dos 60%, precisamente a meta que o Governo estabeleceu até ao final da legislatura (2020).
No período entre 2011 a 2015, o SNS poupou na venda de medicamentos em ambulatório 143 milhões de euros, e os utentes 89 milhões. Os dados revelam ainda que durante esse período a quota de mercado dos genéricos aumentou em 11 pontos percentuais, situando-se presentemente nos 47,4%. No entanto, como foi referido acima, em 10 farmácias (Redondo, Mértola, Serpa, Paredes, Almada, Portalegre, Seixal, Cinfães, Trofa e Tavira), a percentagem de medicamentos genéricos vendidos encontra-se já por volta dos 60%. No extremo oposto, surgem 5 farmácias (2 em Lisboa, 1 no Porto e 1 em Castelo Branco) com menor quota de genéricos vendidos, com 30%.
Estes dados, atestam que as progressivas medidas para o aumento de consumo de genéricos, nomeadamente o pagamento de um valor fixo por cada embalagem dos mesmos dispensada nas farmácias, têm tido o resultado previsto. O historial de utilização de genéricos tem sido bastante positivo nos últimos anos, sendo que, em 2006, a quota nacional era de 9,6%, três anos mais tarde era de 15,9% e em 2011 passou para 21,6%, manifestando o crescente nível de vendas.
Contudo, não tem sido um percurso fácil em Portugal, onde a venda destes medicamentos começou muito mais tarde, comparando com outros países da Europa. Em 2001, o consumo de genéricos era de cerca de 1%, enquanto que a média europeia já se situava nos 15%. Além disso, nessa altura, países como a Alemanha e a Finlândia já detinham quotas de 38% e 35%, respetivamente, valores muito distantes dos observados em Portugal. 
Tendo em conta que no ano passado foram vendidos 64 milhões de embalagens de genéricos, no valor de 461 milhões de euros, as políticas adotadas ajustam-se para que esse número continue a aumentar de modo a que haja uma significativa diminuição das despesas em saúde e seja garantida a sustentabilidade do SNS. A campanha atual da Infarmed, “Peça genéricos, não torne a saúde mais cara para todos”, é mais um exemplo das medidas que estão a ser tomadas nesse sentido.
Por todas estas razões, o uso de medicamentos genéricos traduz-se simultaneamente no acesso aos tratamentos mais adequados com a mesma qualidade e mesmos resultados terapêuticos, com a máxima poupança quer para os utentes quer para o SNS.

Mariana dos Santos Cruz

Fonte: Infarmed

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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