terça-feira, 29 de novembro de 2016

Consumo Natalício como Indicador

Todos os anos é comum assistir à preocupação que as famílias portuguesas têm relativamente à época natalícia. O entusiasmo é tanto que, por vezes, vão além das suas possibilidades, para encontrar o presente ideal para os seus entes queridos. Nestes casos, o consumerismo é ultrapassado e, por vezes, as famílias caem mesmo em consumismo, podendo tal ser prejudicial para a sua saúde financeira. Felizmente, não é um cenário geral, e ainda são muitos os que celebram esta quadra em conformidade com as suas possibilidades.
O rendimento disponível das famílias portuguesas para despesas com o natal (presentes, alimentação, bebidas e eventos sociais) pode ser analisado como um indicador do nível de vida e do receio de instabilidade socioeconómica dos portugueses. Através da variação no valor médio dos gastos natalícios dos vários anos, conseguimos analisar a perceção que as famílias portuguesas têm da conjuntura económica do país. Creio que para este indicador ser eficaz é necessário que a amostra inclua inquiridos que celebrem o natal, e estes devem incluir não só as pessoas que incorrem em elevados custos festivos (com compras acima das suas possibilidades) mas também aqueles que não estão dispostos a tal, por recearem demasiado a instabilidade do próximo ano. Se tal for possível, penso que este indicador é simples, comparável e fidedigno. Logo, deverá ser tido em conta em análises de consumo.
Para o natal de 2016, as famílias portuguesas estão dispostas a gastar € 359, mais de dois terços do salário mínimo. Sendo que este valor é em €45 superior ao de 2015, o que me dá a entender que os portugueses estão mais confiantes no estado atual da economia. A meu ver, as famílias estão um pouco melhor financeiramente, contudo creio que não seja suficiente para um aumento tão elevado. Esta variação positiva está em  contraciclo com os restantes países europeus, segundo o estudo sobre o consumo na quadra natalícia da Deloitte. “Pela primeira vez desde 2009, a expectativa relativa à evolução do poder de compra é também menos pessimista em Portugal do que a média da Europa, o que poderá explicar este sentimento mais positivo”.
É importante referir o que leva os portugueses a gastar mais no natal. As promoções típicas da época são a resposta de grande parte dos inquiridos. Outros afirmam que é o facto de se quererem divertir e evitar pensar na incerteza económica. Os restantes asseguram aumentar as suas compras face aos anos anteriores devido ao aumento do rendimento disponível.  Em posição contrária estão aqueles que esperam gastar menos este Natal, sobretudo devido à redução do rendimento disponível e à expetativa de continuidade da recessão económica, motivos também apontados pelos nacionais dos restantes países europeus. Na minha opinião, embora estudos apontem para melhorias na economia, essa melhoria ainda não se fez sentir o suficiente no nível de vida da população. Logo, acho errado um clima de gastos excessivos quando pouco tempo passou da crise económico-financeira. Assim sendo, vou de encontro à opinião dos cidadãos dos outros países europeus.
Em suma, penso que este indicar pode ser muito útil para mensurar a visão que a nossa população tem acerca da economia. É relevante referir que mais de metade dos consumidores portugueses tencionam utilizar o subsídio de natal para as compras de natal, e pensam que este não será suficiente. Penso então que a saúde financeira das famílias não evolui tão favoravelmente. Caso contrário os consumidores não estariam à espera de receber o subsídio.

Ana Catarina Gomes Peixoto de Sousa Baptista

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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