sábado, 12 de novembro de 2016

Estamos a ´uberar`?

A Uber é uma plataforma tecnológica que liga pessoas que procuram um meio de transporte privado com aquelas que estão disponíveis para levá-las ao seu destino. Criada no ano de 2009, em São Francisco, proporciona atualmente mais de 3 milhões de viagens por dia, em mais de 350 cidades de 67 países, inclusive Portugal.
Por cá, a Uber opera desde 2014, funcionando com dois tipos de serviços: UberBlack e UberX. A UberBlack é considerada a versão de luxo, uma vez que utiliza veículos de gama alta, enquanto que a UberX é a versão low-cost, contando com veículos de classe média/baixa.
A Uber inovou o setor dos transportes de ligeiros. Para além de permitir saber, antecipadamente, quanto lhe vai custar a viagem, o tempo estimado de espera pelo veículo, acede também aos dados do condutor – nome, fotografia e classificação que este obteve dos seus clientes anteriores. Caso o cliente não se encontre satisfeito com os dados do mesmo terá a oportunidade de selecionar outro. Desta forma, a Uber garante que todos os motoristas exercem a sua atividade da forma mais profissional possível, tentando proporcionar experiências personalizadas e, por consequência, a melhor possível. Para além disso, o cliente Uber não precisa de se preocupar com o dinheiro que possui consigo, uma vez que o valor da viagem é debitado através da conta criada na aplicação para o efeito. No final da viagem, o cliente deve preencher um formulário de forma a avaliar a viagem.
Para a introdução da Uber no mercado, muito contribuiu o facto dos seus principais concorrentes, os táxis, não terem evoluído nos últimos anos, prosseguindo com serviços de baixa qualidade e a preços muito elevados. Considera-se também evidente que a Uber se aproveitou de buracos legais, sendo considerada pelos taxistas um concorrente desleal, atendendo ao facto de lhe ser exigido menos – por exemplo, ao nível de alvarás e licenças dos seus motoristas. 
À semelhança de outros países, a introdução da Uber no mercado português gerou uma enorme polémica e indignação por parte da classe taxista. O serviço é “ilegal, publicitado de forma enganosa e constitui um risco para quem o utiliza”, “uma prática de concorrência ilegal, dificilmente controlável, fortemente prejudicial para este setor e de difícil reparação”, e ainda que levará à supressão de empregos, refere a ANTRAL (Associação Nacional dos Transportes Rodoviários em Automóveis Ligeiros). Em suma, os taxistas defendem que o serviço deve ter requisitos semelhantes ao deles – ao nível da taxação, seguro automóvel, licenças/alvarás e horas de formação. Acreditam também que, a existir a aplicação, esta deverá estar na posse de pessoas credenciadas para a prática da atividade – os taxistas.
Em resposta às reivindicações anteriores, Rui Bento, diretor geral da Uber em Portugal, afirmou que “a Uber pode operar como plataforma de tecnologia tal como o Booking pode ligar pessoas a hotéis, o Airbnb pode ligar pessoas a apartamentos. Uma central de táxis, no limite, pode ligar pessoas a motoristas de táxi”.
Existem dois caminhos para os taxistas perante a nova concorrência: olhar para o novo serviço como uma oportunidade, integrando parte do mesmo de forma a melhorar o seu serviço e tentar ganhar vantagem competitiva ou, por outro lado, tentar impedir a Uber de funcionar. Infelizmente, e atendendo às recentes manifestações efetuadas, parecem ter optado pelo caminho da tentativa de bloqueio da operação da empresa, tendo até surgido ataques a motoristas e carros. Considerarão que condicionar a liberdade ao passageiro é a melhor solução?
Parecem, porventura, esquecer-se da grande vantagem em relação ao novo serviço – o facto de se encontrarem presentes em todas as cidades do território. Saliente-se que o aumento da competição estimula todos os players, garantido um aumento do bem-estar da sociedade. A competição já levou à introdução de aplicações como o Meo Táxi ou o 99Taxis, permitindo o combate à falta de qualidade do serviço ao cliente. Afinal, enquanto a decisão estiver no lado do cliente, este optará sempre pelo serviço que lhe proporcione uma maior utilidade: maior satisfação e menores preocupações.

Telma Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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