quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

BPP, a que preço?

Um consórcio de seis instituições financeiras empresta cerca de 450 milhões de euros ao Banco Privado Português. Tal acção só se tornou viável com o apoio do Estado a este banco, pois a insolvência em que este caiu, retirou-lhe a possibilidade do empréstimo interbancário à taxa de juro praticada no mercado. Mas porque tal aconteceu? Quais os problemas que podem advir destas garantias bancárias?

O Banco Privado Português (BPP) é um pequeno banco de investimento que promove a gestão de patrimónios, tendo cerca de dois mil milhões de euros em activos sob gestão e capitais próprios de 256 milhões de euros, recentemente tem vindo a enfrentar dificuldades financeiras, muito por culpa da crise que se abate sobre os mercados financeiros. Assim sendo foi necessário a intervenção de um consórcio de seis instituições para salvar este banco. Este consórcio de seis instituições financeiras irá emprestar 450 milhões de euros ao BPP. O consórcio é constituído pela Caixa Geral de Depósitos (CGD), o Banco Comercial Português (BCP), o Banco Espírito Santo (BES), o Banco Santander Totta, o Banco BPI e a Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo. Em contrapartida, o Estado irá conceder uma garantia aos bancos credores e para isso vai penhorar activos do BPP no valor de 672 milhões de euros.
Recentemente a agência “Reuteres” mencionou que o eventual colapso do BPP poderá não implicar um risco sistémico directo, contudo, poderá causar um agravamento da facilidade de financiamento de bancos nacionais no estrangeiro devido ao BPP não poder pagar os empréstimos externos actuais. Tal efeito, levou a que os bancos privados se empenhassem em conjunto com o estado para não deixar falir este banco. Mas a que custo? Quais as consequências de se querer manter uma imagem externa? Quais as consequências para os contribuintes? Todas estas perguntas estão agora, mais que nunca, a ser levantadas pelos contribuintes e pelas instituições financeiras, que assistem a esta insolvência com muita atenção.
Toda esta ajuda pode desencaminhar e indisciplinar o banco caso não seja regulado e revista as políticas internas, pois com toda esta ajuda poderão demorar a responder aos desafios que se avizinham em termos financeiros, por se sentirem seguros pelo Estado, e visto que as melhores previsões de crescimento não são muito animadoras, também não se prevêem grandes alterações de crescimento nos activos financeiros do BPP. Ora se tal acontecer poderá levar a um incumprimento dos contratos celebrados com os consórcios e com o Estado. Tal significa a falência do BPP e posterior perda monetário do estado, pois os activos deste banco só representam um quinto do montante requerido em empréstimo actualmente. E como tal, só existe uma solução, o Estado cumprir com o que se propôs.
A questão que se levanta é até que ponto o Estado, que representa a população portuguesa, apoia um banco que está insolvente e que já não consegue arranjar fundos para fazer frente à crise que vive quando o próprio mercado o “condenou”, com os fundos vindos dos impostos pagos com o intuito de melhorar as condições de vida da população portuguesa. Tal questão poderá ter uma resposta simples, ou deixa a mão invisível actuar no mercado e deixa o banco falir, com todas as implicações ou aposta no banco e nacionaliza-o, vendendo posteriormente o banco quando estiver com lucros.
Outra questão que se coloca é o facto de depois de o Estado apoiar o BPP, porque não coloca alguém na administração para que possa vigiar de perto todas as mudanças e decisões. Esta ideia é apoiada pelo facto de que mesmo após o Estado dar este apoio, ainda não entreviu de maneira exigir uma contrapartida para este apoio, de maneira a salvaguardar os interesses dos cidadãos portugueses que apoiam o Estado. Esta opção, é relevante visto que está em jogo o dinheiro público que deveria ser encaminhado para a construção de Hospitais, escolas, estradas, pagamento do salário público, etc…
Resta salientar que recentemente o BPP teve lucros astronómicos, e só pelo facto de terem feito transacções em formas de investimento com elevado risco, sem a diversificação necessária, colocou este banco na situação que está de insolvência.
Posso então concluir que esta situação que vive o BPP poderá causar grandes transtornos na economia portuguesa, pois poderá levar à perda de fundos públicos e à diminuição da credibilidade financeira a nível internacional pelo incumprimento do BPP com as suas obrigações. O posicionamento do Estado em relação ao BPP pode simplesmente passar todo este problema para as gerações futuras, pois alguém terá que pagar as garantias bancárias dadas ao BPP.
Jorge Miguel Silva Mariz
jorgemiguelmariz@hotmail.com
(artigo de opinião)

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