quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Emprego Precário em Portugal: fome e fartura

O nosso país continua no topo, logo abaixo do México e da Turquia, no ranking dos países com maiores desigualdades sociais. Segundo a OCDE, se houve em Portugal uma melhoria de distribuição de rendimentos entre os anos 70 e 80, a partir daí, durante 30 anos de governos, nunca mais pararam de crescer as desigualdades, com ricos sempre mais ricos e os pobres sempre mais pobres. Hoje até famílias das classes médias pedem, em número cada vez maior, ajuda ao Banco Alimentar contra a Fome. Mas nem tudo são más notícias: se os portugueses (os que têm trabalho) ganham pouco mais de metade (55%) do que se ganha na zona euro, os nossos gestores recebem, em média, mais 32,1% que os americanos, mais 22,5% que os franceses, mais 53,5% que os finlandeses e mais 46,5% que os suecos.
O Governo propõe aumentos de 2,9% para a função pública, o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE) começou por reivindicar aumentos de 4%, mas baixou a sua proposta sucessivamente para 3,5 e 3,5 por cento.
Com tantas reclamações por parte destes quadros públicos e olhando à situação dos gestores do nosso país, que dizer do aumento de 83% dos contratos precários numa década?
No nosso país, o número de trabalhadores com contratos a prazo e a recibos verdes disparou na última década e tem vindo a ganhar peso na estrutura do emprego. Mais de 800 mil trabalhadores estão a termo ou a recibos verdes, representam já 20,5% dos empregados por conta de outrem.
Os dados do INE mostram que, ao longo da última década, a precariedade tem vindo a ganhar uma expressão cada vez mais significativa no total do emprego em Portugal e que o número de trabalhadores com um lugar assegurado nos quadros das empresas tem vindo a regredir. Tendo em conta o gráfico abaixo, podemos ver que na última década os contratos a termo e os recibos verdes têm vindo a ganhar peso na estrutura do emprego.
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Não serão estes dados bastante elucidativos relativamente ao ambiente de crise e descrença no nosso país? Se por um lado assistimos a remunerações exorbitantes dentro dos altos cargos que, como se não bastasse, têm garantidas reformas vitalícias bastante significativas, por outro temos uma larga maioria que vai todos os dias para o emprego sem saber se no mês seguinte terá ou não rendimentos para cobrir as despesas que são certas.
Não estão em causa apenas questões económicas quantificáveis como os salários, mas também problemas estruturais da nossa sociedade. As verbas gastas nestas remunerações e pensões astronómicas podiam ser, parte delas, canalizadas para um investimento que pudesse trazer benefícios para a sociedade num todo. Uma percentagem dessas verbas ajudaria muitas PME’s a garantirem o emprego e salários de muitos dos seus trabalhadores.

Ana Sofia M. Gerós
sofiageros@hotmail.com
(artigo de opinião)

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