terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Investimento Directo Estrangeiro na economia portuguesa

Desde os meados da década de 90 que os investidores estrangeiros deixaram de procurar Portugal como destino para os seus investimentos. Embora não haja total consenso quanto aos motivos que levaram os investidores estrangeiros a preferirem outras localizações para os seus investimentos, torna-se conveniente diagnosticar as razões por que não temos sido capazes de atrair e reter mais investimento para procurar corrigir, superar ou compensar e, consequentemente, praticar uma política de atracção de investimento estrangeiro mais atractiva e voluntária, nomeadamente no domínio do marketing e dos incentivos.
Um dos motivos que explica a diminuição dos Investimentos estrangeiros em Portugal tem a ver com o alargamento da EU-15 aos países da Europa Central e Oriental. O aumento das vantagens relativas que estes países obtiveram devido á sua proximidade física com os grandes mercados do centro da Europa, a existência de uma mão-de-obra relativamente mais qualificada e barata do que a portuguesa e a vontade e determinação dos novos Estados-membros de vencer, captou a “atenção” dos investidores estrangeiros.
Para além da perda de investimento, Portugal nos últimos anos também não tem conseguido evitar a deslocalização de algumas empresas internacionais, o que é preocupante na medida em que traz consequências negativas para a região onde se encontravam e sofrimento para os trabalhadores que perdem o emprego.
Este decréscimo no investimento estrangeiro tem sido cada vez mais acentuado, podendo-se observar pela posição (23º lugar), que Portugal ocupou em 2007, no Ranking dos países beneficiados.
A explicação para este decréscimo poderá estar na estrutura inalterada do Investimento Directo Estrangeiro (IDE) que se tem verificado em Portugal, pois a indústria continua a manter e a reforçar uma posição dominante (67%) e o sector dos serviços não tem acompanhado a tendência de crescimento europeia. De acordo com o estudo desenvolvido por Ernest&Young, “Apesar dos novos investimentos industriais identificados terem sido bastante diversificados – incluem a montagem automóvel, electrónica, investigação científica, química, farmacêutica e eléctrica – os dados mostram que é ainda a mais tradicional actividade transformadora, menos geradora de mais-valias e de diferencial de competitividade, que tem a mais relevante quota de mercado (55%) do IDE em Portugal.” Esta tendência resulta do facto do sector automóvel continuar a ter bastante relevância, ao contrário do que se verifica na Europa.
Além disso, o facto de em 2007 Portugal ter sido o quarto maior destino de IDE de Espanha, faz com que a economia portuguesa esteja a ser afectada pela actual crise que o país vizinho enfrenta.

Mas por que razão os investidores estrangeiros perderam o interesse em Portugal?
De acordo com a E&Y, os investidores estrangeiros não querem investir em Portugal devido á fraca atracção da legislação portuguesa, principalmente no que concerne á contratação, despedimento e horários de trabalho.
Muitos investidores consideram ainda que em Portugal existe uma fraca flexibilidade laboral, um sistema judicial lento, os custos de trabalho são elevados, o diálogo com a administração fiscal é difícil e que o ambiente político e legislativo é instável.
Em suma, em vez de políticas de atracção de longo espectro, caras e geralmente pouco eficazes por serem demasiado genéricas, é preferível adoptar políticas específicas, selectivamente orientadas e bem focadas nos projectos alvo, isto é, projectos que produzem em Portugal bens e serviços exportáveis, para assim darem um contributo da melhoria da Balança de Pagamentos e também projectos relacionados com a economia do conhecimento, para assim poder avançar nos domínios em que está atrasada.

Ana Matilde Carvalho Gonçalves
tildegoncalves@gmail.com
(artigo de opinião)

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