Como ainda não bastava a actual crise financeira, somos brindados com a descoberta de uma mega-fraude, a um nível não menos espectacular.
No final da semana passada um dos mais influentes financeiros de Wall Street, Bernard L. Madoff, que geria fundos há mais de 40 anos, foi detido pelas autoridades federais norte-americanas por alegada fraude, que provocará perdas a inúmeros investidores, a rondar uns exuberantes 38 mil milhões de euros. Dessa extensa lista fazem parte por exemplo o Banco Santander, com cerca de 2.330 milhões de euros nos fundos de Madoff em nome dos seus clientes, a norte-americana Fairfield Greenwich Group que tinha colocado 7.500 milhões de dólares, correspondente a metade dos seus activos, e também a Union Bancaire Priveé (UBP) com perdas que ascenderam aos 851 milhões de dólares, entre muitos outros. Já em Portugal, o impacto é mais “modesto”, com apenas o BES e o Santander Totta a serem afectados indirectamente, somando perdas de 15 e 16 milhões de euros respectivamente.
Madoff, era visto como um homem que subiu na vida por mérito próprio, através da realização de objectivos cada vez maiores e ambiciosos, e que se notabilizou pela sua actividade no mercado financeiro, chegando um dia, a presidente do NASDAQ. A sua reputação bem como a confiança que lhe depositavam os seus clientes, era essencial, e factor-chave, para o sucesso do seu negócio, a Bernard L. Madoff Investment Securities, que operava desde 1960. Cai agora em desgraça depois de conhecido o esquema fraudulento da sua conceituada instituição, um sistema em pirâmide, que consiste em pagar rendimentos elevados, com o dinheiro de novos investidores que vão entrando e não com ganhos efectivos, gerados em aplicações financeiras. Sendo assim, os novos investidores que entram na base alimentam quem está no topo ou nos níveis superiores. O que falhou então? O facto de determinadas instituições, em contexto actual de crise, pedirem o resgate de quantias avultadas, que não estavam disponíveis, mas que serviram para pagar a investidores mais antigos e de grau hierárquico superior na pirâmide, para além, da não menos “nobre” denúncia de um dos filhos de Madoff.
Uma questão que se coloca, é como uma situação destas consegue passar despercebida por todos e por tanto tempo (40 anos), e também, supostamente, pela SEC (Securities and Exchange Comission) que é a entidade responsável pela regulação do mercado norte-americano. Houve uma clara falha desta, mesmo depois de existirem denúncias credíveis há quase uma década. Ou será que a “rede fraudulenta” conspurcava também esta instituição através de influências?
Põe-se então em causa a qualidade da supervisão financeira das autoridades norte-americanas, que é reincidente (colapso do Bear Stearnse do Lehman Brothers), e consequentemente poderá duvidar-se da capacidade reguladora de outras instituições criadas para o mesmo fim, noutros países. Para além de se começar a analisar mais atentamente onde se investe, com efectiva segurança.
É um problema sério, este da confiança. Se não podemos sossegar, e damos azo à dúvida, pensando que os nossos investimentos que estão afinal nas mãos de alguma instituição, supostamente credível, e de grande reputação, podem de um dia para o outro desaparecer, e que não temos uma entidade reguladora que faça o seu trabalho decentemente, pergunto, e num tom quase pessimista mas a roçar o real: Em quem podemos confiar? No que podemos acreditar? O remédio será confiar, desconfiando.
Maddof aguarda julgamento a 19 de Dezembro e enfrenta uma pena de 20 anos de prisão.
“Em Terra de cegos, quem tem um olho é rei”.
João Manuel Nunes Silva
joaonunessilva@netcabo.pt
No final da semana passada um dos mais influentes financeiros de Wall Street, Bernard L. Madoff, que geria fundos há mais de 40 anos, foi detido pelas autoridades federais norte-americanas por alegada fraude, que provocará perdas a inúmeros investidores, a rondar uns exuberantes 38 mil milhões de euros. Dessa extensa lista fazem parte por exemplo o Banco Santander, com cerca de 2.330 milhões de euros nos fundos de Madoff em nome dos seus clientes, a norte-americana Fairfield Greenwich Group que tinha colocado 7.500 milhões de dólares, correspondente a metade dos seus activos, e também a Union Bancaire Priveé (UBP) com perdas que ascenderam aos 851 milhões de dólares, entre muitos outros. Já em Portugal, o impacto é mais “modesto”, com apenas o BES e o Santander Totta a serem afectados indirectamente, somando perdas de 15 e 16 milhões de euros respectivamente.
Madoff, era visto como um homem que subiu na vida por mérito próprio, através da realização de objectivos cada vez maiores e ambiciosos, e que se notabilizou pela sua actividade no mercado financeiro, chegando um dia, a presidente do NASDAQ. A sua reputação bem como a confiança que lhe depositavam os seus clientes, era essencial, e factor-chave, para o sucesso do seu negócio, a Bernard L. Madoff Investment Securities, que operava desde 1960. Cai agora em desgraça depois de conhecido o esquema fraudulento da sua conceituada instituição, um sistema em pirâmide, que consiste em pagar rendimentos elevados, com o dinheiro de novos investidores que vão entrando e não com ganhos efectivos, gerados em aplicações financeiras. Sendo assim, os novos investidores que entram na base alimentam quem está no topo ou nos níveis superiores. O que falhou então? O facto de determinadas instituições, em contexto actual de crise, pedirem o resgate de quantias avultadas, que não estavam disponíveis, mas que serviram para pagar a investidores mais antigos e de grau hierárquico superior na pirâmide, para além, da não menos “nobre” denúncia de um dos filhos de Madoff.
Uma questão que se coloca, é como uma situação destas consegue passar despercebida por todos e por tanto tempo (40 anos), e também, supostamente, pela SEC (Securities and Exchange Comission) que é a entidade responsável pela regulação do mercado norte-americano. Houve uma clara falha desta, mesmo depois de existirem denúncias credíveis há quase uma década. Ou será que a “rede fraudulenta” conspurcava também esta instituição através de influências?
Põe-se então em causa a qualidade da supervisão financeira das autoridades norte-americanas, que é reincidente (colapso do Bear Stearnse do Lehman Brothers), e consequentemente poderá duvidar-se da capacidade reguladora de outras instituições criadas para o mesmo fim, noutros países. Para além de se começar a analisar mais atentamente onde se investe, com efectiva segurança.
É um problema sério, este da confiança. Se não podemos sossegar, e damos azo à dúvida, pensando que os nossos investimentos que estão afinal nas mãos de alguma instituição, supostamente credível, e de grande reputação, podem de um dia para o outro desaparecer, e que não temos uma entidade reguladora que faça o seu trabalho decentemente, pergunto, e num tom quase pessimista mas a roçar o real: Em quem podemos confiar? No que podemos acreditar? O remédio será confiar, desconfiando.
Maddof aguarda julgamento a 19 de Dezembro e enfrenta uma pena de 20 anos de prisão.
“Em Terra de cegos, quem tem um olho é rei”.
João Manuel Nunes Silva
joaonunessilva@netcabo.pt
(artigo de opinião)
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