terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Descida das taxas de juro: Boa ou Má notícia…

A decisão do Banco Central Europeu (BCE) apresentada no passado dia 4 de Dezembro, consiste na redução mais baixa da história das taxas de juro do BCE, baixando em 75 pontos base a taxa de juro de referência, fixando-a nos 2,5 por cento. Este é o terceiro corte consecutivo das taxas directoras, depois dos cortes de Outubro e Novembro, ambos de 50 pontos base.
Sabemos que as principais razões que levam os responsáveis dos bancos centrais a tomarem a decisão de baixar as taxas de juro são a estimulação do consumo, o investimento e o crescimento económico. No entanto, o impacto das mexidas no preço do dinheiro funciona em dois sentidos distintos como as duas faces de uma moeda: por um lado há quem seja favorecido e, por outro, há sempre quem perca.
Os portugueses que têm um crédito à habitação figuram entre os principais beneficiados por um corte de juros, já que este pode levar a que as taxas Euribor aliviem ainda mais e se aproximem da taxa de referência do BCE. Mas será que esse benefício se manifesta de imediato? Não, as famílias com créditos ainda vão ter de esperar, pelo menos dois meses, até verem esta redução reflectida nas respectivas prestações mensais, uma vez que as taxas que importam para o crédito à habitação, por exemplo, são as Euribor e estas ainda estão 1,2 por cento mais altas do que a taxa do BCE. As famílias só sentirão a queda se as taxas Euribor continuarem a descer e os contratos de empréstimo forem sendo revistos.
A descida dos juros também tem um impacto positivo sobre as empresas, já que se reflecte numa diminuição dos encargos do endividamento, passando as empresas a ter menores dificuldades de financiamento. Outro dos beneficiados com a descida das taxas de juro é o Estado, ganhando com a diminuição do preço do dinheiro já que o seu plano de financiamento fica mais barato, pois quer a emissão de obrigações do tesouro quer a emissão dos certificados de aforro se torna mais barata.
Os bancos vêem na descida de juros a oportunidade de aumentarem as suas margens, e o receio de emprestarem dinheiro entre si diminui.
O outro lado da moeda recai sobre os portugueses que tenham ou pretendam aplicar o seu dinheiro, por exemplo, em certificados de aforro já que as taxas de remuneração deste produto emitido pelo IGCP deverão sofrer penalizações. Da mesma forma, quem pretender aplicar o seu dinheiro num depósito a prazo deverá ver o seu retorno baixar, pois existe uma maior facilidade dos bancos captarem recursos junto dos restantes bancos, não necessitando tanto dos depósitos dos clientes e a remuneração dessas aplicações baixa.
Quem tiver investimentos cambiais poderá igualmente sofrer de um impacto negativo no bolso, já que a moeda da zona euro poderá depreciar-se face às pares sendo consequência da menor procura de euros, uma vez que os depósitos na região se tornaram menos atractivos.
Relativamente às bolsas nota-se um clima de pessimismo, uma vez que os investidores interpretaram este corte como um sinal de alarme e de que a economia europeia estará afinal ainda pior do que se pensava, também o corte de 100 pontos base efectuado pelo Banco de Inglaterra, para os 2% e ainda a divulgação, por parte do Eurostat, de que a economia da zona euro no terceiro trimestre registou uma contracção de 0,2%, o que confirma uma recessão técnica, contribuiu para deixar os investidores preocupados, resultando num acentuar de perdas por parte da Europa.
Entre vencedores e vencidos, contribuirá esta descida para que a economia europeia consiga resistir? Talvez sim, talvez não, pois ainda se esperam novas descidas nos próximos meses, o que poderá alterar as expectativas dos agentes.

Andreia Patrícia Costa Dias
andreiapcd@portugalmail.pt
(artigo de opinião)

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