domingo, 21 de dezembro de 2008

O desespero da escravidão

Parece que finalmente algo fez abrandar a corrida galopante do crescimento chinês. Nem a grande indústria de brinquedos vai salvar o Natal asiático. As exportações estão a cair a pique e os stocks vão-se acumulando. As fábricas começam a fechar, e o receio da falta de trabalho que antes era apenas mito, começa a tornar-se realidade. As altíssimas taxas de êxodo rural chinês estão agora a tornar-se um problema. A oferta de mão-de-obra ultrapassa a procura, e a falta de protecção social, tais como subsídio de desemprego, nada tem ajudado a esta situação.
O governo já anunciou, entre várias medidas, a desvalorização do Yuan, mas não se cura uma pneumonia com uma aspirina. Actualmente, o aumento da competitividade via taxa de câmbio é questionável. Isto porque, se a China é o maior importador Mundial de matérias-primas, e a sua dependência energética é elevada, uma desvalorização da moeda vai levar ao aumento do preço dos inputs e esta consequência vai-se reflectir no preço dos outputs finais. Por isso o trade-off entre os benéficos e malefícios desta acção pode ser questionável. Por outro lado, a principal causa da queda das exportações chinesas é a crise financeira mundial (o excesso de endividamento), e não o surgimento de um rival directo que pratique preços mais baixos.
Outras economias emergentes estão a sentir na pele os efeitos da actual crise (ex. Brasil). Quando o crescimento está maioritariamente dependente do exterior, e ocorre sem ser planeado, catástrofes podem acontecer. Assim, é de temer o bem-estar das pessoas destes países que, quando vêm a sua situação económica a melhorar, têm a tendência de se endividarem. O problema é que quando a conjuntura se inverte, a distorção do consumo de bens futuros sente-se na pele, e os rendimentos não crescem tanto como se esperava.
O futuro que se aproxima é quase invisível. Como é a primeira vez que surgiu uma crise deste género, as previsões económicas são, de certo modo, incertas. No entanto, o que não é incerto, são as dificuldades que as pessoas com menos rendimentos sofrem no dia-a-dia. Estes indivíduos estão menos protegidos a este abrandamento global, e assim, os governos de cada país deviam preocupar-se mais em criar métodos que as protejam melhor das garras afiadas do sistema financeiro.

Liliana Soraia Ferreira Vieira
liliana_sfv@hotmail.com
(artigo de opinião)

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