quarta-feira, 4 de abril de 2012

Crescimento da Desigualdade Salarial

       Enquanto que o nível salarial e o emprego tem sido motivo de estudo da Economia desde, pelo menos, Adam Smith, a desigualdade salarial entre os mais ricos e os mais pobres apenas ganhou relevância a partir de meados da década de 90. Impulsionado pelo reconhecimento que essa desigualdade estava a alargar-se muito rapidamente num crescente número de países, em especial nos Estados Unidos e no Reino Unido. Segundo dados da OCDE, em média, os 10% mais ricos da população de um determinado país ganham nove vezes mais que os 10% mais pobres, e com tendência para essa diferença se alargar nas economias dominantes.
     A maior parte dos estudos acerca desta matéria apontam o surgimento de nova tecnologia, como os computadores, e dos novos tipos de emprego a ela associados como o principal motivo para o alargamento dessa desigualdade. Surgiram postos que beneficiam trabalhadores com maior nível educacional e que são dessa forma prejudiciais para os salários e perspectivas de emprego dos trabalhadores pouco qualificados. À medida que estas novas tecnologias se difundiam na indústria moderna, a diferença nos salários entre trabalhadores qualificados e não qualificados aumentava, e a procura por trabalhadores qualificados aumentava em detrimento dos não qualificados.
Esta alteração na procura de emprego fez com que os salários para os trabalhadores qualificados, mais procurados, aumentasse e a diminuição da procura por emprego menos qualificado manteve os salários para os mesmos baixos. Mas não foram apenas os trabalhadores com baixas qualificações a ser afectados. Também aqueles com especialização relativa, com trabalhos de rotina viram os seus postos ocupados por novas tecnologias de informação, como exemplo os funcionários dos bancos que desempenhavam funções de contabilidade e de caixa foram substituídos pelas caixas multibanco e sistemas informáticos.
     No topo da estrutura ocupacional, o crescimento e surgimento de novos tipos de empregos qualificados tem sido muito elevado, assim como o crescimento da remuneração para esses mesmos empregos desde os anos 70. Por contraste, o crescimento do nível salarial para empregos menos qualificados tem sido muito baixo. Basta analisar o crescimento do salário mínimo nacional para os vários países. A forte entrada das mulheres no mercado de trabalho neste período também contribuiu para manter este nível salarial, visto que na sua grande maioria tratava-se de mão-de-obra não qualificada, aumentando a oferta de emprego, baixando o poder de negociação dos trabalhadores e mantendo dessa forma os salários baixos.
     Esta desigualdade também é muito evidente se analisarmos diferentes indústrias e o seu nível salarial médio. Por exemplo, as indústrias do calçado, têxtil e outras que também empregam sobretudo mão-de-obra pouco qualificada apresentam níveis muito abaixo da média das outras indústrias. Mas também dentro das próprias indústrias a diferença entre o salário qualificado e o não qualificado é cada vez maior.
     A globalização dos mercados também afecta os salários nas economias dominantes, quando uma indústria de um país dominante compete directamente com países emergentes, os trabalhadores pouco qualificados vêem os seus salários reduzidos ou mantidos em valores baixos como forma de dar competitividade aos produtos.
     Mas a desigualdade salarial não está limitada à luta entre ricos/pobres, está fortemente presente no confronto homem/mulher, sendo que as mulheres ganham apenas em média 75% do salário dos homens que desempenham as mesmas funções. Isto verifica-se ao longo de toda a estrutura ocupacional, tanto para salários mais elevados como para os mais baixos.
     A desigualdade salarial tem efeitos negativos na sociedade que vão para além dos financeiros. A coesão social é afectada, a confiança dilui-se, há menos envolvência e interacção entre estratos sociais, e as taxas de crime aumentam. As medidas que os Governos terão que implementar para inverter esta tendência terão que passar forçosamente por investir no capital humano, no aumento das qualificações da sua população activa, também fazer reformas no mercado de trabalho, alterações no salário mínimo, e alterar o papel dos sindicatos. Em suma, medidas que controlem a distribuição da riqueza, sendo que, evidentemente, apenas uma parte dessa distribuição está sob a jurisdição do Estado.

André Silva


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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