Enquanto que o nível salarial e o
emprego tem sido motivo de estudo da Economia desde, pelo menos, Adam Smith, a
desigualdade salarial entre os mais ricos e os mais pobres apenas ganhou
relevância a partir de meados da década de 90. Impulsionado pelo reconhecimento
que essa desigualdade estava a alargar-se muito rapidamente num crescente
número de países, em especial nos Estados Unidos e no Reino Unido. Segundo
dados da OCDE, em média, os 10% mais ricos da população de um determinado país
ganham nove vezes mais que os 10% mais pobres, e com tendência para essa
diferença se alargar nas economias dominantes.
A maior parte dos estudos acerca desta
matéria apontam o surgimento de nova tecnologia, como os computadores, e dos
novos tipos de emprego a ela associados como o principal motivo para o
alargamento dessa desigualdade. Surgiram postos que beneficiam trabalhadores
com maior nível educacional e que são dessa forma prejudiciais para os salários
e perspectivas de emprego dos trabalhadores pouco qualificados. À medida que
estas novas tecnologias se difundiam na indústria moderna, a diferença nos
salários entre trabalhadores qualificados e não qualificados aumentava, e a
procura por trabalhadores qualificados aumentava em detrimento dos não
qualificados.
Esta alteração na procura de
emprego fez com que os salários para os trabalhadores qualificados, mais
procurados, aumentasse e a diminuição da procura por emprego menos qualificado
manteve os salários para os mesmos baixos. Mas não foram apenas os
trabalhadores com baixas qualificações a ser afectados. Também aqueles com
especialização relativa, com trabalhos de rotina viram os seus postos ocupados
por novas tecnologias de informação, como exemplo os funcionários dos bancos
que desempenhavam funções de contabilidade e de caixa foram substituídos pelas
caixas multibanco e sistemas informáticos.
No topo da estrutura ocupacional, o
crescimento e surgimento de novos tipos de empregos qualificados tem sido muito
elevado, assim como o crescimento da remuneração para esses mesmos empregos
desde os anos 70. Por contraste, o crescimento do nível salarial para empregos
menos qualificados tem sido muito baixo. Basta analisar o crescimento do
salário mínimo nacional para os vários países. A forte entrada das mulheres no
mercado de trabalho neste período também contribuiu para manter este nível
salarial, visto que na sua grande maioria tratava-se de mão-de-obra não
qualificada, aumentando a oferta de emprego, baixando o poder de negociação dos
trabalhadores e mantendo dessa forma os salários baixos.
Esta desigualdade também é muito evidente
se analisarmos diferentes indústrias e o seu nível salarial médio. Por exemplo,
as indústrias do calçado, têxtil e outras que também empregam sobretudo
mão-de-obra pouco qualificada apresentam níveis muito abaixo da média das
outras indústrias. Mas também dentro das próprias indústrias a diferença entre
o salário qualificado e o não qualificado é cada vez maior.
A globalização dos mercados também afecta
os salários nas economias dominantes, quando uma indústria de um país dominante
compete directamente com países emergentes, os trabalhadores pouco qualificados
vêem os seus salários reduzidos ou mantidos em valores baixos como forma de dar
competitividade aos produtos.
Mas a desigualdade salarial não está
limitada à luta entre ricos/pobres, está fortemente presente no confronto
homem/mulher, sendo que as mulheres ganham apenas em média 75% do salário dos
homens que desempenham as mesmas funções. Isto verifica-se ao longo de toda a
estrutura ocupacional, tanto para salários mais elevados como para os mais
baixos.
A desigualdade salarial tem efeitos
negativos na sociedade que vão para além dos financeiros. A coesão social é
afectada, a confiança dilui-se, há menos envolvência e interacção entre
estratos sociais, e as taxas de crime aumentam. As medidas que os Governos
terão que implementar para inverter esta tendência terão que passar
forçosamente por investir no capital humano, no aumento das qualificações da
sua população activa, também fazer reformas no mercado de trabalho, alterações
no salário mínimo, e alterar o papel dos sindicatos. Em suma, medidas que
controlem a distribuição da riqueza, sendo que, evidentemente, apenas uma parte
dessa distribuição está sob a jurisdição do Estado.
André Silva
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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