Que a corrupção anda à solta nos ambientes
políticos e nas esferas municipais já todos sabemos. Basta um olhar pelos
fóruns de debate na rádio, na televisão ou nos jornais online para confirmarmos o repúdio dos portugueses face à
corrupção. Mas será que as nossas
acções do dia-a-dia são pautadas pela ética? O que observamos é que a mesma
pessoa que foge aos impostos ou furta material de escritório, exige ver
transparência e integridade na empresa onde é detentora de acções, no político
no qual vota e no cliente com o qual negocia. Não nos devemos conformar com a
falta de ética dos nossos governantes, mas todos podemos começar a construir um
país mais justo, tendo cuidado com a nossa postura.
Enquanto fracasso do regime democrático e causa das frustrações
do país, está a corrupção. Como mostrou o Barómetro Global da Corrupção da Transparency International, em 2007,
64% dos portugueses achava ineficaz o combate à corrupção no nosso país e,
em 2010, já eram 75%. No entanto, em Novembro de 2011, o Procurador-Geral da
República, Pinto Monteiro, mostrou-se muito aborrecido porque a comunicação
social era levada a concluir que “Portugal é o país mais corrupto do mundo”, o
que “não corresponde à realidade”. Este afirmou que “a corrupção existe em
Portugal e é preciso combatê-la com todos os meios legais existentes, mas
Portugal está muito longe de ser um dos países onde a corrupção atinge os
níveis mais elevados”. Segundo ele, o combate à corrupção deve ser uma
prioridade, mas há “outros ilícitos” a que o Ministério Público também deve dar
prioridade por também serem “altamente lesivos da sociedade portuguesa”,
designadamente a criminalidade organizada e a criminalidade altamente violenta,
que em época de crise “aumenta e gera terror, instabilidade e danos pessoais e
patrimoniais”.
Ainda que concordando com as suas palavras, é
necessário aprofundar a pertinência deste paralelismo, porque, de certo modo, o
crescimento da pobreza está para o crime tal como a falta de ética está para a
corrupção. Quando as condições de vida, numa determinada sociedade, decrescem,
aumentando assim a pobreza generalizada, existe uma tendência comprovada por
muitos estudos para o crescimento da criminalidade. Tal como a factual relação entre pobreza e criminalidade, a
falta de desenvolvimento ético de uma determinada sociedade potencia o
crescimento e desenvolvimento da corrupção, não apenas na esfera política mas
também junto da generalidade da população.
A Linha de Participação Pública no combate à
corrupção surgiu na sequência de uma recomendação da OCDE e visa permitir que
todos os que conhecem fenómenos de corrupção os possam denunciar de forma
anónima. A questão, no entanto, não é assim tão simples. Cândida Almeida,
directora da DCIAP, explicou que a maior parte das denúncias prendem-se com
dívidas fiscais e com o incumprimento de deveres tributários de várias empresas
ou, simplesmente, com pedidos de ajuda das pessoas, o que foge à finalidade da
Linha. Os estudos que medem as atitudes da população face a este fenómeno
apontam para que, nas sociedades democráticas contemporâneas, os cidadãos
convivam mal com a corrupção a nível simbólico, mas a nível estratégico
aceitem a sua funcionalidade.
É no sentido de defesa de medidas formais e
informais de educação para mais ética e
cidadania, enquanto ferramenta de combate à corrupção, que o Conselho de
Prevenção da Corrupção veio defender que o fim das aulas de Formação Cívica é
um retrocesso no combate a este fenómeno, pois essa valência poderia ser
utilizada como veículo para concretizar a vertente da prevenção pela
informação, formação e consciencialização. Pessoalmente, julgo que os
parâmetros de acordo com os quais se tem vindo a leccionar esta disciplina não
são consistentes e muitas vezes esta acaba por ser direccionada para fins pouco
pertinentes. Introduzida no ensino básico em 2001, esta tem sido utilizada
sobretudo pelos directores de turma para resolver problemas e conflitos dos
alunos e portanto julgo necessária a sua reformulação, no sentido de criação de
um espaço mais autónomo, mas não a sua abolição. No âmbito da corrupção, a
Formação Cívica pode incidir, por exemplo, sobre a educação fiscal, a educação
financeira, os direitos dos consumidores ou a economia paralela.
É necessária uma nova consciencialização,
uma mentalidade mais responsável e cívica por parte de todos os cidadãos.
Precisamos de nos tornar nos exemplos que queremos e exigimos aos demais, pois
todos temos o nosso papel a desempenhar para a diminuição da corrupção. Antes
de acusar o próximo devemos actuar correctamente, pois só através dos bons
exemplos podemos incentivar os outros a seguir o mesmo caminho, até mesmo os
nossos políticos!
Telma Valdemar Azevedo da Silva
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