segunda-feira, 23 de abril de 2012

Argentina: Nacionalismo e Proteccionismo

A recente notícia da Presidente da Argentina - Cristina Kirchner- em nacionalizar 51% do património da petrolífera YPF controlada pela petrolífera Repsol, tem marcado a actualidade, gerando forte desconfiança no sector privado, que teme iniciativas semelhantes do governo em outros sectores da economia. Das acções expropriadas, 51% irão passar para a domínio do Estado argentino e 49% serão distribuídos pelas províncias. Com a operação, a petrolífera espanhola vai ficar com cerca de 6% do capital da empresa argentina. A nacionalização sobre a Repsol-YPF não afectará apenas a indústria do país, mas também as relações comerciais da Argentina com outros países, especialmente da Europa.
O Governo argentino defende a sua posição. Primeiramente recusou pagar a indemnização exigida pela Repsol apoiando-se nos danos ambientais vividos, na quebra na produção por falta de investimento e nos gastos excessivos em importação de combustível. Posteriormente, não temendo represálias, começou a procurar parceiros alternativos para a empresa, finalizando na nacionalização da mesma.
Esta decisão, segundo alguns especialistas, foi considerada como "um gesto de hostilidade" contra Espanha e até mesmo contra a Europa. Prevê-se, inclusive, que o ambiente económico das empresas espanholas na Argentina se deteriore, tendo repercussões tanto a nível financeiro como politico. Consequentemente, as reacções desencadearam-se de um modo nada favorável para a Argentina, sendo criticada severamente pela Espanha e pela Comissão Europeia. A UE cancelou a reunião destinada a renovar a ajuda financeira; o Presidente do Governo Espanhol afirmou que a nacionalização da petrolífera rompe o bom entendimento entre os dois países e o Presidente do Banco Mundial considerou a nacionalização como sendo um erro.
Naturalmente, a presente medida teve repercussões imediatas nas acções em Bolsa assim como nos mercados de dívida. Esta operação levou a quedas acentuadas das acções das empresas envolvidas no negócio. A YPF e Sacyr desceram mais de 20% e a Repsol caiu mais de 14%, naquela que foi a pior semana para a petrolífera em mais de três anos. Analistas defendem que a nacionalização terá um impacto considerável na reputação da Argentina, agravado pelo facto de este país ainda se encontrar a recuperar dos danos do incumprimento aquando a intervenção do FMI em 2001, levando à insegurança politica e económica. Presencia-se ainda a retirada de capital pelos investidores estrangeiros; sendo este facto preocupante pois o investimento privado é uma parte chave do desenvolvimento de qualquer país. A Argentina passou, de facto, a ser o terceiro país com mais risco do mundo.
 Serão anunciadas, brevemente, as medidas e acções diplomáticas por parte do Governo Espanhol em reacção à nacionalização da petrolífera. No entanto, mais do que argentino ou espanhol, este é um problema europeu em que nada beneficia a Europa fragilizada que se presencia.

Ana Raquel da Silva Nogueira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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