quinta-feira, 5 de abril de 2012

Desemprego jovem em Portugal

 Nos últimos 13 anos, a taxa de desemprego jovem esteve sempre acima da taxa de desemprego global média do país, mas sofreu um aumento especialmente acentuado a partir de 2010. A razão para tal reside no facto de a actual crise económica ter degradado o mercado de trabalho: com a contracção da economia deixou de haver criação de emprego, ou seja, deixou de existir lugar no mercado de trabalho para nova mão-de-obra; os jovens que efectivamente conseguem ser contratados estão sujeitos a emprego precário, pelo que voltam rapidamente para o desemprego. Assim, os jovens são mais afectados pelo congelamento do mercado de trabalho do que os adultos, que já estão no mercado de trabalho há mais tempo e têm contratos de longa duração.
 Actualmente, o desemprego global nacional encontra-se nos 14,8%, o que equivale a 771 mil portugueses desempregados, valor que ficou acima dos 13,4% previstos pelo Governo e pela troika no Orçamento de Estado para 2012. Por seu lado, a taxa de desemprego jovem atingiu os 35,4% no último trimestre de 2011 (ultrapassando assim a média europeia de 22,4%), afectando 156 mil jovens portugueses com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos; destes, 108 mil são licenciados. É importante referir que esta taxa não reflecte a totalidade da população jovem inactiva, pois existem porções de indivíduos que, por saírem do sistema de ensino e não integrarem o mercado de trabalho ou por já terem desistido de procurar emprego, não entram nestas estatísticas, pelo que a realidade será muito pior.
Esta situação do mercado de trabalho leva a que muitos desempregados (incluindo indivíduos com cursos superiores) optem pela busca de melhores oportunidades de emprego no estrangeiro. Esta fuga de capital humano do país dificulta ainda mais a saída da recessão em que nos encontramos, pois leva a uma perda de competitividade/produtividade da força de trabalho, que assim se vai tornando cada vez mais envelhecida, o que se reflecte numa desaceleração da actividade produtiva do país. Isto cria um ciclo vicioso: a recessão gera desemprego, que por sua vez acentua a recessão.
Surpreendentemente, a problemática do desemprego/desemprego jovem não tem sido alvo da devida atenção por parte do Governo, que, na sua urgência em retirar Portugal da situação dramática em que se encontra, a negligenciou completamente, sendo que as medidas de austeridade contribuíram até para o seu agravamento. Apenas recentemente foram apresentadas medidas de combate ao desemprego, nomeadamente a medida “Estímulo 2012” e o programa “Impulso Jovem”; no entanto, devido às restrições de despesa pública que se verificam actualmente, ambas dependem de financiamento externo, decorrente da reafectação de fundos comunitários.
A medida “Estímulo 2012” entrou em vigor em 14 de Fevereiro de 2012, e consiste no apoio financeiro a empresas que contratem desempregados ou jovens até aos 25 anos de idade e lhes concedam um período de formação; o Estado comparticipa até 60% do salário mensal do trabalhador, até um máximo de 419,22€, durante seis meses. Caso as empresas violem as condições impostas por esta medida, serão obrigadas a devolver parte ou a totalidade do apoio financeiro.
O programa “Impulso Jovem” irá entrar em vigor a partir do segundo trimestre de 2012, caso seja aprovado pela Comissão Europeia, e tem como objectivos reforçar e criar estágios profissionais; o Governo financia a totalidade das bolsas durante o período de estágio, prolongando-se o financiamento durante seis meses adicionais caso a empresa contrate o estagiário, independentemente do tipo de contrato. Todos os desempregados inscritos nos centros de emprego há mais de quatro meses com idades compreendidas entre os 18 e os 34 anos são abrangidos por este programa, independentemente do seu grau de escolaridade e de serem ou não recém-chegados ao mercado de trabalho.
Ambas as medidas se centram no emprego de curto prazo, pelo que podem não ser suficientes para abrandar a ascendência da taxa de desemprego jovem. É no entanto possível que o seu sucesso incentive o Estado a investir mais nos jovens do seu país. 

Inês Macedo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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