quarta-feira, 4 de abril de 2012

Lutar contra a pobreza de hoje, sem esquecer a de ontem, prevendo a de amanhã

A Europa enfrenta a pior crise financeira, económica, social e política desde a década de 30 do século XX. Como consequência, mas não exclusivamente, Portugal defronta hoje uma situação de crise económica e social à qual é fundamental responder com responsabilidade mas igualmente com justiça e equidade, no respeito absoluto pela dignidade de cada ser humano.
O modelo económico e financeiro, suportado pelo enviesamento da Estratégia Europeia de Lisboa piorou a situação de pobreza e exclusão social de milhares de cidadãos europeus, dando prioridade e exclusividade aos vetores “crescimento e emprego”. Em grande medida, a União Europeia deu prioridade à liberalização e ao crescimento de mercados não regulados em vez de investir em estratégias que promovessem a equidade, a justiça social, a redução da pobreza e das desigualdades na União Europeia e no mundo. A nova Estratégia Europeia 2020, em vez de aprender com os erros anteriores e com as suas terríveis consequências volta a reproduzi-los num contexto de clara recessão económica, apostando novamente no eixo do crescimento e competitividade. A par de uma insistência no mesmo tipo de estratégia, regista-se uma fraquíssima ambição da União Europeia ao comprometer-se, para um período de 10 anos (2010-2020), com uma meta de reduzir o atual número de 84 milhões de pobres (dados de 2008) em 20 milhões.
As causas para a atual situação são várias. De forma global, o contexto internacional desfavorável decorrente da crise de 2008, eminentemente de carácter financeiro, expressando as consequências de opções erradas e de uma ausência de regulação e coordenação de políticas económicas e financeiras, que favoreceram, durante um longo período, a especulação. Em Portugal e, de certa forma como consequência do contexto internacional, poderemos falar de uma desregulação dos mercados, de especulação imobiliária, de parcerias público-privadas que lesaram o interesse público, bem como nas desigualdades na distribuição dos rendimentos (fosso entre ricos e pobres – um dos mais elevados da União Europeia). Também os grandes investimentos públicos constituíram um problema gravíssimo para as contas nacionais, sobretudo tendo em consideração as enormes e nem sempre bem justificadas derrapagens orçamentais e a dificuldade em responsabilizar legalmente os responsáveis por esses erros e derrapagens.
Como é sabido, Portugal enfrenta também problemas económicos sérios, como consequência do comportamento altamente condenável de alguma Banca privada, que acarretou fortes prejuízos para as contas públicas, criando um clima de desconfiança nos mercados internacionais. O consumo privado foi também fortemente abalado com a atual crise: durante demasiado tempo as famílias portuguesas foram induzidas a aderir a créditos ao consumo e aquisição de bens imóveis que provocaram um preocupante e extenso endividamento das famílias. Esta situação tornou-se ainda mais complicada com o recente e crescente aumento da taxa de desemprego que atingiu, e continua a atingir, muitos agregados familiares.
Outro dos fatores responsáveis pela crise em Portugal prende-se com a falência de muitas empresas (particularmente pequenas), muitas vezes como consequência da deslocalização de outras empresas, nomeadamente estrangeiras, para países onde os custos de produção (particularmente a mão-de-obra) são mais baixos.
Portugal não tem sido capaz de captar e de fixar o investimento privado e quando o consegue, fruto de incentivos públicos, este não se fixa definitivamente, ou seja, não há um compromisso entre o sector empresarial e o Estado de manutenção dos postos de trabalho e de criação e distribuição de riqueza em Portugal.
De facto, Portugal tem usufruído de Fundos Estruturais desde a década de 80 e o sentimento aponta para uma clara ineficácia na aplicação destes investimentos, sobretudo no que diz respeito à promoção do bem-estar e à redução das desigualdades. Ao longo destes anos verificou-se um forte investimento em grandes obras públicas, mas não foi alcançado o desenvolvimento do país em áreas prioritárias, como a educação/formação, combate à pobreza e redução das desigualdades, competitividade/mercado de trabalho. 
Assim, o modelo económico que vigorou até aqui revelou uma completa ineficácia na construção de uma economia sólida, que gere riqueza e que favoreça a inclusão social. O modelo a seguir terá fatalmente que ser outro, onde a principal diferença seja que o mesmo assente no bem-estar coletivo e na criação de condições para uma progressiva redução das desigualdades. O primeiro capital a preservar e valorizar terá que ser a pessoa humana na sua integridade.

Joana Cristina Alves Oliveira 


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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