Este é o título do vídeo no YouTube do discurso de
Miguel Gonçalves no programa TedxYouth@Braga, que se encaminha para um generoso
meio milhão de visualizações. Este programa consiste num conjunto de eventos
onde são reunidos oradores considerados “agentes de mudança a nível mundial”,
sendo as suas palestras criadoras de inspiração para a plateia. Miguel
Gonçalves tem-se encaixado nesse perfil nos últimos tempos, desde a sua
aparição do programa da RTP1 Prós e Contras.
Miguel é licenciado em Psicologia, apesar do papel
que poderia ter interpretado se ter invertido um pouco: não é procurado para
ouvir problemas, é antes requisitado para expor possíveis soluções. A sua veia
de empreendedor traduz-se hoje na agência Spark, sediada em Braga, que promove
projectos como o “So Pitch”, que permite aos jovens terem um contacto diferente
com as empresas. Os primeiros apresentam projectos ou ideias de negócios que
possam interessar aos segundos, de maneira a potencializar uma relação
empresarial entre ambas as partes. Este foi um projecto bastante rentável,
sendo que na primeira edição, em Março de 2011, foram criadas cinco empresas.
Outro projecto também desenvolvido pela Spark, chamado Udini, tem também
objectivos semelhantes. São feitas reuniões entre os empresários e os
potenciais empreendedores, onde são dados conselhos e soluções para a
integração no mercado de trabalho dos inscritos.
Miguel tem deliciado os seus ouvintes,
especialmente licenciados, com mensagens de incentivo e esperança para o
mercado de trabalho português. Mas estabelece alguns pontos que devem ser tidos
em conta pelos jovens à procura de emprego:
- As licenciaturas são, hoje, chaves de fendas,
que por si só não têm valor. Cabe a cada um de nós transformar o conhecimento
num produto que interessa às empresas comprar;
- Refere que as empresas valorizam mais a atitude
e a motivação de resolução de problemas do que propriamente os skills técnicos;
- CV não corresponde a Curriculum Vitae, mas a Canal de Vendas. Afirma que actualmente os
currículos são lixo electrónico. Os empresários não estão propriamente
interessados em imensas páginas de informação que não é íntima e pessoal;
- Tal como as empresas, devemos adaptar-nos ao
mercado. Essa adaptação pode passar por uma mudança na forma como divulgamos e
apresentamos o nosso produto, ou até o local onde o estamos a disponibilizar.
No limite da situação, devemos mesmo mudar aquilo que vendemos. Isso pode
passar, por exemplo, pelo investimento em educação numa área completamente
distinta da que nos propusemos inicialmente.
Estes são, efectivamente, conselhos a ter em conta
para aqueles que querem emergir no mercado de trabalho, tanto para os que ainda
não se lançaram como para aqueles que têm tentado, mas sem sucesso. Miguel
acrescenta que somos um país com extrema qualidade de capital humano, com
capacidade de competir no mercado estrangeiro, mas somos também peritos em
códigos imobilistas, dotados de uma mentalidade pessimista que nos impede de
realizar grandes ideias. “Mudar o mundo é fazer mais do que aquilo que nos é
pedido”, afirma.
É impossível não concordar com o facto de que, de
certa forma, nos acomodamos ao que é fácil. O desencontro entre a procura e a
oferta de trabalho nos dias de hoje também se deve à discrepância de interesses
– as empresas querem o máximo do trabalhador a troco de pouco, enquanto quem
procura emprego, procura isso mesmo, emprego e não trabalho. Mas será mais
fácil para as empresas retribuir o justo quando verificam que o trabalhador
está a produzir e a contribuir para o crescimento da empresa.
Já há muito se afirma que, hoje em dia, os
empregos não são para uma vida, como antigamente seria regra. As carreiras não
são feitas numa só empresa, nem sequer numa só área. Mas será isso negativo? É
exigida uma versatilidade e capacidade de adaptação cada vez maior, mas não foi
isso mesmo que permitiu que a evolução de todas as espécies?
Certo será dizer que esta adaptação não poderá ser
feita de forma isolada. A distância de gerações nota-se cada vez mais. Aquilo
que nos é ensinado rapidamente perde valor e o desenvolvimento do progresso
aumenta a uma velocidade difícil de acompanhar. Neste momento, tal como é
focado por Miguel, é necessário um marketing pessoal que não nos é incutido em
fase nenhuma da educação. Não existe nenhuma unidade curricular assim denominada,
no entanto, em termos práticos, talvez devesse ser obrigatória e comum a todas
as áreas.
Apesar de muitos aplausos, os vídeos de Miguel
Gonçalves recebem uma mão cheia de comentários negativos. Comentários que
fomentam discussões entre os visualizadores, onde são questionadas não só a
situação do mercado de trabalho e da economia como também a credibilidade
daquilo que Miguel tem feito até ao momento. Grande parte desses comentários
negativos são dotados de uma certa revolta, certamente por aqueles que têm
sofrido as dificuldades do mercado. Alguns acusam-no de retirar lucro a
atribuir a culpa aos portugueses, quando na verdade este, para além de tecer
infindáveis elogios à nação, está a vender o seu produto, a praticar aquilo que
propõe aos outros: empreendedorismo e mindset
de mercado.
Joana Dias
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia
Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da
EEG/UMinho]
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