sexta-feira, 6 de abril de 2012

Espanha e a Crise

É de conhecimento geral o facto de toda a zona europeia estar a atravessar dificuldades a nível de estabilidade económica e social. Após os casos bem conhecidos da Irlanda, da Grécia e de Portugal, parece que chegou a vez de a Espanha ter que apertar os cordões à bolsa e lutar contra a crescente crise do euro.
Assim, nos últimos dias, temos vindo a presenciar várias medidas de austeridade por parte do governo espanhol. Nesse sentido, foi aprovado um projeto para o Orçamento de Estado relativo ao presente ano em que realoca 27,3 mil milhões de euros com a finalidade de cumprir os objetivos do défice. Neste ajuste estão incluídos um decréscimo dos gastos públicos na ordem dos 16,9% e uma medida um pouco mais polémica que implica um aumento no nível de impostos na ordem dos 12,3 mil milhões de euros. A aprovação deste novo Orçamento de Estado obteve uma saudação por parte de Bruxelas que louva a determinação demonstrada pela Espanha nas suas políticas estruturais e orçamentais com vista a melhorar a sua situação económica. Este acréscimo no valor dos impostos irá incidir maioritariamente nas empresas sob a forma, por exemplo, de redução de deduções e alterações no imposto sobre o rendimento, havendo também um aumento no repatriamento de lucros de empresas de 8%. A nível dos gastos públicos, o Governo espanhol está a contar reduzir o valor global através dos gastos com pessoal, que foram congelados, e em sectores essenciais como a segurança, a educação e a saúde.
Como seria de esperar, nenhuma destas medidas agradou à grande maioria da população. No entanto, uma outra foi posta em prática que provocou um desagrado mais acentuado nos habitantes espanhóis. Essa medida baseia-se numa reforma laboral que torna, segundo os sindicatos, o despedimento de trabalhadores num ato livre e gratuito. Esta política irá agravar ainda mais a já precária taxa de desemprego da Espanha, que lidera a lista da União Europeia neste fator (21%). Como se isso não bastasse, irá tornar ainda mais difícil a entrada no mercado de trabalho por parte dos jovens espanhóis ou até agravar a percentagem de desemprego juvenil, que já se situa nos 44%.
Na minha opinião, o novo Orçamento de Estado era, de facto, necessário para conseguir reduzir a dependência que o país tem da dívida contraída em anos anteriores. Esta dívida representa, neste momento, mais de 65% do PIB, o que, para um país como a Espanha, pode ser considerado preocupante. Penso que a Espanha encontra-se numa situação um pouco semelhante à de Portugal, devido ao sobreconsumo de anos prévios, que representou um grande investimento com vista a um desenvolvimento geral do país. Porém, agora a população terá que pagar a dívida que foi contraída, num processo que se afigura longo, difícil e bastante austero. Considero natural que haja desagrado generalizado devido às consequências inerentes a estas novas medidas. No entanto, acredito que a grande maioria também perceberá a necessidade de estas serem tomadas.
Por outro lado, a nova reforma laboral é algo com que não concordo. Penso que aumentar ainda mais o nível de desemprego num país como a Espanha não é uma resolução correta. Tornar substancialmente mais fácil o despedimento de trabalhadores trará consigo um ambiente de instabilidade, pois serão poucas as pessoas que sentirão que têm um trabalho seguro. Assim, um aumento a uma já tão elevada taxa de desemprego apenas se repercutirá numa perda de qualidade de vida generalizada. Os jovens, que já poucas oportunidades tinham, terão ainda menos, os novos desempregados irão ter que reestruturar toda a sua vida e por ser turno as empresas ganharão uma maior margem de manobra a nível de negociação de salários. É mesmo essa a principal finalidade desta nova reforma: facilitar um pouco a vida das empresas. É verdade que nesta altura estas atravessam também um momento difícil, especialmente após o novo Orçamento de Estado, e que esta “ajuda” é muito bem-vinda por parte das empresas em situação mais carente, pois conseguem mais facilmente reduzir os seus custos com pessoal e, possivelmente, salvarem-se de uma falência bastante provável. É um ponto de vista racional tentar salvar as empresas do país, mas penso que esta reforma foi demasiado rigorosa e irá provocar um grande choque nas famílias espanholas. Acredito, portanto, que as consequências negativas desta medida serão mais significantes do que as vantagens que possivelmente se irão retirar.

Diogo Azevedo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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