segunda-feira, 23 de abril de 2012

A repartição do rendimento e os níveis de pobreza

Muitos consideram que a pobreza involuntária é uma violação dos direitos humanos e como tal a sua erradicação deve ser incluída na agenda política dos governos. Assim, com este artigo pretende-se dar a conhecer as desigualdades na repartição do rendimento e da riqueza, as grandes disparidades de condições em que vivem os cidadãos do nosso País e as carências básicas de que sofrem alguns estratos de população. A actual grande crise económica e social confere ao combate da pobreza e da exclusão social uma maior importância.
Segundo o Banco Mundial, é pobre em condições extremas todo aquele que vive com menos de 1 dólar por dia. Estudos recentes revelam que 1 bilião e 100 milhões de pessoas vivem com menos de 1 dólar. Devido a esta pobreza, morrem todos os dias no mundo 50.000 pessoas e, por ano, morrem 11 milhões de crianças (com menos de 5 anos). Estes números são alarmantes e, até, chocantes. Várias são as circunstâncias que jogam a favor do aumento desta situação: governos incapazes de tomar medidas eficazes para combater a pobreza; a crise financeira que leva milhares de pessoas para o desemprego; e as restrições orçamentais que originam cortes no subsídio de desemprego, no rendimento social de inserção, no abono de família.
Dados do INE, referentes a 2009, mostram que 20% dos portugueses mais ricos apresentam rendimentos 5,6 vezes superiores aos 20% mais pobres, com tendência para que esta desigualdade entre os rendimentos seja cada vez maior. É de reconhecer que esta desigualdade tem vindo a alargar-se muito rapidamente num crescente número de países.
De facto, a pobreza pode ser considerada um caso extremo de desigualdade na repartição do rendimento. Assim, segundo dados do Eurostat cerca de 17,9% da população portuguesa encontrava-se, em 2010, em risco de pobreza, percentagem claramente elevada, embora próxima da média da União Europeia (16,4 %). Seria de esperar que, com o desemprego acima dos 14% e com os sucessivos cortes nas prestações sociais, o risco de pobreza tivesse aumentado, no entanto, segundo dados do Eurostat, Portugal apenas registou um ligeiro aumento em 2010.
Os dados revelam ainda que, em 2010, Portugal era o nono país mais pobre dos 27 da União Europeia e que mais de 30% dos portugueses passam fome, especialmente no Norte do país. São vários os factores que podem explicar os números de pobreza na zona norte do nosso país: essencialmente o elevado número de desempregos e de empresas falidas. Devemos ainda destacar que é nesta zona de Portugal que se encontram os mais baixos níveis de formação e o mais elevado abandono escolar.
A repartição do rendimento também não é uniforme nas regiões portuguesas. De acordo com o INE, a Madeira tem os menores rendimentos por família, enquanto Lisboa e Vale do Tejo tem o maior rendimento médio. Em consequência, são também estas regiões que apresentam a maior e a menor taxa de pobreza no país. Ao longo dos anos, a Região Centro, o Alentejo e as ilhas têm mantido uma posição desfavorável em termos da incidência da pobreza. Existem ainda significativas diferenças entre áreas com maior grau de urbanização e as zonas rurais, sendo o rendimento médio destas cerca de metade do das zonas urbanas.
Em relação ao grupo etário são os mais novos (0 aos 17 anos) que possuem um risco de pobreza mais elevado quer em relação aos idosos (65 ou mais anos) quer aos adultos (18 aos 64 anos). É de salientar ainda que, hoje em dia, está a surgir uma nova pobreza que atinge a população activa, que são as pessoas que têm um trabalho mal remunerado, precário ou inseguro e que correm o risco de se tornarem pobres.
Para concluir, importa referir que as instituições de solidariedade social garantem que o problema da pobreza cresce a cada dia, isto devido aos cortes orçamentais, aos cortes nos apoios sociais e às dificuldades de acesso ao crédito.

Ana Sofia Ferreira Fernandes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3.º ano do curso de Economia (1.º ciclo) da EEG/UMinho]

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