sexta-feira, 6 de abril de 2012

PAC (Política Agrícola Comum)

A política agrícola comum nasceu no ano de 1962, parte do primeiro dos três pilares da política da União Europeia (Comunidades Europeias). Ao longo dos anos este programa tem-se revelado multifuncional, começando por assegurar alimentos no pós-guerra, mais recentemente fomenta a produção agrícola de qualidade, segura situações de risco provocadas pela incerteza, não deixando de parte as preocupações com o ambiente. Este programa tem como finalidade diminuir a dependência agrícola face ao exterior (objectivo conseguido ao longo dos anos), garantir a qualidade dos produtos consumidos na União e melhorar o rendimento dos agricultores.
A finalidade do programa é inquestionável mas a sua execução levou a que, durante muitos anos, este fosse alvo de críticas intensas. Ficando a pergunta: seria possível uma condução diferente da política agrícola na União Europeia?
A primeira e maior crítica que deixo a este programa consiste na quantidade de fundos mobilizados para a sua execução, pois, apesar de uma significativa redução, este ainda representa cerca de 40% do orçamento comunitário Europeu.
A forma como os fundos foram gastos ao longo do tempo também levanta uma série de questões. Por um lado, há incentivos à inovação na produção, à qualidade dos produtos, à preocupação ambiental… Por outro criaram-se incentivos fiscais para que os agricultores deixassem de produzir aquilo que não “interessava”, de forma a manter os preços estáveis e proteger alguns produtores da falência.
Durante muitos anos a falta de fiscalização quanto à aplicação dos fundos levou a fugas significativas de capital. Este foi um problema que assombrou a agricultura Portuguesa durante algum tempo, mais recentemente substituída por uma falta de conhecimento generalizada dos agricultores face a estes apoios, que aliada ao desinteresse do estado em apoiar a sua quota-parte dos projectos, faz com que Portugal devolva grande parte dos fundos no âmbito da PAC. Por outro lado, o sistema de quotas restringiu o crescimento agrícola de alguns países, nomeadamente Portugal, enquanto outros cresceram em escala neste sector. 
Na minha opinião, e respondendo à pergunta inicial, a Politica Agrícola Comum poderia ter outro rumo. A título de exemplo, recentemente, bem perto de nós, aconteceu uma reestruturação do sector têxtil e calçado. As empresas que anteriormente competiam baseadas em produtos de baixa qualidade viram-se forçadas a reconfigurar as suas estruturas de produção devido à entrada de produtos chineses. Muitas empresas faliram, o desemprego afectou bastante o sector, mas o resultado foram empresas fortes que competem em mercados internacionais sustentadas na qualidade dos produtos que fabricam. Esta analogia parece-me perfeita para explicar como seria se a PAC fomentasse a qualidade dos produtos sem uma intervenção na concorrência dentro da união Europeia. O primeiro estádio seria sem dúvida marcado por uma concorrência feroz entre os produtores, o rasto seria de desemprego mas culminaria numa reestruturação agrícola. As empresas mais eficientes sobreviveriam e seriam capazes de competir nos mercados internacionais. Os custos desta estratégia seriam significativamente menores, e não correríamos o risco de incentivar o sedentarismo dos agricultores.
O sistema de quotas de produção poderá deixar de existir já em 2015, mas abrir o mercado europeu à “concorrência” interna neste momento beneficiará empresas/países que mais proveito retiraram deste programa, distorcendo os objectivos iniciais da PAC.
Não podendo alterar directamente políticas comunitárias, o governo Português não deverá relegar este sector para segundo plano. Sensibilizar os agricultores para os programas de apoio, financiar e fiscalizar projectos, fazer ouvir os interesses nacionais e incentivar o consumo de produtos nacionais podem ser algumas das ultimas estratégias possíveis para salvar o sector agrícola Português.

Eliseu Ferreira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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