Os olhos do mundo estão em Portugal. Num
momento em que a crise financeira se agrava a cada dia que passa, o tema do
desemprego tem sido um dos objectos de atenção, em grande parte devido à sua
desastrosa trajectória ascendente.
Quer para o indivíduo quer para a
sociedade como um todo, o desemprego envolve sérios problemas. Para o primeiro
significa perda de rendimento e, em muitos casos, de auto-respeito. Para o
segundo resulta numa queda da produção e gera comportamentos anti-sociais, como
o aumento da criminalidade. É do senso comum que os salários dos trabalhadores
não são, em nenhuma parte do Mundo, suficientemente elevados para satisfazer as
necessidades básicas e ainda permitir a criação duma reserva de poupança
suficiente para poder enfrentar um desemprego de duração prolongada. Desta
forma, este é um importante problema político e macroeconómico que todas as
economias enfrentam, e agora em muito maior escala. Devido às suas
consequências sociais e económicas, é essencial que os governantes identifiquem
os factores que mais afectam a taxa de desemprego. Num quadro de
oferta-procura, pode-se dizer que o nível de emprego depende de factores como a
produtividade, os salários e o nível de preços. Já num nível macroeconómico, a
taxa de desemprego acompanha de perto factores como o estado da economia,
ciclos económicos, o nível tecnológico, assim como, os dados demográficos da
população.
Tem-se tornado difícil traçar um
quadro positivo do mercado de trabalho. Segundo dados do Eurostat, em Janeiro o
desemprego em Portugal atingiu os 14,8%, um recorde para o país, sendo esta a
terceira maior taxa entre os 27 estados membros da União Europeia, ficando
apenas atrás da Espanha com 23,3% e da Grécia com 19,9%. Na Zona Euro, neste
mesmo período, foi atingida a mais alta taxa de desemprego desde Outubro de
1997, sendo de 10,7% no espaço da moeda única e de 10,1% no conjunto dos 27.
Assim, os números não mentem: a taxa de desemprego em Portugal tem mantido a
tendência registada desde o início de 2011, vindo a subir de forma constante.
Actualmente, nem mesmo um curso
universitário é garantia suficiente de segurança e prosperidade. O desemprego
entre os jovens não pára de subir tendo alcançado já os 35,1% em Janeiro, sendo
que, no último trimestre do ano passado, chegou a atingir uns assustadores
45,3% na Madeira e os 41,1% no Algarve.
Por tudo isto, o desemprego em
Portugal apresenta um comportamento marcadamente cíclico, no sentido em que, o
desemprego diminui quando a actividade económica se expande e aumenta em
períodos de recessão.
É de fácil percepção que o estado
actual do país é a primeira justificação, e a mais óbvia, para os números
apresentados. Desde 2003 que Portugal entrou numa grave recessão, o que,
associado à crise financeira internacional levou à entrada num caminho sem fim
à vista. A verdade é que a história demonstra que nenhum país pode ter ilusões
de atravessar um período de desemprego industrial com uma certa duração sem
sofrer alterações na esfera do governo e da produção.
O corte nos salários, a nova lei
laboral que torna o despedimento mais fácil e os muitos cortes nas despesas
fazem do desemprego uma das consequências mais marcantes desta crise. É ainda
de salientar que, quando este aumenta sobe também a probabilidade de se ficar
desempregado mais tempo, e quanto maior for o número de desempregados de longa
duração mais difícil será baixar a taxa de desemprego.
Os mais atingidos por este flagelo
são as mulheres e as pessoas com mais de 45 anos e com menos qualificações. Por
outro lado, e apesar de contraditório, Portugal parece estar também a produzir
licenciados que, em grande parte dos casos, não correspondem às necessidades do
mercado de trabalho. Claro que a maioria dos desempregados não se manterá nessa
situação por vontade própria, mas é sabido que alguns deles já não estão
dispostos a trabalhar e outros acumulam indevidamente o subsídio de desemprego,
o que acarreta um gasto extra que o governo tem que despender.
No entanto, é intolerável a ideia
de que nada se pode fazer contra o desemprego, pois a falta de trabalho produz
efeitos desastrosos no trabalhador individual, tanto económicos, como
psicológicos e morais, e os períodos prolongados de desemprego conduzem sempre
ao descontentamento, que em muitos casos já se transformou numa revolução
política.
Na minha opinião, é assim
necessário criar um clima de confiança para haver investimento, pois, sem este,
o crescimento do número de postos de trabalho nas empresas já existentes ou em
novas será muito tímido. O país não pode crescer apenas por via das restrições
aos seus habitantes, é essencial dar uma oportunidade de desenvolvimento a quem
está disposto a arriscar. Só assim poderemos chegar a um Portugal melhor e só
essa poderá ser uma das alavancas que levarão o país a dias melhores. Não será
fácil, de todo, resolver rapidamente esta questão, mas dificuldade não é
sinónimo de fatalidade ou resignação.
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