quinta-feira, 19 de novembro de 2020

A Felicidade na Economia – uma nova forma de pensar

 A Economia da Felicidade estuda a felicidade, a evolução do bem-estar, da qualidade e da satisfação de vida. Focando-se em fatores económicos que contribuem para a felicidade individual (como o emprego e a inflação) e em fatores não económicos (como as condições de saúde e o ambiente de trabalho), procura relacionar o rendimento e a felicidade, considerando a análise do consumo para o aumento do bem-estar.

Na sua obra Riqueza das Nações, Adam Smith é pioneiro ao relacionar o rendimento e a felicidade, referindo a impossibilidade de existir felicidade num estado de pobreza: “Nenhuma sociedade, em que a parte maior dos membros é pobre e miserável, poderá certamente florescer e ser feliz” (Smith, 1776).

Bernard van Praag, economista holandês, verificou que a satisfação se adapta ao nível material e que o bem-estar, decorrente do aumento do rendimento, é apreciado ex ante, nos planos dos agentes económicos.

“É também altamente recomendável que a felicidade seja medida por empresas, comunidades, escolas, hospitais e até profissionais de saúde. Isto permitirá um conhecimento mais rápido sobre as fontes e as consequências da felicidade. Estas medidas podem também, simultaneamente, melhorar a avaliação e performance de todos os tipos de organizações”, pode ler-se no Relatório da Felicidade Humana, de 2012.

Na generalidade, as pessoas associam o conceito de Produto Interno Bruto (PIB) à Economia, o qual mede resultados agregados e não tem em consideração, por exemplo, as desigualdades de rendimento. A preocupação apenas com o PIB provoca elevadas desigualdades na riqueza dos países e o crescimento da subclasse económica com mais baixos rendimentos, na qual milhões de pessoas se encontram em situação de pobreza. Dessa forma, o crescimento e o desenvolvimento económico, que minimizam a pobreza, são fulcrais para fomentar a felicidade.

Com o propósito de mitigar estas desigualdades, o Rei do Butão, país do sul da Ásia, decidiu implementar um novo indicador, a Felicidade Interna Bruta (FIB), que adota uma visão holística do desenvolvimento, enfatizando a cultura, a saúde mental, a compaixão e a comunidade e não só o crescimento económico. Este indicador postula que devem ser considerados e medidos os aspetos qualitativos e quantitativos de uma sociedade.

Incluído recentemente nos indicadores da Organização das Nações Unidas (ONU), como complemento a outros índices, como o PIB e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o FIB apresenta uma visão multidimensional, que integra aspetos diferenciadores (económicos, sociais, humanos e ambientais) para proporcionar um bom desenvolvimento. Considera o bem-estar psicológico, a saúde, o uso do tempo, a vitalidade comunitária, a educação, a cultura, a preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade, a liberdade individual e a perceção da liderança política, para além dos tradicionais fatores económicos, como o custo de vida e o rendimento médio das famílias.

Contudo, a relação entre rendimento e felicidade não é linear, como demonstra o conceito de paradoxo de Easterlin. Este Professor de Economia da University of Southern California demonstrou que, apesar de existir uma relação positiva entre rendimento e felicidade, nem sempre os países mais pobres se revelam menos felizes.  Como se pode observar no gráfico, o aumento do rendimento não se traduz, ao longo do tempo, num aumento direto da Felicidade. À medida que se vai enriquecendo, torna-se mais difícil traduzir os acréscimos monetários em acréscimos de bem-estar.

 

Figura 1 – Paradoxo de Easterlin


Como pode a vida económica ser (re)organizada para criar uma sensação de Felicidade?

Tendo por base o mencionado, considero que as empresas devem ter presente a relação de equilíbrio entre Economia e Felicidade e o FIB, na medida em que o crescimento do grau de felicidade das pessoas provoca um maior comprometimento, produtividade e crescimento económico, maximizando o lucro das empresas.

Para que esta realidade esteja cada vez mais presente nas organizações e na sociedade em geral, algumas medidas devem ser implementadas, tais como: programas de desenvolvimento interpessoal, prémios de desempenho e/ou experiências diferenciadoras que promovam o sentimento de pertença, como jantares ou viagens.

Em suma, as pessoas têm de ser consideradas na sua globalidade e não como um indicador isolado ou um input. Apesar dos colaboradores contribuírem (ou deverem contribuir) para o sucesso e crescimento da empresa, a felicidade empresarial é diferente para cada um.

Se aplicada adequadamente, a Economia da Felicidade potenciará o futuro da Economia. Considero que esta realidade só será possível se a sociedade, no geral, e os indivíduos, em particular, não pensarem unicamente no seu bem-estar, mas sim no bem-estar coletivo. Este índice pode registar melhorias se existir um esforço de todos em atenuar desigualdades (de género, sociais, salariais, entre outras). Desta forma, haverá uma melhoria das condições de vida da população e, consequentemente, um aumento da esperança média de vida. Verificadas estas mudanças, a sociedade será mais Feliz.

 

Inês de Morais

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]

Sem comentários: