segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Economia Azul: crescer economicamente nos oceanos de forma sustentável

 

O problema da sociedade em que vivemos e do modelo econômico atual adotado é que este não tem em consideração o meio ambiente, olhando exclusivamente para valores como o lucro e a produtividade.  Porém, perante a crise ambiental que enfrentamos, a única porta de saída é a economia que deve ser reelaborada tendo em atenção o nosso planeta, satisfazendo as necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade de satisfazer as gerações futuras. Podemos assim dizer que o conceito de desenvolvimento sustentável precisa cada vez mais de estar presente na vida de todos nós. A procura por aliar os aspectos ambientais, econômicos e sociais através de um ponto de equilíbrio entre a utilização dos recursos naturais, do crescimento econômico e a justiça social é cada vez mais fundamental e urgente.

Um dos exemplos de desenvolvimento sustentável em crescimento atualmente é a denominada Economia Azul. Economia Azul é um conceito que relaciona o desempenho dos sectores da exploração e preservação do ambiente marítimo e costeiro, ou seja, como aliar a sustentabilidade dos oceanos a modelos de negócio inovadores. A Economia Azul analisa a possibilidade de investimentos que, ao mesmo tempo, protegem ecossistemas costeiros. Divide-se em vários sectores como: os Recursos Marinhos Vivos (pesca, aquacultura), Recursos Marinhos Não-Vivos, Energia renovável (energia azul), Atividades Portuárias, Construção e Reparação Naval, Transporte Marítimo e Turismo Costeiro.

Olhando para a União Europeia, esta possui uma costa estimada em 15000 km, no Oceano Atlântico, Mar Mediterrâneo, Mar Negro, Mar do Norte, Mar Báltico e Mar Adriático, e, como tal, cada vez mais tem em atenção que a Economia Azul pode oferecer fontes importantes de desenvolvimento económico sustentável para os estados-membros. Numa perspetiva económica e de acordo com os mais recentes dados publicados pela Comissão Europeia no Relatório de 2020, os diversos setores da Economia azul geraram em 2018 um volume de negócios de 750 milhões de euros e 5 milhões de empregos. As regiões do litoral são responsáveis por aproximadamente 40% do PIB europeu, do qual a economia do mar contribui com 3% a 5%. Os dados do Valor Acrescentado Bruto (VAB) mostram uma aceleração no crescimento de todos os setores de 2013 em diante. O VAB gerado pelo turismo costeiro em 2018, o maior setor da Economia Azul da UE, aumentou 19,7% em relação a 2009. O transporte marítimo e atividades portuárias, o segundo e terceiro maiores sectores, aumentaram 19% e 24%, respetivamente.

 De uma perspetiva ambiental, o relatório da Comissão Europeia afirma que a Economia azul contribui positivamente para alcançar os objectivos ambientais. Com uma redução de 29% das emissões de CO2 por unidade de VAB entre 2009 e 2017, podemos dizer que o crescimento do setor da pesca e da aquacultura em nada tem a ver com a produção de gases com efeito de estufa na UE. Para além disso, ouvimos sempre dizer que as energias renováveis serão o futuro e é importante olhar para a Energia Azul como uma potencial substituta das energias não renováveis. É obtida da diferença de concentração de sal entre a água do mar e a do rio, com o uso de eletrodiálise reversa (uso da energia libertada quando a água doce entra em contato com a água salgada), porém há o problema de que a produção de Energia Eólica continua a ser bem mais barata, dificultando o desenvolvimento da energia azul.

Apesar destes números bem positivos de 2018, a pandemia COVID-19 que o mundo atravessa neste momento veio atrasar tanto o desenvolvimento económico como o ambiental da Economia Azul. Esta crise acarretará consequências graves para toda a economia, mas é ainda muito cedo para avaliar com precisão o que afetará nos sectores azuis. Neste momento, podemos dizer que é espectável que alguns sectores sofram mais do que outros, nomeadamente o turismo costeiro e a construção e reparação naval, que já estão a sofrer maiores impactes e vão ter uma recuperação mais lenta. Por outro lado, os sectores que estão a sofrer impactes severos, mas que deverão ter uma recuperação comparativamente mais rápida, são o Transporte Marítimo e as Energias Renováveis.

Na minha opinião, com estes valores torna-se evidente as oportunidades de crescimento dadas pela Economia Azul em toda a Europa e, apesar de ser um setor já bastante desenvolvido, existe margem para aumentar ainda mais o seu potencial e contribuição para uma economia crescente e um mundo mais sustentável. Apesar de dispendioso e difícil agora com a crise sanitária, a UE deve continuar a apoiar e a financiar negócios que olhem para a sustentabilidade do mar pois cada um de nós deve ter o seu papel no futuro do Planeta Terra.

Devemos olhar para o mar com inteligência, cuidado, respeito e interesse se queremos que as futuras gerações consigam tirar o mesmo proveito dele que nós.

 

Ana Cunha

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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