segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Indústria do calçado em Portugal

 

O calçado é um setor que assume extrema importância na economia portuguesa. É um setor inovador, que se destaca pela produção de elevada qualidade e design. Há, cada vez mais, uma aposta no fabrico de produtos de elevado valor acrescentado, direcionados principalmente para o mercado europeu, que apresenta maior poder de compra e maior proximidade, quer em termos físicos quer em termos culturais.

Este setor registou fortes mudanças e adaptações nas últimas décadas. A crescente competitividade das economias emergentes (principalmente dos países asiáticos) forçou as empresas portuguesas a alterarem o seu modelo competitivo. Estas economias têm a capacidade de praticar preços muito baixos, levando à perda da competitividade da indústria portuguesa e europeia. A não capacidade de responder a encomendas de uma dimensão tão grande obrigou a que o setor nacional redefinisse a sua estratégia. Assim, houve necessidade de especializar a produção através da produção de peças “à medida” e do fabrico de pequenas séries que respondessem às preferências dos consumidores.

A indústria de calçado portuguesa carateriza-se pela sua alta qualidade e por isso várias marcas internacionais utilizam as fábricas portuguesas para fazer os seus sapatos, melhorando a capacidade técnica dos industriais. Nos últimos anos, verificou-se um elevado crescimento das marcas e design próprios, apoiado pelo estado e pela iniciativa particular com a criação de centros de design e centros tecnológicos. Isto permitiu levar a fabricação e qualidade dos sapatos portugueses a patamares superiores. Esta indústria está concentrada principalmente no norte do país, sendo os distritos que registam maior número de empresas Aveiro e Porto.

Atualmente, estamos a enfrentar uma crise sanitária mundial, uma crise que está a causar sofrimento humano, prejudicar a economia e perturbar as vidas das pessoas. A doença covid-19 está a ter um enorme impacte em todos os setores sociais e económicos, tendo afetado também, obviamente, o setor do calçado. Medidas como o encerramento de lojas e as reduções nos salários retraíram a procura dos consumidores. Por outro lado, o fecho de fábricas e a quarentena obrigatória por parte dos trabalhadores provocou também uma diminuição da oferta. De forma a responder a esta crise, os governos de todo o mudo implementaram medidas para minimizar o impacte da pandemia como: salvaguardar os empregos e os rendimentos das pessoas, restabelecer a confiança, manter a estabilidade financeira, incentivar o crescimento e uma forte recuperação, e proporcionar ajuda a todos os países com necessidade de apoio. Estas medidas, vieram ajudar as empresas portuguesas a ultrapassar algumas das dificuldades, no entanto não deixa de ser notório o impacte desta crise no setor do calçado.

Portugal afirma-se como uma das maiores potências mundiais no que toca ao setor do calçado, surgindo no top 20 no ranking de países produtores de calçado, onde da Europa consta apenas a Itália (10º lugar) e a Espanha (17º lugar). É também de destacar a posição ocupada por Portugal ao nível do preço médio de venda (26,26 dólares), que ocupa a segunda posição entre os principais produtores mundiais de calçado.

Por fim, podemos concluir que, dada a importância deste setor na economia portuguesa, é importante o estado dar apoio às empresas produtoras de calçado, especialmente dada a situação em que vivemos. É necessária a aposta contínua neste setor que assume um papel tão fundamental nas exportações do nosso país. Além disto, penso que outra excelente forma de combater o impacte da crise passa por consciencializar as pessoas da importância de consumir produtos portugueses. Um bom exemplo disto é a campanha da APICCAPS (Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos) - "Está na hora de comprar calçado português!" - onde é lançado um apelo direto aos portugueses para comprarem calçado português. Visto que Portugal exporta cerca de 95% do calçado, incentivar os portugueses a comprarem “cá dentro” é, sem dúvida, uma excelente forma de impulsionar este setor novamente.

 

Rafael Caseiro

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: