quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Impacte da pandemia COVID-19 no setor da aviação

 A pandemia COVID-19 veio provocar uma queda drástica da procura por transporte aéreo, tanto de passageiros como de carga, sendo que no caso do transporte de carga a queda foi menos acentuada. As medidas de contenção ameaçaram, fortemente, a viabilidade de muitas empresas do setor do transporte aéreo e de toda a restante indústria da aviação.

O transporte aéreo está ligado a atividades de outros setores, mais concretamente aeroportos, fabrico de aeronaves e de petróleo refinado, sendo, por isso, um setor essencial para outras atividades económicas.

Embora a indústria da aviação tenha sido frequentemente objeto de políticas governamentais, a crise pandémica veio originar um conjunto de empréstimos, subsídios salariais e injeções de capital, que estão a levantar preocupações sobre a concorrência e sobre o uso eficiente de recursos públicos.

As restrições de viagens, a mudança de comportamento dos passageiros e a consequente crise económica, provocada pela pandemia, originaram uma queda drástica na procura de serviços aéreos. Como vemos no gráfico acima, de acordo com a IATA, o transporte de passageiros caiu 90% em abril de 2020, comparando com o mesmo período do ano anterior. O colapso da atividade económica e do comércio afetou também, fortemente, o transporte aéreo de carga, que foi quase 30% menor em abril relativamente ao ano anterior.

A combinação destes choques negativos na procura e na oferta e a incerteza em torno das perspetivas de médio prazo criaram um clima de insegurança para as companhias aéreas que, consequentemente, afetou toda a indústria da aviação. Além disso, o setor continua exposto a novas restrições, a fim de enfrentar a segunda vaga de infeções.

No entanto, antes desta crise económica, as companhias aéreas já se encontravam em situações díspares. O transporte aéreo é dos setores com maior dispersão na produtividade e na lucratividade entre empresas e, por isso, é frequentemente alvo de intervenções políticas.

A maioria destas intervenções têm como principal foco os fabricantes de aeronaves. Estas empresas estão normalmente sujeitas a economias de escala significativas, que podem causar subinvestimento em tecnologia, inovação ou em instalações de produção e, portanto, é justificável o apoio público.

 


Em agosto de 2020, os governos dos países da OCDE forneceram cerca de 160 biliões USD em apoio ao setor aéreo, como é possível observar no gráfico acima. Quase dois terços desse apoio consiste em ajuda direta, como, por exemplo, subsídios, empréstimos e injeção de capital, enquanto 25% assume a forma de subsídios salariais. No entanto, a crise pandémica reforçou alguns dos fundamentos que eram anteriormente utilizados para justificar o apoio à indústria da aviação.

Posto isto, do meu ponto de vista, e de modo a promover um setor sustentável para a indústria da aviação, as políticas governamentais devem encontrar um equilíbrio entre o apoio ao setor da aviação e a necessidade de preservar a concorrência, ou seja, devem preservar a dinâmica dos negócios e permitir a saída dos mesmos. Como a procura pode ser estruturalmente diferente daquela antes da crise e possivelmente menor, os governos devem promover a reestruturação e evitar o apoio a empresas não viáveis.

É de realçar que as políticas não devem estimular a procura de aeronaves por parte de companhias aéreas, pois os custos adicionais podem comprometer a solvência destas mesmas empresas. Além disso, é fundamental que todas as medidas tomadas pelos governos em resposta à crise COVID-19 no setor da aviação estejam integradas nas estratégias de transição de baixo carbono implementadas em muitos países da OCDE.

Assim sendo, na minha opinião, deve-se incentivar os investimentos na Green Transition e, assim, aumentar a resiliência de longo prazo da indústria da aviação e suportar as decisões que se tomem no sentido de melhorar o ambiente, pois é importante abordar a sustentabilidade de todo o setor, incluindo fabricantes de aeronaves e aeroportos.

 

Ana Teles

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]

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