domingo, 1 de novembro de 2020

Alterações climáticas e impactes na economia europeia e portuguesa

 

A insustentabilidade do ritmo atual de emissão de gases com efeito de estufa (GEE), a volatilidade dos preços dos combustíveis fósseis e a indesejabilidade da dependência energética externa são preocupações centrais das sociedades modernas, que moldam e continuarão a moldar as economias globais nas décadas vindouras.

Após o primeiro alerta efetuado pela comunidade científica em 1988 gerou-se na comunidade internacional uma verdadeira preocupação com a questão das alterações climáticas. Em 2015, após 20 anos de avanços e recuos nas negociações globais de clima e dos relatórios cada vez mais preocupantes do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, os Estados chegaram finalmente ao Acordo de Paris. Um objetivo central deste acordo consistiu no compromisso de manter o aumento da temperatura global abaixo dos 2ªC, e, se possível, abaixo dos 1,5ºC.

Numa economia global fortemente baseada em indústrias emissoras de GEE, questiona-se a viabilidade de uma economia verde. No entanto, segundo a Comissão Europeia, é possível a redução dos GEE sem comprometer o crescimento económico tal como demonstrado pelo dados recolhidos e pela figura 1, entre 1990-2017, em que se verificou uma redução das emissões destes gases em 22% enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou em 58%.


Figura 1. A política climática e as emissões de GEE VS o crescimento do PIB


A prossecução dos objetivos emanados do Acordo de Paris tem orientado a ação da UE, no sentido de delinear estratégias para a criação de uma economia europeia com impacte neutro no clima até 2050. As medidas tomadas deverão seguir 7 trajetórias estratégicas: a melhoria da eficiência energética, o investimento nas energias renováveis, a promoção de uma mobilidade limpa, segura e conectada, a existência de uma indústria competitiva e de uma economia circular, a criação de uma infraestrutura sustentável no setor dos transportes e energia, o desenvolvimento da bioeconomia e dos sumidouros de carbono naturais, e a eliminação das emissões remanescentes com captura e armazenamento de carbono.

No âmbito da eficiência energética, assume particular importância a renovação do parque habitacional já que atualmente os edifícios representam cerca de 40% do consumo energético da UE.

Também é importante destacar a aposta nas energias renováveis como forma de limitar a dependência energética da Europa (em 2019, cerca de 55% da energia é importada, pretendendo-se que até 2050 este valor desça para 20%, fruto da transição para uma economia verde).

Uma vez que os transportes representam 25% das emissões de GEE da UE, este é um setor fundamental cuja reestruturação incluirá medidas como ao incremento de veículos movidos a eletricidade, maior aposta nos transportes públicos, etc.

A transição para uma economia neutra terá grandes impactes económicos e sociais, nomeadamente através da criação de empregos verdes que permitirão um acréscimo de 1-1,5% de mão-de-obra. Espera-se também um declínio ou transformação de alguns setores, como a atividade mineira, a exploração de petróleo/gás e, portanto, alguns empregos terão de ser adaptados à nova realidade. A economia terá de adaptar-se a uma população ativa que se prevê de menor dimensão e mais envelhecida, num mercado de trabalho mais tecnológico.

Em termos ambientais, além dos benefícios diretos (como melhoria da qualidade do ar), a aplicação das medidas permitirá evitar prejuízos com as inundações, cuidados de saúde (motivados pela poluição), produção alimentar, etc.

Também Portugal assumiu em 2016 o compromisso de atingir a neutralidade carbónica até 2050, pelo que o Governo português elaborou o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050).

Por fim, e apesar das consequências devastadoras para a economia, a pandemia provocada pela doença COVID-19 também veio alertar para a urgência no combate da poluição atmosférica e obrigar as pessoas a procurar alternativas de trabalho com base nas tecnologias de informação e comunicação, nomeadamente pelo teletrabalho.


Figura 2- Poluição na Europa em 2019 VS a poluição na Europa em 2020

 

Do meu ponto de vista, para além das medidas supramencionadas, deve apostar-se em benefícios fiscais para continuar a incentivar as pessoas a optar por soluções que reduzam a pegada ecológica (como é o caso da compra de veículos elétricos) e uma consciencialização da população para os problemas que iremos enfrentar se não se travar a poluição através de alterações nos comportamentos das pessoas. Mais ainda, a UE deve prestar apoios aos setores que entrarão em declínio.

 

Concluindo, a Europa pretende estar na vanguarda das economias neutras climaticamente e já tem o seu plano traçado.

 

Sofia Pereira

 

Bibliografia

FIGURA 1- fonte: Comissão Europeia (https://op.europa.eu/pt/publication-detail/-/publication/92f6d5bc-76bc-11e9-9f05-01aa75ed71a1)

FIGURA 2- fonte: ESA (Agência Espacial Europeia)

Suporte do artigo:

https://ec.europa.eu/info/strategy/priorities-2019-2024/european-green-deal_en

https://www.portugal2020.pt/content/uniao-europeia-alcancar-neutralidade-climatica-ate-2050

https://ecoxxi.abae.pt/our_news/green-deal/

https://ec.europa.eu/clima/policies/eu-climate-action/law_pt

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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