quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Emigração dos portugueses para o Luxemburgo nos anos 60 e em tempos de pandemia

  Foi nos anos 60 que os primeiros portugueses fizeram as malas e rumaram em direção ao Grão-Ducado do Luxemburgo. Na primeira vaga, muitos fugiam da ditadura e procuravam uma vida melhor. Ainda é contestado o que mudou, qual a proporção de portugueses que continuam por terras luxemburguesas e qual o motivo. Será que a permanência no país continua a ser favorável?

Em 1960, os primeiros portugueses emigraram para o Luxemburgo à procura de melhores condições e de um futuro melhor do que aquele que a ditadura de Salazar lhes oferecia. Rapidamente, começaram a chegar cada vez mais lusitanos a terras luxemburguesas. Foi então que em 1970 os governos português e luxemburguês assinaram um acordo que permitia a emigração legal de portugueses para o Luxemburgo, para estes trabalharem no setor da construção.

Apressadamente, a proporção de portugueses aumentou. Se em 1969 havia 2.757 portugueses no país, em 1970 o número ultrapassava os 11 mil. Em 1973, já se contavam 24.437 portugueses no Luxemburgo. Desde então este número continuou a aumentar.

Atualmente, é a maior comunidade de estrangeiros do país. Dos 626.108 residentes em janeiro de 2020, 95.057 tinham nacionalidade portuguesa, sendo 15,18% da população nacional luxemburguesa, segundo um relatório divulgado pelo STATEC (Instituto Nacional de Estatísticas e de Estudos Económicos do Grão-Ducado do Luxemburgo). O seguinte gráfico evidencia este acréscimo de portugueses pelo país das terras vermelhas.


 Gráfico: Evolução população estrangeira e portuguesa no Luxemburgo entre 1960 e 2013

 


Inicialmente, as pessoas emigravam com esperança de ter uma vida melhor, menos preocupações financeiras e, consequentemente, melhor qualidade de vida. Os homens iam trabalhar para a construção, as mulheres trabalhavam como empregadas domésticas. Durante muitos anos era esta a realidade de quem chegava ao país mas, com o avançar dos anos, os filhos dos emigrantes portugueses, nascidos no Luxemburgo ou não, tiveram a oportunidade de frequentar o ensino obrigatório, o que lhes permitiu integrar com mais facilidade o setor privado luxemburguês. No entanto, o acesso ao setor público obriga a ter a nacionalidade luxemburguesa. Nascer no Luxemburgo não quer dizer que se é cidadão luxemburguês. Existem entraves e processos longos para obter a nacionalidade.

Porém, aqueles que chegaram ao Luxemburgo nos últimos anos e que ainda não conseguiram obter um contrato estável, viram as suas vidas mais complicadas com o início da pandemia. Centenas de famílias portuguesas viram-se obrigadas a recorrer a associações de solidariedade para não passarem fome após terem perdido o emprego, apesar da maioria recusar regressar a Portugal, de onde já partiram pobres. No final do 3° trimestre de 2020, já foi possível quantificar os efeitos da pandemia: 30% da população em risco de viver abaixo do limite da pobreza são portugueses.

No Luxemburgo, para se viver acima do limite da pobreza, o rendimento mensal tem de ser superior a 1.804 euros, sendo que este valor é superior ao salário mínimo líquido. Os jovens sozinhos ou as famílias monoparentais são os mais expostos. Hoje, encontram no estado luxemburguês um suporte. No entanto, com o avançar da pandemia, o suporte tem sido reduzido. O embaixador de Portugal no Luxemburgo, António Gamito, diz que o melhor que têm a fazer é regressar a Portugal para, no mínimo, puderem viver com dignidade. Segundo ele, a situação só irá piorar no futuro próximo.

Na minha opinião, esta é uma altura difícil para todos. Não importa em que país vivemos, os emigrantes têm dificuldades por não conhecerem o país, não saberem onde podem pedir ajudas.

A capacidade de resposta de cada país torna-se limitada com o avançar da pandemia. Mesmo o Grão-Ducado sendo uma economia bastante estável, tem as suas fragilidades.

As pessoas têm de ter consciência e perceber que os países e as suas embaixadas estão a fazer o melhor que podem para ajudar cada indivíduo de maneira a não terem de recomeçar novamente do zero.

 

Olívia Coelho

Fontes:

https://eco.sapo.pt/2020/11/01/pobreza-ameaca-portugueses-no-luxemburgo/

https://observador.pt/2020/04/14/numero-de-portugueses-que-emigra-para-o-luxemburgo-voltou-a-crescer-em-2019/

https://www.wort.lu/pt/luxemburgo/portugueses-possuem-o-maior-risco-de-cair-na-pobreza-5f8fd741de135b9236f5e4bc

Gráfico: http://observatorioemigracao.pt/np4/4337.html

https://www.wort.lu/pt/luxemburgo/os-portugueses-mudaram-e-o-contacto-mudou-h-50-anos-era-tudo-diferente-5e1f2ee8da2cc1784e35413e

https://5minutes.rtl.lu/photos-et-videos/grand-duche-la-petite-histoire/a/1430864.html

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]

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