Portugal estava inserido num contexto de recuperação da crise de 2009. Desde 2013 que tanto o emprego como os salários reais tinham vindo a crescer até ao ano passado. No ano de 2019 foi apresentada a taxa de desemprego mais baixa desde 2002 (6,5%) e o primeiro saldo orçamental positivo (com base nos dados do Pordata). Após a chegada do Covid 19, que parou toda a economia, os efeitos no mercado de trabalho foram notórios e os efeitos também se manifestaram na taxa de desemprego, embora não tenham sido tão significativos devido a medidas de apoio ao emprego, como o lay-off. Assim, a taxa de desemprego deverá aumentar para 7,5% no final de 2020, segundo as previsões do Banco de Portugal à data de 6/10/2020.
Os
setores mais afetados a nível do aumento dos desempregados foram o alojamento,
restauração e similares, e ainda as atividades imobiliárias, administrativas e
de serviços de apoio. Quanto aos setores que perderam mais valor acrescentado,
destaca-se o setor de transportes aéreos, a fabricação de material de
transporte, o comércio a retalho de bens não essenciais, a reparação de
automóveis, o alojamento e a restauração. Alguns impactes nestes setores podem
ser explicados pela grande diminuição de turistas, atividade que é muito
importante na economia portuguesa.
Também
pude apurar que os grupos mais afetados foram as mulheres, pois cerca de 40%
trabalha nos setores mais afetados pela pandemia, e os jovens, pois são os mais
fáceis de descartar: 75% trabalha na economia informal, ou então a tempo
parcial e temporário sem proteção social. O trabalho que estes desempenham é
facilmente substituído por máquinas e os jovens empresários são os mais
vulneráveis.
Para
minimizar os impactes económicos, as empresas adotaram medidas esporádicas,
como o lay-off, o teletrabalho, o
trabalho misto (metade presencial e metade online),
redução de custos e ainda a aposta no digital. Estas medidas são ferramentas
que as novas tecnologias nos proporcionam e que deveriam ser mais exploradas
pelas empresas. Para voltarem a criar empregos de forma sustentável e voltar a
tornar os diversos setores de trabalho competitivos, os membros do mercado de
trabalho portugueses deverão aprender e debater com as lições que a pandemia
trouxe, apresentar planos concretos e ouvirem ideias inovadoras.
Na
minha opinião, acho que Portugal deveria mudar a mentalidade do mercado de
trabalho. Primeiro, o Estado deveria adotar medidas que promovessem o empreendedorismo
e incentivassem as empresas a adotar tecnologias e novas ideias para poderem
ser mais competitivas e sustentáveis. Em segundo lugar, a mentalidade dos
gestores e empregadores deveria mudar: deveriam dar mais valor aos jovens pois,
além destes dominarem as novas tecnologias, têm ideias inovadoras e vontade de
trabalhar e aprender. Esta mentalidade mais aberta permitiria a redução do
desemprego jovem e, com ela, a diminuição do desperdício de formação, educação,
talento, empreendedorismo e uma vida de descontos pela frente. Além disso,
estes jovens dominam cada vez mais o que é o futuro do mercado de trabalho, o
DIGITAL. Assim, estes são mais capazes de integrar os setores que cada vez mais
estão a ganhar poder no mercado de trabalho, como a inteligência artificial e a
robótica, o comércio eletrónico, as companhias virtuais, entre outros, e ainda se
adaptarem ao que poderá ser um novo modelo de emprego, o teletrabalho ou o
trabalho misto.
Este
novo paradigma, ao qual a pandemia nos obrigou, poderá ser visto com bons olhos
por alguns empresários por ser capaz de aumentar a produtividade e diminuir os
custos, o que poderá tornar as empresas portuguesas mais valiosas e
competitivas em contexto europeu e até mesmo internacional. A grande questão é:
serão os portugueses capazes de mudar a mentalidade?
Fernando Marques
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]
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