quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Mercado de Trabalho: mudança de paradigma?

 Portugal estava inserido num contexto de recuperação da crise de 2009. Desde 2013 que tanto o emprego como os salários reais tinham vindo a crescer até ao ano passado. No ano de 2019 foi apresentada a taxa de desemprego mais baixa desde 2002 (6,5%) e o primeiro saldo orçamental positivo (com base nos dados do Pordata). Após a chegada do Covid 19, que parou toda a economia, os efeitos no mercado de trabalho foram notórios e os efeitos também se manifestaram na taxa de desemprego, embora não tenham sido tão significativos devido a medidas de apoio ao emprego, como o lay-off. Assim, a taxa de desemprego deverá aumentar para 7,5% no final de 2020, segundo as previsões do Banco de Portugal à data de 6/10/2020.

Os setores mais afetados a nível do aumento dos desempregados foram o alojamento, restauração e similares, e ainda as atividades imobiliárias, administrativas e de serviços de apoio. Quanto aos setores que perderam mais valor acrescentado, destaca-se o setor de transportes aéreos, a fabricação de material de transporte, o comércio a retalho de bens não essenciais, a reparação de automóveis, o alojamento e a restauração. Alguns impactes nestes setores podem ser explicados pela grande diminuição de turistas, atividade que é muito importante na economia portuguesa.

Também pude apurar que os grupos mais afetados foram as mulheres, pois cerca de 40% trabalha nos setores mais afetados pela pandemia, e os jovens, pois são os mais fáceis de descartar: 75% trabalha na economia informal, ou então a tempo parcial e temporário sem proteção social. O trabalho que estes desempenham é facilmente substituído por máquinas e os jovens empresários são os mais vulneráveis.

Para minimizar os impactes económicos, as empresas adotaram medidas esporádicas, como o lay-off, o teletrabalho, o trabalho misto (metade presencial e metade online), redução de custos e ainda a aposta no digital. Estas medidas são ferramentas que as novas tecnologias nos proporcionam e que deveriam ser mais exploradas pelas empresas. Para voltarem a criar empregos de forma sustentável e voltar a tornar os diversos setores de trabalho competitivos, os membros do mercado de trabalho portugueses deverão aprender e debater com as lições que a pandemia trouxe, apresentar planos concretos e ouvirem ideias inovadoras.

Na minha opinião, acho que Portugal deveria mudar a mentalidade do mercado de trabalho. Primeiro, o Estado deveria adotar medidas que promovessem o empreendedorismo e incentivassem as empresas a adotar tecnologias e novas ideias para poderem ser mais competitivas e sustentáveis. Em segundo lugar, a mentalidade dos gestores e empregadores deveria mudar: deveriam dar mais valor aos jovens pois, além destes dominarem as novas tecnologias, têm ideias inovadoras e vontade de trabalhar e aprender. Esta mentalidade mais aberta permitiria a redução do desemprego jovem e, com ela, a diminuição do desperdício de formação, educação, talento, empreendedorismo e uma vida de descontos pela frente. Além disso, estes jovens dominam cada vez mais o que é o futuro do mercado de trabalho, o DIGITAL. Assim, estes são mais capazes de integrar os setores que cada vez mais estão a ganhar poder no mercado de trabalho, como a inteligência artificial e a robótica, o comércio eletrónico, as companhias virtuais, entre outros, e ainda se adaptarem ao que poderá ser um novo modelo de emprego, o teletrabalho ou o trabalho misto.

Este novo paradigma, ao qual a pandemia nos obrigou, poderá ser visto com bons olhos por alguns empresários por ser capaz de aumentar a produtividade e diminuir os custos, o que poderá tornar as empresas portuguesas mais valiosas e competitivas em contexto europeu e até mesmo internacional. A grande questão é: serão os portugueses capazes de mudar a mentalidade?

 

Fernando Marques

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]

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