domingo, 22 de novembro de 2020

Turismo, um setor em mudança

Portugal é um país geograficamente diverso, com riqueza histórica, cultural e com uma variada oferta na restauração e hotelaria, o que o torna um destino turístico de eleição. Foi o 3º do mundo a ter um organismo oficial de turismo e participou na primeira iniciativa que está na génese da OMC, detendo o estatuto de membro fundador. Mesmo sendo um pioneiro, o turismo até ao fim do século XVII era quase inexistente, sendo a Madeira o único destino com projeção no estrangeiro em 1850. Depois Lisboa, Algarve e Madeira passaram a ser as principais atrações turísticas. Atualmente, a procura continua concentrada, com quase três quartos das dormidas a registarem-se nessas regiões.

Em 2015, vencemos dezasseis “óscares do turismo” dos World Travel Award e este ano a Madeira venceu o prémio Melhor Destino Insular da Europa. Porém, ocupamos o 15º lugar no ranking do Fórum Económico Mundial relativo aos vinte destinos mais competitivos. Quando temos em conta a dimensão territorial, populacional e outros fatores, vemos que Portugal é ainda um destino pouco importante comparado com outros países. Os britânicos são o nosso principal cliente estrangeiro no que toca ao turismo, porém, já em 2018, antes do Brexit, houve uma quebra nas dormidas e o mesmo se verifica agora devido à Covid-19. A quebra no turismo teve graves consequências para a economia portuguesa, pois o turismo é a sua maior atividade exportadora. Em 2019, representou 19,7% das exportações, gerou 336,8 mil empregos e as receitas contribuíram para 8,7% do PIB. 

Atualmente, devido à Covid-19, o turismo tem sido gravemente afetado com viagens internacionais sujeitas a grandes restrições, a diminuição no rendimento disponível das famílias, empresas a fecharem temporariamente e o medo. Assim, muitos optaram por destinos nacionais, mais seguros, com menos densidade populacional e associados à sustentabilidade. O chamado “vá para fora cá dentro”. Destinos esses mais rurais e ligados à natureza, o que gerou benefícios e oportunidades para os negócios locais que sofreram menos ou tiveram mais procura com a pandemia.

Segundo previsões de Bruxelas, os países mais dependentes do turismo irão demorar mais a recuperar, porém é esperado um aumento da procura quando a situação pandémica for ultrapassada, uma vez que as pessoas vão querer esquecer o período em que não tiveram liberdade para viajar. Assim, num país com a economia muito dependente do turismo e numa Europa que quer apoiar estratégias de desenvolvimento, é importante que o Quadro Comunitário de Apoio contemple o setor do turismo de forma a apostar na formação, num turismo sustentável, na sua diversificação com bons eixos rodoviários e ferroviários para proporcionar o crescimento económico.

De forma a minimizar o impacte da redução da procura na atividade turística, o Turismo de Portugal lançou medidas como o reforço das equipas de apoio às empresas, apoio financeiro a microempresas e a suspensão de reembolsos de apoios concedidos pelo Turismo de Portugal, suportados pela Estratégia Turismo 2027. Além disso, lançou um programa de 10 milhões de euros até 2025 para candidaturas a projetos de promoção turística nacional, que promovam a dispersão territorial dos fluxos turísticos, o aumento das receitas turísticas ou que reduzam a sazonalidade. No Norte, está ainda a ser implementado um plano que valoriza produtos estratégicos: a gastronomia e vinhos, a natureza, o religioso, entre outros.

Em síntese, existem muitos motivos para acreditarmos na potencialidade de Portugal como destino de renome, com um turismo sustentável, capaz de criar mais riqueza, emprego e bem-estar. Apesar disso, ainda é uma atividade centralizada e vulnerável a crises e que não aproveita todas as potencialidades do património que tem. O turismo é um setor estratégico e essencial para a economia, que aproxima e preserva culturas, pessoas e que valoriza a nossa identidade. Ele permite estabelecer ligações entre regiões, países e continentes, contribui para o desenvolvimento de regiões com menos população e isoladas, combatendo a desertificação e o êxodo rural. E, quem sabe, possa ser uma forma de convencer turistas estrangeiros a investir e a morar no nosso país. Para tal, acontecer é fundamental capitalizar recursos para a recuperação deste setor e apostar noutros setores estratégicos de forma a dinamizar a economia e a evitar os efeitos de situações adversas como a atual crise pandémica.

 

Daniela Torres

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]

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