segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Outro tipo de Turismo, em Portugal

O Turismo no Espaço Rural (TER) define-se como o turismo situado em espaços rurais, ou seja, em zonas intimamente ligadas à agricultura, ao ambiente e à tradição (isto é, que conservam as caraterísticas primordiais, os valores, modos de vida e de pensamento das comunidades rurais). Este tipo de atividade engloba as Casas de Campo, o Turismo de Aldeia, o Agroturismo e os Hotéis Rurais.

O turismo rural apresenta-se como um importante meio de desenvolvimento das economias e apresenta inúmeras vantagens, desde que seja praticado de forma sustentável, quer a nível económico, quer a nível ambiental. Em Portugal, o turismo constitui um cluster estratégico na medida em que contribui para o desenvolvimento económico e social de algumas regiões.

O TER representa uma solução para resolver as crises que afetam as áreas rurais, nomeadamente através do desenvolvimento endógeno, isto é, a possibilidade de ser o próprio meio rural a iniciar o seu processo de desenvolvimento baseando-se nos conhecimentos das empresas regionais e dos habitantes. Este tipo de turismo promove a conservação do ambiente, a reabilitação do património e o aumento do emprego nas zonas rurais.



Em Portugal, observa-se um incremento na procura pelo TER e, desde 2014, constata-se um aumento contínuo e notável, como é possível verificar pelo gráfico abaixo descrito. Em 2014, contabilizaram-se 855726 dormidas e, em 2019, esse valor ascendia a 1964775. Deste modo, verifica-se uma variação positiva de 1109049 dormidas em apenas 5 anos.

Mais ainda, observa-se que, em 2019, há mais gente a recorrer ao turismo rural em Portugal Continental do que nas ilhas e que as Casas de Campos são o tipo de estabelecimento de TER com taxas de ocupação maiores.



       Fonte/Entidades: INE

De forma a acompanhar a crescente procura, verifica-se que tanto o número de estabelecimentos como o número de quartos por estabelecimento têm vindo a aumentar, principalmente desde 2014. Em 2014, o número de quartos nos estabelecimentos indicados era 6511 e, em 2019, perfez um total de 11992.



 


De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística, a percentagem de dormidas nos estabelecimentos de TER, em 2008, para o Continente, correspondia a 29,4%, para a Região Autónoma dos Açores, a 41,7%, e para a Região Autónoma da Madeira, a 6,4% do valor total das dormidas. Já em 2019, para o Continente, para a Região Autónoma dos Açores e para a Região Autónoma da Madeira esse valor era de 87,4%, 86,3% e 94,9%, respetivamente. Ou seja, observa-se um crescimento das dormidas em contexto de turismo rural principalmente nas regiões autónomas.

 



        Fonte/Entidades: INE

No que concerne à nacionalidade dos turistas que optam pelo turismo em espaço rural, em 2003, 55,1% eram estrangeiros, sobretudo vindos do Reino Unido, França, Alemanha, Espanha e Holanda (correspondendo a 75% das dormidas de estrangeiros).

Todavia, o setor do turismo sofre do problema da sazonalidade, isto é, há muita procura em certos períodos do ano e nos restantes meses a procura é bastante reduzida. Dados de 2003, mostram que o TER não é exceção e entre julho e setembro há muita procura (as taxas de ocupação estão acima dos 20%) e em janeiro, fevereiro, novembro e dezembro a taxa de ocupação corresponde a menos de 10%. Como podemos confirmar pelo gráfico abaixo, em 2019, era essa a situação.

 

                 Fonte/Entidades: INE/Turismo de Portugal

Assim, as empresas colocam em prática planos de poupança com os rendimentos do verão para depois, no inverno, conseguirem fazer face às despesas.

Com a COVID-19, o setor do turismo assistiu a uma mudança de paradigma: segundo o presidente do turismo do Porto e do Norte de Portugal, os turistas foram maioritariamente portugueses (cerca de 80%) e preferiram o interior do país, sendo que o turismo rural passou a ser o mais procurado. Todos os estabelecimentos foram obrigados a repensar as estratégias de forma a cumprir com as medidas de segurança. Por exemplo, no caso do TER a redução da capacidade oferecida rondou os 46,7%.

Concluindo, devem adotar-se medidas que promovam o Turismo em Espaço Rural de modo a preservar o património, a cultura, a tradição e a gastronomia. Do meu ponto de vista, as soluções passam por: uma gestão descentralizada ou uma redução na dependência financeira e material dos governos, já que a chave para o desenvolvimento assenta na própria comunidade e na sua inovação; por um maior investimento por parte, principalmente, da União Europeia e das autarquias locais; pelo incremento das atividades de entretenimento, por parte dos estabelecimentos de TER; e, por fim, por uma maior oferta pública e privada que permita uma maior exploração do potencial deste tipo de mercado.

Em suma, o turismo rural constitui um gerador de emprego e rendimento, mas é necessário o seu desenvolvimento sustentável e que a sua promoção retire o maior benefício dos recursos turísticos do território. É, ainda, fulcral que se preste atenção às necessidades dos consumidores de forma a retirar o maior aproveitamento deste tipo de mercado turístico.

 

Sofia Pereira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: