quinta-feira, 5 de novembro de 2020

O futuro: carteira ou telemóvel?

Podemos cruzar-nos várias vezes com a sigla CBCD’s (traduzido para o português: Moeda Digital do Banco Central), achando que sabemos do que se trata e até que já usufruímos dela. Mas nem tudo é o que parece. A moeda digital, na Europa, ainda tem um longo caminho a percorrer, principalmente se compararmos com os nossos vizinhos asiáticos, o povo pioneiro neste tema.

Este assunto tem sido alvo de várias e intensas discussões. Recentemente, no final do mês de outubro, assistiu-se no encontro anual do FMI (Fundo Monetário Internacional) ao debate sobre os pagamentos para lá das fronteiras - Cross-border payments - e as suas implicações. Este sistema acaba por refletir o novo normal ou aquilo que se espera que seja o novo normal.

Os Bancos Centrais estão a considerar emitir a sua própria moeda digital e, por isso, é necessário investigar, de forma cuidadosa, quais os custos e benefícios da sua implementação.

Por exemplo, na conferência Cross-border payments supramencionada foi percetível a posição dos vários líderes quanto a este novo paradigma.

Enquanto que, por um lado, os EUA (Estados Unidos da América) são bastante cautelosos e revelam-se conservadores, principalmente na velocidade de evolução da moeda digital, por outro lado, surge o continente antessignano, a Ásia, onde plataformas de pagamento digital como Alipay e WeChat Pay representam, atualmente, 93% das transações efetuadas.

Para além destes representantes, a opinião da Europa rege-se pelo impulso e incentivo à efetivação e controlo da moeda digital, principalmente pelo que se assistiu nos últimos anos, assim como o Fundo Monetário Internacional, que objetiva uma colaboração por parte de todos os países para o reforço e atualização do sistema económico para um panorama mais digital do que o atual.

As vantagens da cripto moeda são inúmeras. Em primeiro lugar, representam uma nova tecnologia que pode servir vários propósitos, principalmente, como ferramenta de pagamento. Na realidade, a função central desta moeda é o seu uso como meio de troca.

Em segundo, é um método de distribuição e de transferências seguro e protegido de fraudes ou roubos, garantindo que as informações passam pelas vias adequadas. Acrescentada à segurança, surge a oportunidade e proveito pelas famílias mais desfavorecidas da moeda digital: os seus serviços auferem taxas acessíveis a toda a população.

Para além disso, a Central Bank Digital Currency, além de uma mudança de padrão, interfere em vários domínios, como na área bancária, onde países com sistemas bancários frágeis e controversos podem recorrer facilmente à cripto moeda com o objetivo de atenuar as adversidades presentes nessa estrutura.

Por exemplo, no mundo financeiro, o incremento do uso da moeda digital proporciona às empresas e associações autonomia e independência, que até ao dia de hoje não eram capazes de alcançar. E isto é possível porque opera independentemente de autoridades financeiras centrais e, em consequência, não há necessidade de preocupação de um hipotético bloqueio de pagamentos.

É, também, um boost, no sentido de fortalecer o e-commerce, com uma evolução bastante notória, referenciada e desfrutada nesta época atípica. Se estas transferências são mais eficientes? A resposta é afirmativa. Como já apontado, a cripto moeda facilita as transações pela inexistência de intermediários e pelo facto de não ser necessário, entre indivíduos e empresas, o pagamento de taxas apenas por transmissão de fundos entre os mesmos. Os seus utilizadores beneficiam desta situação porque são capazes de economizar quantias consideráveis ao empregarem estas estratégias de baixo custo ou, até mesmo, de custo nulo.

Na minha opinião, bastante influenciada por aquilo que assisto no dia-a-dia, a moeda digital surge com o intuito de melhorar o sistema económico, não só pela segurança como pela acessibilidade, entre outras vantagens. Mesmo perante a perspetiva dos EUA (um país dominante e a par do dólar, que permanece moeda de reserva mundial) que se revelam com uma posição mais tradicionalista, neste contexto, a minha tese vai ao encontro do ponto de vista de Kristalina Georgieva (diretora administrativa do FMI):

We have a chance to improve cross-border payments with huge benefits, especially for many of the world’s poorest people. And there is a pressing need to do so".

A esfera económica, em todos os âmbitos a desempenhar, está a transformar-se, e a atualidade exige mudanças imediatas, contudo, ponderadas. A moeda digital pode, certamente, revelar-se uma dessas soluções.

 

Francisca Carvalho Gomes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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