domingo, 8 de novembro de 2020

Covid-19 – Turismo-20 Um Presente…, Futuro (versão revista)

Sendo o Turismo um dos setores económicos com maior atividade exportadora no nosso país, com décadas de existência e um crescimento contínuo, é aquele que está a sofrer um maior impacte negativo na sua atividade devido à pandemia Covid-19.

De acordo com os dados fornecidos pelo Turismo de Portugal (TP), este setor foi, em 2019, responsável por 52,3% das exportações de serviços e por 19,7% das exportações nacionais. Consequentemente, verificou-se no setor um aumento de emprego, com um peso de 6,9% na economia nacional, e as receitas registaram um contributo de 8,7% para o Produto Interno Bruto (PIB). Por estas razões, o Turismo tem sido considerado o “petróleo” nacional.

O surgimento de uma pandemia à escala global, em inícios de 2020, obrigou ao encerramento de fronteiras e a confinamentos regionais e nacionais. Esta circunstância provocou uma imobilidade humana sem precedentes e uma crise social e económica ainda por contabilizar, impactando de forma significativa a situação económica e financeira do setor. As receitas turísticas tiveram um impacte negativo superior a 50% e, segundo o Banco de Portugal, o défice orçamental, em 2020, deverá chegar aos 7% do PIB e a dívida pública aos 134,4%.

Entre janeiro e maio, as viagens de turismo tiveram um impacte negativo de 320 mil milhões de dólares, valor três vezes superior ao registado na Grande Recessão de 2007-2009, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT).


Gráfico 1: Impacte da atual crise no volume de negócios | INE e Banco de Portugal, 

 13 a 17 de abril de 2020

Observando o gráfico, verificamos que o Turismo é o setor mais penalizado, registando a atividade Alojamento e restauração perdas superiores a 75%.

Segundo as mais recentes estatísticas, publicadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), uma redução de 25% na atividade turística levará à redução de 2,9% do PIB anual em Portugal. De acordo com a OMT, estiveram em risco neste setor 120 milhões de empregos.

Como se pode observar no gráfico abaixo, 38% das empresas deste setor mantiveram-se em funcionamento, 56% encerraram temporariamente e 6% encerraram definitivamente.


Gráfico 2: Situação das empresas, em % do total | INE e Banco de Portugal 13 a 17 de abril de 2020



Apesar do país continuar com as mesmas caraterísticas atrativas para o Turismo, como afirmou o Primeiro-Ministro em entrevista à TVI no dia 21 de outubro, nos próximos meses teremos a presença de fatores de grande imponderabilidade, uma vez que a pandemia é mundial, impossibilitando o Governo de controlar todas as variáveis relacionadas com o Turismo, designadamente o fluxo de turistas estrangeiros que entram no país.

Querendo minimizar os impactes da redução temporária dos níveis de procura na atividade turística, o TP delineou uma estratégia assente em 3 pilares: Confiança, Esperança e Reinvenção. A criação do selo Clean & Safe, que distingue empreendimentos turísticos, empresas de animação turística e agências de viagem que asseguram o cumprimento dos requisitos recomendados pela Direção Geral de Saúde (DGS), e a criação da campanha Awareness, para promover o distanciamento social, transformando a assinatura Can't Skip Portugal em Can’t Skip Hope, são exemplos dessa estratégia. Considero que esta estratégia terá um impacte positivo no turismo interno, pois as pessoas procuram segurança. Consequentemente, há uma crescente valorização deste tipo de turismo e dos bens e serviços nacionais, levando a uma retoma de atividades e a melhorias nas balanças corrente e de pagamentos.

Para além das medidas que têm sido aplicadas, de forma imediata, com o objetivo de minimizar, a curto prazo, os impactes da pandemia, considero fundamental que, a médio prazo, exista uma visão estratégica para o nosso país, na qual sejam introduzidas medidas macroestruturais em todos os setores da sociedade. Querendo construir o futuro, o atual governo nomeou António Costa e Silva, engenheiro e gestor de renome, para delinear um plano de recuperação pós-pandemia, tendo sido elaborado o documento “A Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020 – 2030”, dividido em 10 eixos: infraestruturas, com destaque para a ferrovia; qualificação da população e transição digital; setor da saúde; o Estado social; reindustrialização do país; reconversão industrial; transição energética; coesão do território, agricultura e floresta; mobilidade e cultura, turismo e comércio.  

Para construir uma oferta competitiva neste setor, o turismo convencional deverá alinhar-se aos turismos cultural, de natureza, de saúde, … É importante que o Turismo se desenvolva em maior articulação com outros setores da economia, evitando o recurso sistemático a mão-de-obra precária e desqualificada.

Considero que, se houver uma política concertada, em que todos os setores de atividade integrem as medidas previstas nesta “Visão Estratégica”, teremos as condições necessárias para que possa existir um crescimento global e sustentável, no qual o Turismo terá um papel fundamental.

Parafraseando o Ministro da Economia, Pedro Siza Vieira: “A minha perspetiva para o turismo a médio prazo é muito otimista”.


Inês de Morais 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]

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