quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Energias renováveis – o nosso futuro e os seus custos

As energias renováveis, definidas como aquelas provenientes de recursos naturalmente abastecidos, como o sol, vento, chuva ou marés, e ilimitadas, têm aumentado o seu crescimento, não só como setor de provisão para o funcionamento de fábricas e produções, mas também como um contributo na regressão da deterioração ambiental. Há dois factos essenciais conhecidos pela população em geral acerca deste aspeto: representam uma mais valia para o ambiente e os seus custos são elevados. Tendo isto em conta, estarão os países a cometer um erro investindo nestes processos inovadores?

          A Deloitte, juntamente com a Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), mostrou num estudo recente o aumento da presença da eletricidade renovável no conjunto do seu setor, correspondendo a cerca de 56% da produção, alinhando-se com os objetivos estabelecidos tanto a nível Europeu como da política energética nacional, pelo que nos encontramos nas melhores posições entre os países (3º lugar). Um dos usos visíveis destas energias são os transportes elétricos, incluindo autocarros.

 

               Fonte: Gabinete de Estatísticas da União Europeia

Este incremento contribuiu para uma diminuição da dependência energética do país, que reduzira dos 84% para os 71%. Em questão do seu impacto na economia, numa perspetiva macroeconómica, e utilizando dados de 2013 provenientes do mesmo estudo, a eletricidade renovável adicionou mais de 2700 milhões de euros ao PIB nacional, criando mais de 40 mil postos de trabalho. Previsões mostram o crescimento de ambos os valores para 4300 milhões de euros e 66 mil postos, respetivamente. Fica mais do que óbvio o enorme contributo desta inovação na riqueza do país e situação de empregabilidade, assumindo, portanto, um papel também relevante no aumento da eficiência e produtividade, formando um ciclo.

          Verificou-se, também em 2013, uma diminuição de libertação de CO2 em cerca de 10 milhões de toneladas, um valor crescente no futuro. Ainda como uma consequência indireta, temos a redução da importação de matérias primas como o gás natural e carvão, devido à agora fonte de energia substituta. A poupança proveniente destas compras pode alcançar os 37 mil milhões de euros, contanto que as centrais de carvão encerrem até 2021, como estaria previsto.

          No entanto, como em qualquer novo processo, este acarreta falhas e custos. Em Portugal, ainda não é possível viver totalmente das energias “verdes”. Falta-nos capacidade de armazenamento, para garantir a flexibilidade necessária ao seu uso, como ocorre em países como a Noruega. As nossas barragens (centrais hídricas) são muito vulneráveis a fatores climatéricos, como a falta de chuva, prejudicando a sua utilização. A obtenção de outros locais representam ainda custos demasiado elevados, além da manutenção dos sistemas de backup, as energias não renováveis ainda usadas, em caso de necessidade. Estando dependentes de fatores naturais, a sua renovação sempre será um fator incerto. Outro dos problemas são os custos diretos. O preço adicional teria de ser pago pelo cliente, sendo que a tarifa seria tanto maior quanto mais elevado o grau de renovação, mesmo com a maior competitividade e decréscimo de preços nos dias de hoje. Estes custos surgem já dos investimentos e défices que não foram ainda pagos no início da inovação. Porém, cálculos realizados por especialistas mostram a possibilidade de que, uma vez estes pagamentos prévios passados, as energias renováveis poderão efetivamente tornar-se mais baratas para os consumidores. Hoje, existe ainda uma dívida de cerca de 2400 milhões de euros a pagar.

 

Tendo em consideração os sobrecustos com o investimento inicial, a necessidade de backups, a falta de capacidade de armazenamento, a instabilidade associada às fontes da energia, poderia ser de pensar, como muitos governos afirmam, uma vez que a polémica acerca da utilização das energias renováveis continua em aberto, que não seria um bom investimento. A questão reside no facto de que, ainda que não num sistema 100% verde, os impactos no ambiente, a independência do país e a mudança em fatores económicos comprovam o motivo para a contínua inovação, desenvolvimento e aperfeiçoamento destas energias: são eficientes, e no futuro serão monetariamente acessíveis.

          Esta aposta tem contribuído sem dúvida para um Portugal mais sustentável em diversos aspetos, especialmente com o crescimento das fileiras eólica e solar. A redução dos preços e maior presença são esperadas nas próximas décadas e os países devem continuar com o investimento constante nesta área. Não é um erro e sim uma evolução justificada e necessária.

 

Margarida Soares


Bibliografia:

https://www2.deloitte.com/pt/pt/pages/energy-and-resources/articles/estudo-energias-renovaveis.html#

https://observador.pt/especiais/podemos-viver-so-com-energia-renovavel/


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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