domingo, 1 de novembro de 2020

A Guerra dos nossos dias: a Covid-19!

 

Entende-se por guerra a inimizade declarada e luta armada entre nações ou partidos. Alguns indivíduos consideram aquela um conflito armado entre grupos ou estados que envolve mortes e destruição. Porém, outros qualificam-na pela coação política, económica, psicológica ou militar. Em última instância, a guerra é “um massacre de homens que não se conhecem em benefício de outros que se conhecem mas não se massacram” (Paul Valéry). Todas as guerras, geralmente, envolvem várias e simultâneas causas, nomeadamente poder, estratégia, economia e riqueza, etnia, religião, e outras tantas. Deste modo, fica a questão: será a pandemia Covid-19 uma guerra? O que é certo é que a mesma é uma crise a vários níveis, tanto nacional como internacionalmente. É uma crise de saúde, uma crise económica e até uma crise social!

          Em primeiro lugar, é inquestionável o impacte que a pandemia teve na saúde: queda no número de consultas médicas, redução significativa de cirurgias, queda no internamento de doentes, etc., mas a mais importante, sem sombra de dúvida, é o elevado número de mortes. A Covid-19 já matou mais no Reino Unido do que os bombardeamentos alemães da Segunda Guerra Mundial!

 

Figura 1: Países com mais óbitos por milhão de habitantes

Fonte: PORDATA

Posteriormente, ao nível da economia verificou-se uma quebra acentuada no rendimento, no emprego, no consumo privado, no investimento e no turismo. Ademais, ainda se podem apontar vários efeitos negativos na produção, na produtividade e no sistema financeiro. De entre as diversas despesas públicas, destacam-se o aumento do consumo na saúde, dos subsídios (incluindo o lay-off), das prestações sociais, e também uma perda de contribuições (como as remessas dos emigrantes). Não nos podemos esquecer, evidentemente, do claro aumento da dívida pública e, consequentemente, do défice orçamental. Por exemplo, os EUA já gastaram quase tanto com a Covid-19 como com a Segunda Guerra Mundial. Curiosamente, a dívida pública mundial vai atingir um nível inédito este ano, representando 101,5% do Produto Interno Bruto, mais do que no fim da Segunda Grande Guerra, segundo declarações do FMI.

Finalmente, no que diz respeito à sociedade, pudemos assistir ao encerramento de escolas, ao distanciamento e isolamento social, ao aumento do medo, da ansiedade, da depressão, da insegurança e da incerteza face a esta nova realidade. Aliás, o Banco Mundial estima que a Covid-19 levará cerca de 60 milhões de pessoas à pobreza extrema apenas em 2020.

Como todos sabemos, a Segunda Guerra Mundial foi o conflito mais mortal da história, com um total estimado de mais de 55 milhões de mortes. Por sua vez, a atual pandemia da Covid-19, embora apresente um número bem menor de mortes em relação a outras catástrofes, exibe um aspeto peculiar: será aquela da qual resultará a maior quebra na economia. Mário Centeno declarou que o surto de Covid-19 está a ter um impacte na economia como em “tempos de guerra”. Divergindo desta opinião, o chefe de Estado alemão afirmou que a pandemia "não é uma guerra", pois "nações não se estão a erguer contra nações, nem soldados contra soldados". A verdade é que a pandemia da Covid-19 e a guerra podem não se revelar semelhantes, contudo as suas consequências já o são.

Na minha opinião, poderemos vir a assistir a uma Terceira Guerra Mundial, mas desta vez o cenário será ligeiramente diferente dos que conhecemos. Que tal uma guerra biológica? Ou química? Ou até mesmo económica? Mais tarde ou mais cedo, chegará o dia em que viveremos um quotidiano de guerra crónica, seja ela de que tipo for!

 

Cristiana Mendes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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