domingo, 1 de novembro de 2020

BANCA: UM NOVO PARADIGMA?

 

E se não precisasse de ir a uma agência bancária para abrir uma conta ou solicitar um empréstimo? Poder transformar um longo tempo de espera na fila num simples “clique” através do smartphone? A pressão dos cidadãos neste importante setor da economia é progressivamente notória e, de facto, a banca, assumindo um papel de destaque no desenvolvimento económico, uma vez que é uma fonte primária de financiamento de grande parte dos investimentos e consumos, tem-se deparado ao longo dos anos com a necessidade de adaptação a novas realidades que trazem consigo inúmeros desafios e ameaças. Estes são hoje particularmente impostos pelas questões inicialmente destacadas, tornando imperativas a resposta ágil às mudanças por parte dos bancos e dos seus modelos de negociação.  

Assim como avançado por Nuno Cordeiro, partner da Deloitte, a segurança, a confiança, a base de clientes e também a excelência da informação constituem no seu conjunto determinantes das principais vantagens competitivas detidas pelos bancos relativamente a empresas que atuam noutros setores de atividade. A pandemia de COVID-19 impulsionou uma série de restrições de quarentena, que se refletiram em mudanças no comportamento dos clientes ao nível digital, verificando-se um crescimento significativo, entre 10% a 20% nos últimos seis meses, no uso de serviços remotos dos bancos. Neste sentido, os novos costumes adotados pelos indivíduos face às vantagens do mundo digital provavelmente continuarão a ser utilizados ativamente no período pós-COVID-19, impulsionando a aceleração dos sistemas de transformação digital dos bancos.

Note-se que os limites ao pagamento sem contacto foram expandidos em vários países, incluindo o Reino Unido, Alemanha, Irlanda, Polônia, Noruega, Egito e, em muitos, esta expansibilidade mais do que duplicou. A Fintech, apresentada como uma inovação revolucionária capaz de agitar os mercados financeiros tradicionais, trouxe um novo paradigma no qual a tecnologia da informação mostra-se capaz de criar impulsos à inovação no setor financeiro. A inevitável digitalização não é o único motivo. Afinal, o setor tem enfrentado uma queda no desempenho financeiro desde o ano passado. A Bloomberg Intelligence afirmou que o rácio custo-rendimento médio dos principais bancos europeus ascendeu a 67%, em 2019, a taxa mais elevada desde 2008.

O Banco Central Europeu, que supervisiona um agregado de 113 entidades financeiras, no relatório anual, em relação ao ano de 2019, divulgou que a rendibilidade dos capitais próprios desse conjunto de entidades teria sido de 5,2%. Este é um resultado inferior ao apresentado pelas instituições norte-americanas, e até mesmo quando comparado com as estimativas divulgadas pelas próprias instituições. Todavia, no primeiro semestre de 2020, os números agravaram-se e a rendibilidade dos capitais próprios das entidades financeiras reduziu-se para somente 1,2%.

Portugal, assim como alguns dos seus parceiros europeus, apresentou valores negativos (-0,77%) e países como a Alemanha, Itália e Bélgica, que detêm um mercado bancário muito superior ao de Portugal, apresentaram um valor ainda mais drástico. É certo que a recessão global em 2020 agravou os cenários. Afinal, a redução do rendimento da população, o aumento do desemprego e a incerteza financeira impulsionam a queda na quantidade e volume dos depósitos bancários e empréstimos para fins específicos, como hipotecas, empréstimos para automóveis, etc.

As transformações no modelo operacional e a transição digital são os meios para os bancos superarem as dificuldades. Além disso, pode estipular-se que os bancos forneçam empréstimos menores e avaliem os clientes de maneira menos formal, bem como comecem a adquirir empresas fintech, uma vez que, notavelmente, as próprias fintechs são bastante ativas nesse aspeto, na medida em que procuram oportunidades para melhorar o seu desempenho.


 



Por outro lado, o Banco Central Europeu, com o propósito de solucionar este problema, aguarda uma centralização dos bancos europeus, já que a ideia é que há uma oferta excessiva de bancos.

No meu ponto de vista, esta concentração apenas trará resultados a curto prazo, já que inicialmente será sentida a poupança nos custos. As pessoas cada vez mais valorizam o seu tempo e a tecnologia que os novos bancos oferecem e esta mudança de paradigma no comportamento dos novos consumidores está a deixar os bancos tradicionais para trás, que têm poucos anos para agirem e tomarem uma decisão assertiva. Fundamentalmente, é imperativo os bancos se tornarem mais relevantes para os seus clientes, num um mundo onde a competição pelo seu interesse e atenção se intensificou. As vantagens competitivas dos bancos deverão ser o ponto de partida para a análise e, a meu ver, fundamentam-se em duas: a segurança e confiança que os clientes depositam nos bancos; e a informação que estes detêm sobre a vida dos clientes.

Em suma, a flexibilidade da atividade bancária entrou numa espiral transversal de crescente utilização, acentuando não só a simplicidade e proximidade do serviço prestado cliente, mas também a fusão dos canais digitais com os serviços de balcão, o que é igualmente importante para que as vantagens de ambos os meios sejam explorados de forma sustentável. Mas engane-se quem somente denota a lógica desta questão, pois no fundo há que pensar numa nova questão daqui emergente e que diz respeito à aplicação de massivos investimentos no processo de transformação digital por parte dos bancos.

 

Nelson Fernandes

 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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