domingo, 22 de novembro de 2020

Indústria da cortiça em Portugal

          A importância do setor da cortiça na economia portuguesa é inegável. Este é um setor que apresenta uma forte componente exportadora que contribui para a competitividade e o crescimento da economia portuguesa, cujas atividades vão desde a extração, transformação e comercialização da cortiça.

          A cortiça tem origem na casca dos sobreiros, sendo que 34% da área mundial do montado de sobro se localiza em Portugal (maioritariamente no Alentejo), o que corresponde a uma área de 720 mil hectares e a 23% da floresta nacional, permitindo que Portugal lidere na produção, transformação e exportação desta matéria-prima em produtos com elevado valor acrescentado.

          Esta indústria é composta principalmente por PMEs, nomeadamente por microempresas, sendo que estas empresas se localizam maioritariamente nas regiões Norte e Centro, sendo que cerca de 80% das empresas estão situadas na sub-região de Entre Douro e Vouga.

          Deste modo, das empresas do setor da cortiça que estão divididas em diversas atividades económicas, as que predominam são as que fabricam rolhas, pois um dos principais destinos dos produtos de cortiça é a indústria vinícola. Outro subsetor que se destaca é o da preparação da cortiça, seguido pelo fabrico de outros produtos desta matéria-prima, nomeadamente para a construção civil, decoração e isolamento.

          É um setor que, nas últimas décadas, regista um crescimento económico contínuo. Esta tendência verifica-se na balança comercial da fileira de cortiça, visto que o saldo tem sido sempre positivo e crescente, e no valor das exportações de Portugal, desde 2011 até 2018, que apresenta um crescimento anual médio de 4,5%. 2018 foi um ano marcante para o setor, sendo ultrapassados os mil milhões de euros no valor global das exportações. A evolução das exportações de cortiça deve-se à progressiva preferência pelo uso da rolha de cortiça na vedação das garrafas de vinho, em todo o mundo, bem como à sucessiva utilização desta matéria-prima no setor da construção civil.

          Deste modo, Portugal é o maior exportador mundial de cortiça, seguido pela Espanha e França, que estão, em termos monetários e percentuais, bastante distantes. Estas exportações, em termos globais, nas exportações de bens portugueses, representam cerca de 2%, enquanto o seu valor nas exportações totais portuguesas é de 1%. As exportações portuguesas têm como destino mais de 130 países, dominantemente europeus, sendo que os principais são a França, os EUA, a Espanha, a Itália e a Alemanha. Além disso, Portugal é o terceiro maior importador mundial de cortiça, a qual é utilizada para transformação e posterior exportação sob a forma de produtos de consumo final.

          Nos dias de hoje, enfrentamos uma crise sanitária mundial, crise esta que, para além de prejudicar a saúde da comunidade, também está a causar danos muito graves a nível económico. O setor da cortiça não é imune a estes danos e verificam-se perdas significativas nesta indústria, pois as medidas de prevenção, como o encerramento de lojas e as reduções salariais, retraíram o consumo. De acordo com o presidente da APCOR (Associação Portuguesa da Cortiça), o impacte da COVID-19 neste setor não foi como nos restantes, sendo que os danos notar-se-ão mais intensamente a longo prazo, afirmando que estamos perante um impacte mais estrutural e apelando para que as medidas e apoios do Estado sejam prolongadas ao longo do tempo, de forma a conter os prejuízos.

          Em suma, o que permite a Portugal continuar a ser o maior produtor, transformador e exportador de cortiça é o facto desta matéria-prima ser tão versátil, pois é utilizada em variados setores. Para além disso, o setor vinícola tem vindo a apresentar uma importância crescente, o que é extremamente benéfico para o comércio da cortiça.   Considero que a cortiça terá um papel importante na recuperação económica, coesão social e territorial e no desenvolvimento sustentável do nosso país. Esta indústria é de extrema importância para o desenvolvimento da economia, quer pelo lado da produção e do emprego, quer pelo lado das exportações.


Daniela Bastos

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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