quarta-feira, 4 de novembro de 2020

É o fim do euro? As dificuldades do euro durante a crise económica e financeira de 2008 e atualmente, durante a crise sanitária COVID-19

 

O euro é a moeda oficial utilizada por 19 países da União Europeia. A sua circulação iniciou-se em 2002 e foi o culminar de um longo percurso com mais de 40 anos. Ao euro confere-se a posição de segunda moeda mais relevante no mundo e, atualmente, cerca de 74% dos europeus são a favor da União Económica e Monetária Europeia e de uma moeda única, o euro.

Foi em 2008 que uma crise económica e financeira mundial irrompeu e se alastrou à Zona Euro, em que alguns países europeus, como Portugal, Espanha, Chipre, Grécia e Irlanda, foram particularmente afetados, sendo que alguns dele, até ao ano atual ainda estão em recuperação. Desta forma, foram necessárias medidas para socorrer financeiramente estes países e para fortalecer a governação e a resiliência da União Económica e Monetária.

Em 2012, Mario Draghi, que era presidente do Banco Central Europeu (doravante designado por BCE), anunciou que esta instituição iria fazer o necessário para preservar o euro e, como tal, introduziu uma panóplia de medidas com o objetivo de restabelecer a confiança dos mercados e apoiar os países da Zona Euro sob pressão. Essas medidas de resposta direta do BCE incluíam a disponibilização de liquidez aos bancos, a manutenção de taxas de juro baixas, entre outras, como o programa de flexibilização quantitativa, com o objetivo de dar apoio ao crescimento económico em toda a Zona Euro e que colaborava para um regresso a taxas de inflação inferiores, próximas de 2%. Consequentemente, esta ação decisiva por parte da União Europeia e dos seus Estados-Membros voltou a colocar a Europa numa trajetória de crescimento e prosperidade. Desta forma, o fim do euro foi um tema debatido durante a crise económica e financeira de 2008, mas é discutido também atualmente devido à crise sanitária COVID-19, que tem causado recessões e problemas económicos no mundo, e com particular importância nas economias dos países pertencentes à Zona Euro.

Estas conjunturas advêm do confinamento e de outras medidas implementadas para a contenção da pandemia atual, causando uma pressão acrescida no euro, que se verificou com a depreciação do mesmo face ao dólar. A propósito disto, várias figuras políticas notáveis e não políticas intervieram com o objetivo de dar a sua opinião que, por sinal, têm sido bastante divergentes.

Assim sendo, o Ministro das Finanças francês considera que a Zona Euro está em risco devido à pandemia e recomendou a criação de um Fundo de Retoma, com a colaboração de todos os estados-membros. Bruno Le Maire acredita que, dadas as diferentes economias e as suas capacidades de recuperação, “há o risco de países como a Alemanha ou a Holanda recuperarem mais rapidamente – porque têm o financiamento nacional – enquanto outros países que não têm as mesmas possibilidades ficam para trás, correndo-se o risco de se criarem mais divergências e diferenças de desenvolvimento entre os 19 da moeda única” e que essas divergências referidas por Le Maire poderiam levar ao fim da Zona Euro.

Já a opinião do economista português Ricardo Reis prende-se, com o facto de que, neste momento, o susto do fim do euro é menor porque tem sido mais preocupante a pela possibilidade do fim da União Europeia, que se veio a acentuar com o Brexit e, segundo a opinião do economista português, se irá agravar caso a eleição de Marie Le Pen como Primeira-Ministra francesa se concretize.

Concluindo, acredito que a crise sanitária e as medidas necessárias para a sua contenção irão causar uma acumulada pressão no euro, bem como nas economias dos países que tinham recuperado recentemente da crise de 2008 e nas economias que ainda estavam em recuperação dessa mesma crise. Desta forma, partilho da mesma opinião do Ministro das Finanças francês de que é necessária uma resposta conjunta da União Económica e Monetária, de forma a minimizar as consequências a longo-prazo na Zona Euro e evitar o seu possível fim.

Um dos maiores problemas apontados à moeda e à política monetária única deve-se à sua utilização generalizada, tornando-se ineficaz dada a presença de economias bastantes díspares na Zona Euro. Dado o contexto pandémico atual, a possibilidade da moeda e da política monetária vingarem após todas as consequências desta crise sanitária será um grande desafio a concretizar pelo BCE e pela Comissão Europeia, perante o qual só podemos aguardar para ver.

 

Marta Navio dos Santos Costa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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