quinta-feira, 26 de novembro de 2020

O Catalisador da Digitalização

Nada será como antes! Tudo por causa deste abominável vírus que, sem convite, chegou e não tem bilhete de volta! Sem dúvida, a COVID-19 conseguiu atravessar o mundo com a força da sua invisibilidade e envolveu-o num manto de incerteza. Pôs em causa o nosso modo de vida e parece levar a melhor e o melhor do Homem, o seu bom-senso.

Todavia, apesar de tudo, a SARS-COV-2 também criou novas oportunidades para gerir desafios. Hoje, mais do que nunca, apercebemo-nos que impulsionou a necessidade de inovação e deixou claro que, sem o acesso às tecnologias de informação e comunicação, a vida, nos últimos tempos, teria sido muito mais sufocante e limitada. Deste modo e tal como declara Miguel Almeida, diretor-geral da Cisco Portugal, a pandemia foi “o rastilho da transição digital”, uma vez que o decreto do estado de emergência e o confinamento obrigatório criaram “o momento ideal” para a aceleração do processo de digitalização do país.

Assim, a sociedade foi “remotizada” de um dia para o outro. Creio que quanto mais isolados e distanciados estávamos socialmente, mais ligados ficamos digitalmente. Com efeito, a crise pandémica veio evidenciar ainda mais a importância da disponibilidade, resiliência e qualidade das redes móveis e fixas de telecomunicações em Portugal, na medida em que a interoperabilidade e a interconetividade conferidas por estas tecnologias foram vitais à sobrevivência de qualquer empresa e serviço, pois garantiram que a sociedade civil, as empresas e o Estado continuassem a comunicar entre si.

Certamente, o suporte à digitalização foi, é e será promotor da retoma económica, visto que se massificou o teletrabalho, o ensino à distância, a telemedicina, o e-Commerce, a robótica e a indústria automatizada, os serviços públicos on-line e as plataformas colaborativas da economia local. Posto isto, promoveu-se a utilização acelerada de mecanismos de videoconferência e de partilha de informação pelas diferentes camadas da população, assentes numa transformação digital absolutamente transversal a toda a sociedade portuguesa.

Acredito que este será o “novo normal” e, portanto, é imperativo reinventar Portugal. Efetivamente, a transição digital é um dos instrumentos essenciais da estratégia de desenvolvimento do país, em linha com as orientações do Pacto Ecológico Europeu e com os investimentos da UE no período de programação 2021-2027. As novas tecnologias digitais, como os sistemas de inteligência artificial, a tecnologia 5G, a computação em nuvem e de proximidade e a Internet das coisas constituem-se, no seu conjunto, num dos principais alicerces da transição energética da economia e do Plano de Recuperação e Resiliência.

Nesta medida, um elemento propulsor desta transformação é o alargamento da fibra ótica para cobrir todo o país, tendo em vista o reforço da coesão territorial e a integração do interior na economia nacional e global. Outra estratégia impulsionadora é a utilização da nova geração de tecnologias móveis, a rede 5G, que consiste no suporte de redes do futuro com elevada capacidade de transporte de dados e com a possibilidade de interligar milhões de dispositivos. Assim, é possível alavancar a conectividade do país, inserindo-o nas redes globais, potenciando o know-how, construindo uma plataforma competitiva que providencie soluções para gerir as cidades inteligentes, para lançar e dinamizar a Internet das coisas, para potenciar o Big Data e para desenvolver o ecossistema de inovação, pondo-o ao serviço da transformação da economia.

É ainda essencial criar condições favoráveis ao setor público para prestar um melhor serviço e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida ao cidadão. Urge assim incentivar a adoção, por parte das empresas e do Estado, de instrumentos mais modernos que contribuam para a criação de mais e melhor emprego e a promoção da aposta em novos modelos de produção que incorporem as tecnologias associadas à digitalização.

Em suma, a crise sanitária mostrou a flexibilidade e capacidade de organização e adaptação que o sistema tecnológico nacional tem, pelo que, a meu ver, é imperativo reforçar e consolidar todas as infraestruturas digitais, aumentar o poder das redes e reforçar as tecnologias de informação e comunicação e também as competências de gestão.

Penso que devemos olhar para a pandemia como uma oportunidade de potencializar o nosso desenvolvimento, apostando na melhoria das qualificações da população e nas competências digitais da Administração Pública, das instituições e das empresas. Só assim conseguiremos enfrentar este desafio, reinventando-nos e recuperando a economia, tornando-a mais eficiente, inclusiva, inovadora e mais interconectada.

 

Ana Sofia Prelado Diogo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho] 

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