sexta-feira, 26 de novembro de 2021

A crise migratória e uma ida sem retorno

As crises migratórias são fenómenos que se tornarão cada vez mais comuns à medida que as alterações climáticas causarem tempestades mais agressivas e destruidoras, que levam à subida do mar, à destruição de alimentos e a condições inabitáveis.

Em 2020, foi atingido o valor recorde de 10 milhões de menores deslocados. Estes representam um em cada 3 dos migrantes. O principal motivo de migração são as crises climáticas, mas a grande instabilidade política e conflitos, violência e falta de segurança são fatores que também já levaram à migração de 30 milhões de pessoas, segundo dados do relatório publicado pela Save the Children.

O novo relatório da Save the Children concluiu também, em contraste, que o número de pessoas deslocadas internamente devido ao clima era de 19 milhões há cinco anos. O documento, publicado na véspera da COP26 em Glasgow, aponta algumas tendências. Em primeiro lugar, indica que, em 2020, o número de pessoas afetadas por secas de evolução lenta foi duas vezes maior do que as afetadas por tempestades súbitas. E refere ser “muito mais provável” que a migração provocada pelas temperaturas extremas, pela subida do nível no mar e a salinização dos terrenos agrícolas se torne permanente, tornando assim espaços outrora habitáveis em espaços que não sustentam a vida humana. Outro fator apontado pelo relatório é que grande parte desta migração tem como destino zonas que correm o mesmo ou um risco superior de serem afetadas pelas alterações climáticas.

Num estudo realizado, entrevistaram-se mais de 230 crianças habitantes em zonas de elevado risco climático – Fiji, Iraque, Mali, Moçambique e Perú – algumas das quais tiveram de migrar devido às alterações climáticas. Segundo alguns relatos desses migrantes, as alterações causadas pelas alterações climáticas foram “devastadoras” e “tornaram-se insustentáveis”.

“Em todo o mundo, mais de mil milhões de crianças vivem em zonas de alto de risco de sofrer inundações, secas severas e outras ameaças climáticas”. Para além do referido, os efeitos da crise climática levam a um aumento dos níveis de pobreza, o que por sua vez deixa as pessoas sem capacidade monetária de se deslocar, obrigando-as a ficar em lugares de alto risco, tendo estas de tomar atitudes inumanas como, por exemplo, saltar refeições, não ir à escola ou forçando-as até a trabalhar.

As crianças são fortemente afetadas fisicamente pelo pelos eventos climáticos, mais que os adultos, pois são mais sensíveis a infeções e subnutrição. Problemas como traumas de infância, levando a problemas de saúde mental e, muitas vezes, passando por situações violência, em que são recrutados por milícias armadas.

Segundo o diretor da Iniciativa de Migração e Deslocação da Save the Children, Steve Morgan, “a escala da crise é enorme e cresce rapidamente. É uma tempestade perfeita que devemos conter, antes que seja demasiado tarde”. Segundo o mesmo, até mesmo o panorama das migrações mudaram, sendo que, anteriormente, as mudanças de clima costumavam provocar deslocações de curta duração e as famílias regressavam após a catástrofe natural acontecer mas, atualmente, devido à grande frequência destes fenómenos e a condições atmosféricas mais extremas, as migrações passaram a ser permanentes e muitas famílias acabam mesmo por abdicar das suas casas a procurar segurança e estabilidade noutros lugares.

Estas notícias e estes testemunhos trazem mais urgência em alterar a nossa pegada ecológica e hábitos, pois muitas das respostas atuais são escassas e não rápidas o suficiente para combater a velocidade das alterações observadas no nosso planeta.

 

Tomás Silva

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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